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Putin é corrupto, afirma representante do Tesouro dos EUA

O presidente da Rússia, Vladimir putin, discursa na abertura da COP-21 - Efe
O presidente da Rússia, Vladimir putin, discursa na abertura da COP-21 Imagem: Efe

25/01/2016 19h34

Um representante do Tesouro dos Estados Unidos afirmou à BBC que considera o presidente da Rússia, Vladimir Putin, corrupto.

O governo norte-americano já havia imposto sanções econômicas a assessores de Putin, mas acredita-se que essa seja a primeira vez que ele é diretamente acusado de corrupção (ainda que informalmente) nos EUA.

O porta-voz do presidente russo respondeu à BBC que "nenhuma dessas questões ou assuntos precisam ser respondidos, uma vez que não passam de pura ficção".

Na semana passada, um inquérito público no Reino Unido concluiu que Putin "provavelmente" aprovou o assassinato do ex-espião Alexander Litvinenko.

Litvinenko, um ex-agente do Serviço Federal de Segurança da Rússia e um crítico feroz de Putin, foi envenenado com polônio radioativo em Londres, em 2006.

Riqueza secreta

Adam Szubin, que supervisiona as sanções aplicadas pelo Tesouro dos Estados Unidos, disse ao programa BBC Panorama que o presidente russo é corrupto e que o governo americano sabe disso há "muitos, muitos anos".

Ele afirmou: "Nós o temos visto enriquecer amigos, aliados próximos e marginalizando aqueles que ele não vê como seus amigos usando, para isso, bens do Estado. Seja a riqueza energética da Rússia, sejam outros contratos estatais, ele os direciona para aqueles que acredita que o servirão e exclui (os demais). Para mim, esse é o retrato da corrupção".

O governo americano impôs sanções contra uma série de pessoas ligadas ao Kremlin em 2014 e afirmou que Vladimir Putin tinha investimentos secretos no setor de energia. Os americanos, porém, não o acusaram diretamente de corrupção.

As sanções - depois ampliadas para incluir mais pessoas e organizações - coincidiram com outras medidas similares aplicadas contra a Rússia pelos EUA. O gatilho para as medidas foi a anexação da Crimeia pelos russos durante o período de turbulência política na Ucrânia.

Autoridades americanas têm relutado em dar entrevistas sobre a riqueza de Putin, mas Szubin concordou em falar ao programa de jornalismo investigativo da BBC sobre o tema.

Ele não comentou um relatório secreto da CIA, de 2007, que afirmava que Putin teria uma fortuna avaliada em US$ 40 bilhões (R$ 164 bilhões). Mas afirmou que o presidente russo vem acumulando recursos secretamente.

"Ele supostamente tem um salário de algo como US$ 110 mil (R$ 451 mil) anuais. Isso não reflete exatamente sua riqueza, e há um bom tempo ele vêm treinando e praticando formas de mascarar sua real fortuna."

O Kremlin nega as acusações. Em 2008, Putin pessoalmente refutou afirmações de que ele era o homem mais rico da Europa: "Isso é simplesmente um lixo".

Offshore

O BBC Panorama conversou com pessoas que eram próximas ao governo russo que afirmaram ter conhecimentos dos ganhos secretos do presidente russo.

Dmitry Skarga, que dirigia a companhia estatal de navegação Sovcomflot, afirma que orientou a transferência de um iate de US$ 35 milhões (R$ 143 milhões) a Putin.

Ele diz que o barco Olympia, de 57 metros, foi um presente do bilionário russo Roman Abramovich, dono do clube de futebol britânico Chelsea.

"É fato que o senhor Abramovich, por meio de um empregado, transferiu um iate a Putin", conta. "Eu estava a bordo desse iate no fim de março de 2002, em Amsterdã. E havia um representante do senhor Abramovich (...) que disse que ele era o dono do iate."

Skarga afirma que o Olympia foi dado ao presidente russo por meio de uma offshore (companhia criada fora do país de seu dono). Ele diz ter supervisionado a administração do iate para Putin e preparou relatórios sobre os custos de gestão da embarcação.

"Esse iate foi mantido e gerido com recursos do Estado", afirma.

Segundo Skarga, o barco foi mantido em segredo porque pertencia pessoalmente a Putin, e não ao país.

O programa BBC Panorama questionou Abramovich sobre o iate. Seus advogados refutaram as acusações, que classificaram como especulações e rumores.

Putin recusou ser entrevistado.