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Público cresce e protesto em SP ganha abadás, área VIP e cover de Bon Jovi

Ricardo Senra - @ricksenra

Da BBC Brasil em São Paulo

14/03/2016 09h38

Não foi só a adesão aos protestos antigoverno que cresceu neste domingo (13). Para entreter o público em São Paulo (500 mil, segundo o Datafolha, ou 1,4 milhão, para a PM), os organizadores levaram à avenida Paulista uma estrutura sem precedentes – incluindo milhares de abadás, shows de rock ao vivo e o mesmo trio elétrico usado por Ivete Sangalo no Carnaval de Salvador.

 
Este foi o maior maior protesto já registrado na capital paulista, superando as Diretas Já, realizado em 1984. Diferente dos antigos recordistas, entretanto, o protesto deste fim de semana apostou em música (de Bon Jovi a Cazuza), convidados famosos (de Regina Duarte a Alexandre Frota) e efeitos especiais (como canhões de luz e fumaça verde e amarela) para garantir o engajamento do público.
 
Debutando na Paulista, o carro do partido Solidariedade, do deputado federal Paulinho da Força, contratou três puxadores de escola de samba para lançar o "Bloco Fora Dilma" – com distribuição gratuita de 10 mil abadás cor de laranja, ilustrados com uma caricatura da presidente.
 
Bebendo latas de cerveja Skol (a R$ 6) e cantando o samba-enredo anti-PT ("roubaram muito, e ainda acham pouco, deixando o povo com a corda no pescoço"), um grupo de mulheres comemorava. "Tá melhor que a Vila Madalena" – em referência ao carnaval do bairro boêmio paulistano.
 
A BBC Brasil conversou com David Martins de Carvalho, presidente estadual do Solidariedade, partido que contratou a festa – e não divulgou valores. "Trouxemos (os abadás) porque queremos um protesto alegre e o Carnaval é sinônimo de alegria", disse.
 
Questionado se a "carnavalização" poderia esvaziar o tom político do protesto, Carvalho disse que o importante é o bom humor. "O povo gosta, olha aí", disse enquanto apontava para o grupo de jovens que preferia a Paulista à Vila Madalena.
 

'Imprensa e convidados'

 
Cupcakes dos protestos - Ricardo Senra/BBC - Ricardo Senra/BBC
Mulher personalizou cupcakes com imagens de Fora, PT e do "japonês da Federal"
Imagem: Ricardo Senra/BBC
Com a avenida mais cheia do que nunca, o acesso aos carros dos principais organizadores – Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Revoltados Online – era tumultuado.
"Só imprensa e convidados", repetia como num mantra a recepcionista do MBL, cercada de seguranças, enquanto a multidão pedia para entrar na área reservada a políticos e autoridades. Quando a reportagem se apresentou, foi imediatamente convidada – "É imprensa internacional? Pode vir".
 
Havia três ambientes principais no carro alegórico. No térreo, em frente a uma parede reservada a fotografias, repleta de logotipos do MBL, uma mesa com garrafas d'água, maçãs e barrinhas de cereal abastecia os visitantes. Quem quisesse ir além do básico podia experimentar cupcakes (bolinhos tradicionais nos Estados Unidos) personalizados com o rosto do "japonês da Polícia Federal" ou com a estrela partida do Partido dos Trabalhadores.
 
"Fiz para ajudar o movimento", contou a criadora. "Pedimos uma doação de R$ 20 por bolinho. O cupcake em si é grátis."
 
Dentro do carro, sob uma parede de vidro escurecido, o empresário e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo João Dória (PSDB) e o senador Ronaldo Caiado (DEM) tiravam selfies com os convidados. "Eu, pessoalmente, gostaria que convocassem novas eleições", disse o senador à BBC Brasil.
 
"Não temos certeza da autonomia do PMDB em relação ao PT. O importante é que a Dilma caia."
 
O terceiro ambiente era reservado aos mestres de cerimônia, como o estudante de Direito Kim Kataguiri e o ativista Renan Santos.
 
Kataguiri comentou o pedido de prisão preventiva de Lula pelo Ministério Público de São Paulo. "Não foi só a confusão Hegel e Engels. O pedido de prisão preventiva tem muitas falhas. Trata-se de um ex-presidente, isso é coisa séria e tem que ser levado a sério", disse, minutos depois de ver os tucanos Geraldo Alckmin, governador de SP, Aécio Neves, senador por MG, passando ao lado do carro.
 
"É bom ver que essa oposição, que no início dizia que era contra o impeachment, perceber que estavámos certos desde o começo", sorriu Kataguiri, prometendo que nas eleições que vem o movimento terá representantes em partidos como PSDB, DEM e outros.
 

'Solta o hino, DJ'

 
Mas o epicentro da pirotecnia na avenida Paulista era o carro do grupo Revoltados Online, onde se encontraram o ator Alexandre Frota, a atriz Regina Duarte e o presidente do PRTB e ex-candidado à presidência Levy Fidelix.
 
"Dilma e Temer vão cair, vão convocar novas eleições e eu serei candidato", fez questão de dizer o último quando encontrou a reportagem.
 
No alto do trio elétrico de 25 metros de comprimento – e contratado por R$ 50 mil, segundo a BBC Brasil apurou –, Frota e Fidelix dividiam espaço com uma banda de rock completa (dois guitarristas, bateria, baixo e vocalista). No set list apresentado pelos músicos, canções como A Kind of Magic, do Queen, You Give Love a Bad Name e Born to be my Babe, de Bon Jovi, e Every Breath you Take, do Police.
 
"Estão reclamando que só tocamos música estrangeira. Vamos tocar uma brasileira então", bradou Marcello Reis, fundador do Revoltados Online, pelo microfone. "Solta o hino nacional, DJ", completou, em parte aplaudido pela multidão – muitos ficaram frustrados com a interrupção de Dream On, da banda Aerosmith.
 
À reportagem, Reis contou que o trio elétrico é o mesmo usado por Ivete Sangalo no carnaval baiano. "É uma mansão sobre rodas. Tem elevador, ar condicionado, dois telões e as caixas de som mais potentes do Brasil."
 
O mesmo movimento – que se financia por doações e venda de camisetas como a que diz "Homer Simpson para Presidente" e "100% Anticomunismo" (R$ 50) – também investiu em bonecos infláveis gigantes ironizando Lula e a presidente Dilma.