Topo

Prefeito de Londres adere à campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia

Boris Johnson (esq.), prefeito de Londres, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, na cerimônia que lembrou o décimo aniversário dos atentados a bomba, na Catedral de St. Paul, em Londres - Frank Augstein/AP
Boris Johnson (esq.), prefeito de Londres, e o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, na cerimônia que lembrou o décimo aniversário dos atentados a bomba, na Catedral de St. Paul, em Londres Imagem: Frank Augstein/AP

21/02/2016 17h13

Um dos políticos mais carismáticos do Reino Unido, o prefeito de Londres, Boris Johnson, anunciou neste domingo que fará campanha pela saída do país da União Europeia, uma questão que será colocada para a população no plebiscito marcado para 23 de junho.

Ele defendeu que fazer parte do bloco está erodindo a soberania britânica e que o acordo para reformas nas regras do grupo, feito pelo primeiro-ministro, David Cameron, não trará as mudanças fundamentais que são necessárias.

Isso coloca Johnson e Cameron em lados opostos da disputa - tanto nacionalmente quanto no próprio partido, pois ambos são conservadores. Cameron pede aos cidadãos que votem pela permanência em uma UE "reformada" e afirma que deixá-la seria um "salto no escuro".

O anúncio de Johnson veio após haver uma grande especulação sobre qual seria sua posição na consulta popular.

'Assumir o controle'

Cercado por jornalistas no lado de fora de sua residência, no norte de Londres, Johnson disse que a UE é um "projeto político" que "corre um perigo real de sair do controle democraticamente".

Ele disse que a soberania - o poder do Reino Unido de governar a si mesmo - estava sendo "intensamente erodida" pelas instituições do bloco, com "muito ativismo jurídico" e leis sendo produzidas por ele.

Johnson parabenizou Cameron pelo acordo negociado com líderes europeus para mudar a relação britânica com a UE, dizendo que o premiê havia se saído "fantasticamente bem" em um curto período de tempo.

"Mas não acho que alguém pode afirmar de forma realista que isso é uma reforma fundamental da UE ou do relacionamento do Reino Unido com a UE", disse. "A meu ver... temos a chance de fazer alguma coisa. Eu tenho a chance de fazer alguma coisa."

O político acrescentou desejar que esta relação seja mais de "comércio e cooperação": "Quero um acordo melhor para as pessoas desse país, economizar seu dinheiro e assumir o controle de volta".

Ambições políticas

O prefeito de Londres é visto como um candidato em potencial para disputar a liderança do Partido Conservador, atualmente ocupada por Cameron.

Ele negou que sua decisão tenha a ver com suas ambições políticas, destacando tê-la tomado após pensar profunda e seriamente sobre o assunto, porque a última coisa que desejava era desafiar Cameron.

Johnson disse que apoiará a campanha Vote Leave, um dos dois grupos que buscam ser reconhecidos como a campanha oficial pela saída do bloco, mas descartou participar de debates na TV contra membros de seu partido.

Ao falar à BBC antes da decisão ser anunciada, Cameron fez um último apelo a Johnson para que ele apoiasse a campanha pela permanência na UE, dizendo que se ele se importa com " ser capaz de fazer coisas" no mundo, integrar UE é fundamental.

E afirmou que "andar de braços dados" com Nigel Farage e George Galloway, integrantes do movimento Grassroots Out, que também busca ser a campanha oficial pela saída da UE, era "dar um passo no escuro e na direção errada para nosso país".

Cameron defendeu que o Reino Unido é "melhor, mais seguro e mais forte" como parte do grupo e que deixar um bloco com 28 membros pode dar a "ilusão de soberania", mas, na verdade, enfraqueceria o poder e a influência britânicos.

Carisma

No entanto, o argumento não foi suficiente para convencer Johnson, que se junta a outros seis ministros do gabinete do governo que apóiam a saída.

Entre eles, estão os secretários de Trabalho e Pensões, Iain Duncan, e de Justiça, Michael Gove. Zac Goldsmith, que espera ser o sucessor de Johnson, também anunciou ser contra a permanência.

Alguns apoiadores da campanha pela saída haviam dito que esperavam que Johnson se tornasse a principal figura dela, por ser capaz de atingir grandes grupos de eleitores de uma forma que muitos outros políticos não conseguem.

Johnson é um dos políticos mais carismáticos do Reino Unido e seu apoio de fato dá a imagem que a campanha pela saída ainda não tinha, diz o editor de política interino da BBC News, James Landale.

Pesquisas indicam que sua voz será ouvida por muitos ao decidirem. "Ele está testando seu apelo em escala nacional em uma disputa de importância histórica. E isso importa, porque Johnson pode ser primeiro-ministro algum dia", afirma Landale.

Ao apoiar a campanha pela saída, Johnson conquistará o apoio de muitos conservadores, que escolherão o sucessor de Cameron. Johnson negou ter planejado desta forma.
"Mas muitos membros do partido - em ambos os lados da disputa - desconfiam de seus motivos e suspeitam que ele esteja agindo mais em interesse próprio do que em nome do país", diz Landale.