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O desafio de Hillary em conquistar votos de mulheres jovens nos EUA

Adrees Latif/Reuters
Imagem: Adrees Latif/Reuters

Jon Sopel

Editor da BBC para América do Norte

09/02/2016 15h47

Eleitores já estão votando nas primárias desta terça-feira no Estado de New Hampshire; uma faixa demográfica em especial, a de mulheres jovens, tem repelido a pré-candidata democrata

"Há um lugar especial no inferno para mulheres que não se ajudam mutuamente", disse recentemente a ex-secretária de Estado dos EUA Madeleine Albright em um comício em defesa da democrata Hillary Clinton, que disputa nesta terça-feira as primárias de New Hampshire às eleições americanas.

A fala buscava justamente conclamar as mulheres e as feministas a votar em Hillary num momento em que a pré-candidata democrata perde terreno para o concorrente Bernie Sanders, de 74 anos. Mas talvez a declaração acabe expondo ainda mais as dificuldades de Hillary.

A pré-candidata tem a chance de se tornar a primeira mulher presidente dos Estados Unidos, mas parte do eleitorado feminino jovem tem sido atraído pelo socialista Sanders - seja, segundo analistas e eleitores ouvidos pela imprensa local, porque talvez não se veja representado por Hillary apenas por seu gênero, ou porque se solidariza com o discurso do rival, que foca muito nos problemas econômicos enfrentados pela população mais jovem, como as dívidas de empréstimos estudantis.

No caucus de Iowa, na semana passada (quando os EUA deram início à votação primária rumo às eleições de novembro), 84% das mulheres de menos de 30 anos votaram em Sanders. Apenas 14% votaram em Hillary.

Para as primárias desta terça em New Hampshire, o cenário é ainda mais preocupante para a candidata: 92% do mesmo grupo etário afirmam que vão apoiar Sanders. Entre as mulheres de 30 a 39 anos, apenas 11% dizem pretender votar em Hillary.

Críticas

A população americana sente conhecer Hillary intimamente há muito tempo. E, assim como acontece em qualquer relação de longo prazo, esta tem seus fatores complicadores.

Para o bem ou para o mal, muitas pessoas nunca a perdoaram por ter apoiado o marido Bill Clinton durante o escândalo envolvendo Monica Lewinsky. Há quem diga que se Hillary fosse tão feminista quanto diz ser, teria abandonado o marido.

Já outras, como Madeleine Albright, afirmam que seria uma verdadeira revolução ter uma mulher no comando dos EUA.

O curioso é que a rejeição a Hillary é predominantemente entre mulheres mais jovens, que sequer se importam com o caso Lewinsky.

Algumas pessoas a odeiam por ela ser uma Clinton. Muitos homens e mulheres acreditam que os Clinton têm um modus operandi único, com o qual nenhum outro cidadão americano conseguiria se safar. Eles associam a poderosa família política a adjetivos como arrogantes, elitistas, ricos, "pegadores de atalhos" legalmente duvidosos.

Tais preocupações foram reforçadas por uma polêmica envolvendo a conta de e-mail de Hillary enquanto ela era secretária de Estado. Todas as suas mensagens passavam por um servidor privado, fato que agora é alvo de uma investigação do FBI.

É possível que outros políticos americanos tenham tido benesses semelhantes, mas o caso alimentou a narrativa do "excepcionalismo" de que os Clinton desfrutariam. Eles fazem as coisas de seu jeito - o que pode ser injusto, mas a política não é justa.

Esse cenário deixa a campanha de Hillary em dúvidas sobre os motivos da dificuldade em conquistar essa faixa demográfica.

Será que a geração atual acredita que o gênero de Hillary é irrelevante na disputa? Será que essas mulheres querem algo novo? (Claro que é difícil descrever o septuagenário Sanders como novo, mas ele era desconhecido de parte do público até seis meses atrás). Será que as pessoas anseiam por mudanças, e Sanders oferece isso mais claramente com seu receituário socialista?

E o que Hillary pode fazer a respeito? Bem, no último fim de semana, ela foi à cidade de Flint, Michigan, afetada por um escândalo de contaminação no suprimento de água que impactou mais claramente a população negra e pobre. O eleitorado afro-americano tradicionalmente apoia os Clinton, e quando as primárias chegarem aos Estados sulistas é possível que esse grupo faça a diferença em favor de Hillary.

Mas, de volta à fala de Albright citada no início do texto, Hillary foi criticada por ter dado uma sonora risada ao ouvi-la.

Para muitos, isso vai ser visto como se Hillary dissesse que qualquer mulher que apoie Sanders estaria "traindo a causa feminista".

Em geral, dizer aos eleitores que eles estão errados é uma estratégia que costuma dar errado.

Uma eleitora que se descreve feminista foi citada pelo jornal TheNew York Times dizendo que Albright e a feminista Gloria Steinem - que também pediu voto a Hillary - deveriam "ter vergonha de insinuar que, como mulher, eu deveria votar em um candidato com base apenas em seu gênero. Posso dizer que me chamar de mal informada e estúpida não é a forma de ganhar o meu voto".