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'Falei para chamar atenção', diz deputado ao justificar o voto pela 'paz em Jerusalém'

Segundo Ronaldo Fonseca (PROS-DF), votação não era "momento para debate"; ele alega que governo do PT "virou as costas para Israel" - Agência Câmara
Segundo Ronaldo Fonseca (PROS-DF), votação não era "momento para debate"; ele alega que governo do PT "virou as costas para Israel" Imagem: Agência Câmara

Luís Barrucho

Da BBC Brasil em Londres

20/04/2016 12h53

Ao votarem pela saída da presidente Dilma Rousseff no último domingo, poucos deputados fizeram referência às chamadas "pedaladas fiscais", base do processo de impeachment.

Em vez disso, optaram por argumentos variados. O deputado federal Ronaldo Fonseca (PROS-DF) foi um deles. Ele justificou o voto a favor do impedimento da petista pela "paz em Jerusalém".

Nas redes sociais, muitos usuários não entenderam a correlação entre o impeachment da presidente e o fim do conflito entre israelenses e palestinos.

A BBC Brasil ouviu Fonseca para entender por quê.

BBC Brasil - Por que o senhor votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff?

Fonseca - Fui membro da comissão especial do impeachment e acompanhei todo o debate. Tenho convicção de que a presidente Dilma cometeu crime. Ela feriu a responsabilidade fiscal. Se houve crime, não vejo motivo pelo qual ela não sofra impeachment, que está previsto na Constituição.

BBC Brasil - Mas por que, então, o senhor não mencionou tudo isso em seu voto?

Fonseca - Porque tínhamos apenas dez segundos para declarar o voto. Mencionei que estava convencido do crime. E que havia amparo da Constituição. O debate não era para ser feito naquele momento. Aquele momento era o do 'sim' ou o do 'não'. O objetivo não era para convencer ninguém sobre crime nenhum. Os deputados utilizam aquele momento para, além de dizer 'sim' ou 'não', fazer algum destaque que ache interessante para a população. Ali não é lugar de debate.

BBC Brasil - Por que o senhor optou, então, por dar destaque à "paz em Jerusalém"?

Fonseca - O governo do PT virou as costas para Israel. Eles priorizaram os árabes. A única vez que um presidente da República foi ao Oriente Médio e não pisou em Israel foi o presidente Lula. A presidente Dilma rejeitou um embaixador indicado por Israel só porque ele foi colono na Palestina, na Faixa de Gaza (Dani Dayan foi líder dos colonos na Cisjordânia). O governo do PT priorizou os guerrilheiros, priorizaram Cuba, Venezuela. A presidente Dilma fez defesa até do Estado Islâmico (em realidade, na época dos ataques em Paris, a presidente criticou a "barbárie da organização terrorista Estado Islâmico"). Falei para chamar atenção mesmo.

BBC Brasil - Por que o senhor acredita que o atual governo agiu errado no Oriente Médio?

Fonseca - Israel sempre foi aliado do Brasil. O embaixador na ONU que deu o voto de minerva para a criação do Estado de Israel foi brasileiro (Osvaldo Aranha). O Brasil tem uma cultura judaico-cristã. Oitenta e cinco por cento da população brasileira tem essa cultura. Por que virar as costas a Israel? E defender os países árabes? Eu quero a paz em Jerusalém, eu quero a paz na Faixa de Gaza e eu quero a paz em Oriente Médio.

BBC Brasil - Mas o que a paz em Jerusalém tem a ver com o impeachment da presidente?

Fonseca - Impeachment só pode ter se ela cometeu crime. O fato de ela ter virado as costas para Israel não é motivo de impeachment, mas é motivo de crítica.

BBC Brasil - Se não é motivo de impeachment, por que o senhor justificou o voto dessa forma?

Fonseca - Como crítica. Fiz questão de salientar a Constituição Federal. Já havia dado o voto, por que não poderia criticar?

BBC Brasil - Nas redes sociais, contudo, a justificativa do senhor não foi bem recebida. Como o senhor reagiu?

Fonseca - Entendi como uma crítica. Isso é normal na crítica. Quem não souber conviver com a crítica, tem de ir para a ditadura. Eu queria realmente chamar atenção e alcancei meu objetivo. Queria chamar atenção para o fato de o Brasil dar as costas a Israel. A crítica faz bem para a democracia. Se for criticado, tenho de aceitar a crítica e tocar o mandato.

BBC Brasil - O senhor acredita que se a presidente Dilma sofrer o impeachment, a paz em Jerusalém será atingida?

Fonseca - Sim. Por que não? Porque o Brasil não pode ser um instrumento de paz? O Brasil sempre foi um instrumento de paz. O governo do PT quebrou isso, priorizando Cuba e Venezuela. Isso depõe contra nós, ficamos pequenos, nos diminuímos demais. E Jerusalém é vista pelo mundo todo. Os jornais quase todos os dias falam do Oriente Médio. Os Estados Unidos têm uma aliança muito forte com Israel. Brasil precisa mudar a política externa. Acredito que um novo governo, com o impeachment da presidente, vá contribuir para que haja paz em Jerusalém e paz no Brasil.

Veja o placar do impeachment por Estado

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