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Visita de princesa faz país gastar US$ 40 mil em banheiro que nem sequer foi usado

A princesa da Tailândia, Maha Chakri Sirindhorn, em visita ao Camboja - Samrang Pring/Reuters
A princesa da Tailândia, Maha Chakri Sirindhorn, em visita ao Camboja Imagem: Samrang Pring/Reuters

23/02/2016 14h18

Um luxuoso banheiro construído para atender às exigências da princesa da Tailândia, Maha Chakri Sirindhorn, causou um escândalo no sul da Ásia.

A princesa visita o Camboja por três dias para inaugurar um centro de saúde e participar de um jantar com o rei Norodom Sihamoni e, durante esse período, teve à sua disposição um banheiro que custou US$ 40 mil (cerca de R$ 158 mil), construído especialmente para ela.

As instalações estavam localizadas nas imediações do lago Yeak Lom, na província de Retanakiri, onde a princesa cumpriu duas horas de compromissos oficiais. Mas a construção desse "luxo" provocou indignação nos moradores, que reclamaram de tamanho investimento em um banheiro quando a população tem necessidades mais urgentes - mais de 60% da população rural cambojana não tem acesso a saneamento básico.

Para aumentar a polêmica, a imprensa local noticiou que a princesa sequer usou o banheiro durante a visita, apenas fotografou-o.

Autoridades locais alegam, porém, que a infraestrutura foi desmontada e que seus custos foram bancados pela família real tailandesa.

Segundo informações do jornal Cambodia Daily, o banheiro tinha cerca de oito metros quadrados e sua obra foi feita em duas semanas pela empresa Siam Cement Group (SCG) com materiais exclusivamente tailandeses.

"Gastaram mais de US$ 40 mil na construção", afirmou Vem Churk, chefe do comitê do lago Yeak Lom, citando as cifras que foram fornecidas por funcionários da SCG.

Tin Luong, o chefe da comunidade, porém, disse que a construção deve ter custado entre US$ 20 mil e US$ 30 mil e destacou que "os materiais utilizados são muito modernos".

'Insulto'

A notícia do "investimento" feito no banheiro gerou reações diversas no Camboja, um país com graves problemas de saneamento.

Segundo informações do Ministério da Educação de Camboja, aproximadamente 33% das escolas do país sequer têm instalações sanitárias.

Em zonas rurais, como Ratanakiri, segundo organizações não governamentais citadas pelo jornal britânico The Guardian, a porcentagem é ainda maior: 80% das escolas não têm essas instalações.

"Os membros da realeza tailandesa sempre tentam criar a impressão de que levam uma vida simples e de que priorizam o povo, mas a construção desse banheiro tão caro no Camboja mostra a desconexão entre a propaganda real e a realidade", disse ao Cambodia Daily o jornalista Andrew MacGregor Marshall.

Ele, que também é autor do livro Um Reino em Crise: A Luta da Tailândia pela Democracia no Século 21, considerou a construção do banheiro um "insulto ao povo do Camboja".