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O que determina uma boa cerveja? 'Lei da pureza' alemã completa 500 anos

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Imagem: Divulgação

Marcelo Crescenti

De Frankfurt para a BBC Brasil

19/01/2016 18h15

Os alemães festejam neste ano os 500 anos da chamada "lei da pureza da cerveja". Há meio milênio, ela determina o que uma boa cerveja alemã deve conter e, ainda hoje, é seguida à risca pela maioria dos produtores do país.

Essa lei promulgada em 1516 na Baviera é considerada a regulamentação mais antiga do setor alimentício ainda em vigor no mundo e se baseia em um decreto do duque Guilherme 4º da Baviera, que visava proteger os consumidores da época de produtos feitos com ingredientes tóxicos.

Por isso, em 23 de abril, dia em que foi promulgado esse documento, chamado localmente de "Reinheitsgebot", será festejado em todo o país o "Dia da Cerveja".

Este é um dos orgulhos da indústria cervejeira alemã, que alega produzir a bebida mais pura do mundo. A data vai ser comemorada com festas por todo o país, principalmente no sul, onde a lei foi originalmente promulgada e onde se bebe mais cerveja do que no norte da Alemanha.

Além das festas, estão planejados shows, mostras itinerantes sobre a história da cerveja na Alemanha e até um grande festival de três dias em Munique, em julho, quando mais de cem cervejarias servirão seus produtos e mostrarão o processo de produção.

Regulamentação

Há 500 anos, o consumo de cerveja já era muito difundido na Alemanha. No entanto, a produção não era regulamentada. Muitos produtos ilegais continham ingredientes tóxicos como beladona, papoula ou rosmarinho silvestre.

O decreto de Guilherme 4º valia originalmente só na região da Baviera, mas acabou sendo adotado em todas as regiões do país. A lei impunha penas severas para quem a desrespeitasse.

Até hoje, a cerveja feita na Alemanha se limita, por lei, a quatro ingredientes básicos - além de água, malte de cevada e lúpulo a levedura de cerveja também foi incluída na lista com o passar dos anos.

No entanto, nem toda cerveja consumida na Alemanha respeita o Reinhaitsgebot. Em 1987, os alemães tiveram que se curvar à pressão da União Europeia e liberar a importação de cervejas que não seguem a lei da pureza, para não prejudicar o livre comércio entre os países-membros.

Desde então, a produção de cervejas com outros ingredientes é permitida na Alemanha. É necessário, no entanto, obter uma autorização especial para fazê-lo.

"Só uma parte minúscula da produção alemã não segue a lei, algo como 0,001%", diz Lothar Ebbertz, presidente da associação de cervejarias da Baviera.

Consumo

Mas há quem não dê tanto valor assim à lei da pureza, como Sandra Ganzenmueller, sommelier especializada em cervejas e porta-voz da associação do setor na Alemanha, com sede em Munique.

Ela diz à BBC Brasil que tecnicamente a limitação aos conteúdos originais em si não melhora nem piora o sabor da cerveja. "O importante é que seja uma bebida harmoniosa, mesmo que tenha ingredientes adicionais", afirma a especialista.

Algumas marcas oferecem cerveja com gosto de banana, cereja ou gengibre, e a popularidade dessas bebidas está crescendo na Alemanha, assim como no Brasil e em outras partes do mundo.

"Quanto mais variedade de cervejas existir no mercado, melhor para o consumidor", diz Ganzenmueller, que vê com simpatia a proliferação de microcervejarias no país, que não seguem à risca as antigas receitas.

Há mais de 1,3 mil cervejarias na Alemanha, que produzem cerca de 95 milhões de hectolitros por ano - 85% da produção é consumida no próprio país.

O consumo de cerveja caiu nos últimos dez anos de 116 para 106 litros por pessoa por ano. No entanto, os alemães continuam entre os maiores bebedores de cerveja do mundo em termos de consumo per capita - ranking que costuma ser liderado pela República Tcheca.