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Por que intervenção de Obama sobre UE provocou tanta polêmica no Reino Unido?

John Stillwell/Reuters
Imagem: John Stillwell/Reuters

23/04/2016 10h40

Na tarde desta sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama deu uma entrevista coletiva em Londres em que defendeu abertamente a permanência do Reino Unido na União Europeia - em 23 de junho, o país vai às urnas em um plebiscito para decidir entre ficar ou deixar o bloco de 28 nações.

Se a manifestação política já deveria criar algum furor, Obama aumentou a controvérsia ao afirmar que, em caso de uma separação, os britânicos não poderia esperar tratamento diferenciado por parte de Washington, em especial nas possíveis negociações de um acordo comercial bilateral.

Integrantes da campanha pela saída da UE, que incluem ministros do governo do premiê David Cameron, criticaram duramente o presidente americano pelo que consideraram desrespeito ao Reino Unido. O prefeito de Londres, Boris Johnson, um dos mais famosos defensores da cisão, e colega de Cameron no Partido Conservador, acusou Obama se apresentar argumentos incoerentes - o presidente também publicou um artigo no jornal Daily Telegraph.

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"Se os EUA jamais entraram em algum bloco como a União Europeia, porque acham que isso é bom para os outros", disse Johnson.

Em visita oficial ao Reino Unido, Obama, que deixará o governo em janeiro não hesitou em endossar os defensores da permanência, defendendo a tese de ficar na UE é também melhor para os interesses britânicos. Cameron, que faz campanha pela continuidade da presença britânica no bloco, também foi criticado pelo uso do presidente americano como um cabo eleitoral de luxo.

"Obama está trabalhando para Cameron. Isso é vergonhoso", disse Nigel Farage, político ligado ao UKIP, partido que tem a saída da UE como uma de suas principais plataformas.

O problema é que o assunto traz à tona as tensões entre dois países com uma longa história. Ex-colônia britânica, os Estados Unidos ao longo do Século 20 ultrapassaram o Reino no que diz respeito à relevância geopolítica. E embora tenham um relacionamento forte em uma série de áreas, incluindo defesa, intervenções mais políticas são raras e invariavelmente controversas.

"Não sei porque temos de aceitar que os americanos nos recomendem algo que eles mesmo não fazem", disse o ex-ministro da Defesa de Cameron, Liam Fox, referindo-se ao fato de que a UE tem liberdade de movimentação para pessoas de países do bloco, ao contrário do que fazem os americanos com as populações de México e Canadá.

Obama justificou a intervenção dizendo que era melhor para os britânicos ouvirem diretamente do presidente a opinião dos EUA. "Parece-me que alguns defensores da saída do Reino Unido têm falado sobre o que os americanos vão fazer no futuro. Achei que vocês (os jornalistas) iam preferir ouvir do presidente o que poderá acontecer", disse ele na sexta.

Mas a controvérsia envolvendo Obama não parou aí: Boris Johnson está sendo criticado por um artigo publicado no tablóide The Sun por ter se referido ao fato de o pai de Obama ter nascido no Quênia, uma ex-colônia do Reino Unido na África, como argumento para acusar o presidente americano de sentimentos antibritânicos. Johnson, inclusive, disse que isso motivou Obama a retirar do Salão Oval da Casa Branca um busto do ex-premiê britânico Winston Churchill, uma das maiores lideranças políticas na Segunda Guerra Mundial.

O prefeito de Londres foi acusado de racismo por políticos de oposição. E ainda teve que ouvir Obama contar que, além de ainda haver um busto do líder nos jardins da residência oficial, em Washington, o presidente quis fazer uma homenagem ao líder negro Martin Luther King Jr, mártir da luta pelos direitos civis nos EUA, e cuja estátua agora ocupa o Salão Oval.