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Cinco lições do primeiro round das eleições americanas

Donald Trump e Ted Cruz, os dois republicanos mais bem votados em Iowa - Robyn Beck/AFP
Donald Trump e Ted Cruz, os dois republicanos mais bem votados em Iowa Imagem: Robyn Beck/AFP

Anthony Zurcher

Repórter da BBC na América do Norte

02/02/2016 10h59

A corrida pelas nomeações dos partidos Republicano e Democrata teve seu pontapé inicial com as prévias de Iowa, realizadas nesta segunda-feira.

Em alguns casos, os resultados confirmaram o que era esperado. Mas, em outros, eles mudaram completamente a narrativa que vinha sendo construída até aqui na corrida para definir os candidatos à Presidência dos Estados Unidos.

Veja cinco coisas que aprendemos após a votação:

1. Donald Trump não é intocável


Nos últimos meses, parecia que ninguém ameaçava o magnata de Nova York. Qualquer coisa que ele fazia, não importava o quão questionável fosse, aumentava sua popularidade entre os eleitores conservadores.

Mas isso chegou ao fim. Apesar de liderar nas pesquisas de intenção de votos em Iowa nas últimas semanas, Trump perdeu para o rival Ted Cruz, que conseguiu uma sólida vitória. No final, o tão anunciado grupo de novos eleitores de Trump não apareceu para votar em peso, como se esperava, e a base de Cruz, que tem um forte apoio evangélico, pesou.

Isso não significa o fim para Trump. Ele lidera com ampla vantagem as pesquisas de opinião em New Hampshire - próximo Estado a ter prévias -, onde os eleitores conservadores muitas vezes apoiam o "azarão", e pode se dar bem nas primárias do Sul, que ocorrem em seguida. Mas a ideia de que Trump poderia nocautear logo nos primeiros rounds os outros candidatos na disputa pela indicação, porém, foi afastada.

2. Ted Cruz veio para ficar

Se Cruz tivesse perdido em Iowa, isso seria uma derrota arrasadora em sua campanha. Ele mesmo tinha criado uma grande expectativa de vitória e via este momento como prova de que conseguiria unir - dentro do Partido Republicano - evangélicos, liberais e membros da base do Tea Party.

Pelo visto, essa coalizão existe - e deve voltar a aparecer depois de New Hampshire, quando a Carolina do Sul e outros Estados do Sul fazem suas primárias.

Cruz tem cerca de US$ 20 milhões em dinheiro de campanha na mão e comitês de apoio político com ainda mais recursos. Ele construiu uma máquina que consegue operar por todo o calendário da campanha pela indicação do partido e, se necessário, travar uma disputa com Trump ou Rubio, o candidato dos figurões do partido.

Em seu discurso de vitória na segunda-feira, Cruz deu crédito à sua base, mas também mostrou uma versão mais moderada de si mesmo. Ele terá de convencer seu partido de que é o candidato que pode vencer os Democratas em novembro. Vencer em Iowa foi o primeiro passo.

Entenda as primárias e a votação na eleição dos EUA

AFP

3. Marco Rubio deu esperança ao 'establishment'

O discurso do senador da Flórida Marco Rubio na noite de segunda parecia mais uma celebração do que um reconhecimento de derrota - ele terminou em terceiro lugar.

Ao ficar com 23% dos votos, no entanto, Rubio contrariou expectativas pré-votação.

Agora ele está bem posicionado para crescer em New Hampshire, com a possível adesão de eleitores que tentam parar 'outsiders' como Cruz e Trump.

Os resultados de Iowa eram exatamente o que candidatos como Chris Christie, o ex-governador da Flórida Jeb Bush e o governador de Ohio John Kasich não queriam.

Eles apostaram todas as suas fichas em New Hampshire, onde agora terão de peitar um candidato que tem os ventos do partido a seu favor.

Rubio não aparece bem nas pesquisas dos próximos Estados, mas isso pode mudar rapidamente. E mesmo se sofrer revezes nos Estados do Sul que farão a votação depois de New Hampshire, é provável que tenha recursos para travar uma longa batalha pela nomeação.

4. Os democratas estão em uma disputa acirrada

A esta altura, não parece surpresa que o senador de Vermont Bernie Sanders e a antiga secretária de Estado Hillary Clinton tenham terminado quase empatados em Iowa (agências de notícias apontaram que Hillary teve 49,9% e Sanders 49,5%) - as pesquisas indicavam algo parecido.

No entanto, o resultado é uma conquista para Sanders, que só marcava um dígito nas pesquisas em Iowa há seis meses.

Clinton não vai nocautear seu adversário da forma como era esperado. Em vez disso, ela enfrenta uma provável derrota em New Hampshire - onde Sanders é forte - e então uma prolongada disputa pelo país, que pode durar pelo menos até março.

Ela tem a seu favor mais financiamento e uma infraestrutura de campanha muito mais elaborada, vantagens que também tinha em Iowa.

Mas o eleitorado vai mudar - se tornando mais moderado e mais diversificado etnicamente. O cenário parece ser mais favorável a Hillary - mas uma nomeação, se ocorrer, deve demorar.

5. O número de candidatos deve cair muito

O democrata Martin O'Malley não está mais no páreo, assim com os republicanos Mike Huckabee e, provavelmente, Rick Santorum.

Na noite de segunda, surgiram boatos de que o republicano Ben Carson desistiria. Embora seu grupo político tenha negado isso rapidamente, os 9% obtidos pelo cirurgião aposentado em um Estado em que ele antes era visto como um dos favoritos podem significar que o fim está perto para ele.

Ainda entre os pré-candidatos republicanos, a ambição de Carly Fiorina está por um fio, e Rand Paul - que já foi considerado um nome viável - teve menos de 5% dos votos, muito menos que a votação de seu pai no Estado (21%) há quatro anos.

Provavelmente, a votação em New Hampshire vai diminuir esse grupo ainda mais, ameaçando o futuro de candidatos como Bush, Christie e Kasich se eles não conseguirem diminuir a força de Rubio.

A disputa republicana pela nomeação não deve acabar em breve, mas nas próximas semanas deve haver muito menos candidatos no ringue de batalha.