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Inimigos na 2ª Guerra, Japão e Rússia ainda não firmaram um tratado de paz

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o presidente russo Vladimir Putin, em encontro na Rússia em 2013 - Eric Feferberg/Afp
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o presidente russo Vladimir Putin, em encontro na Rússia em 2013 Imagem: Eric Feferberg/Afp

07/05/2016 20h37

Mais de 70 anos depois da rendição japonesa em 15 de agosto de 1945, Rússia e Japão ainda não firmaram um tratado após o fim da Segunda Guerra Mundial. E o motivo tem nome: Iturup, Kunashir, Shicotán e Jabomai.

As quatro ilhas do Pacífico foram tomadas por tropas soviéticas em 1945, e o Japão diz que elas são suas.

Essa disputa por uma área, chamada pelos russos de "Curilas do Sul" e pelos japoneses de "Territórios do Norte", impede a aproximação e a cooperação entre os dois países.

Nesta sexta-feira, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, visitou o presidente russo, Vladimir Putin, em sua residência de férias em Sochi, e entre os objetivos do encontro estava fazer avançar um acordo sobre estes territórios.

Mas não é uma tarefa fácil.

História controversa

O arquipélago das Curilas é formado por 56 ilhas que vão desde a ilha japonesa Hokkaido até a russa Sajalín.

Desde os séculos 17 e 18, quando foram exploradas pela Rússia czarista, elas mudaram de mãos várias vezes. Em 1855, Rússia e Japão firmaram o Tratado de Shimoda, que dava aos japonses soberania sobre as quatro ilhas, enquanto Moscou ficava com as outras mais ao norte.

No início da Segunda Guerra, 17 mil japoneses viviam nas ilhas. Em 1949, quatro anos depois de cair sob o controle soviético, todos os residentes japoneses haviam sido deportados.

Ao firmar o Tratado de Paz de São Francisco, em 1951, com os Aliados, Tóquio renunciou a seus direitos sobre as "ilhas Curilas".

Isso não resolveu nada, porque a União Soviética não assinou este tratado e porque o Japão nunca reconheceu que as quatro ilhas em questão fazem parte do arquipélago.

Em 1956, japoneses e soviéticos reetabeleceram suas relações diplomáticas, mas continuaram sem um tratado de paz, por causa do conflito territorial.

A Rússia sugeriu devolver as duas ilhas mais ao sul, mas o Japão recusou, porque elas representam só 7% do território em disputa.

Obstáculos à paz

Um obstáculo ao acordo de paz é o fato de o Japão exigir antes a devolução das quatro ilhas, e Moscou se recusa.

Após a desintegração da União Soviética, os dois países chegaram a se comprometer com um tratado para o ano 2000, mas nunca cumpriram a promessa.

Em 2001, Putin e o então premiê japonês Yoshiro Mori se reuniram na Sibéria e anunciaram o início de uma nova etapa nas relações, mas não conseguiram progressos nesta questão.

Há três anos, os dois países voltaram a dizer que trabalhariam nela, mas ainda não fecharam um acordo. E, agora, a relação volta a ter rusgas, após o Japão considerar uma afronta a construção de instalações mais modernas para as tropas alocadas nas ilhas e a visita do primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev aos territórios, habitados por cerca de 19 mil russos.

Outra dificuldade é o potencial econômico das ilhas, pois são rodeadas por áreas férteis para pesca, e acredita-se que tenham reservas de petróleo e gás em alto mar. O turismo é outra fonte de receita em potencial, por causa dos vulcões na área e sua variedade de aves.

Avanço à vista?

No entanto, a conjuntura atual tem elementos que favorecem um avanço.

Depois do acidente nuclear e Fukushima, o Japão vem buscando alternativas à energia nuclear e querendo diversificar suas fontes de hidrocarbonetos para reduzir sua dependência do Oriente Médio - e a Rússia é um fornecedor de energia global.

Isso também seria atraente para Moscou, que está com as finanças em crise com a queda dos preços do petróleo e pelas sanções impostas pelo Ocidente após a anexação da península da Crimeia, alvo de uma disputa com a Ucrânia, apoiada pelas potências ocidentais.

Como membro do G7, grupo que reune as nações mais industrializadas do mundo, o Japão participou das sanções impostas à Rússia, por isso a visita de Abe favorece Putin, ao diminuir a impressão de que o presidente russo está ilhado politicamente.

No mês passado, Putin celebrou o anúncio da visita do premiê japonês e destacou que isso ocorreria apesar da "pressão de seus sócios, especialmente dos Estados Unidos".

Após o encontro entre os dois chefes de Estado, o ministro de Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, disse que ambos "confirmaram sua disposição de desenvolver um diálogo político intenso".

Ele informou que Abe confirmou que Putin fará uma visita ao Japão e que o presidente russo convidou Abe para participar de um fórum econômico em Vladivostok em setembro.

Além disso, Lavrov anunciou que, em junho, começarão as consultas entre os ministérios de Relações Exteriores de ambos os países sobre um possível tratado de paz - e, assim, fazer com que Rússia e Japão deixem para trás uma disputa territorial que se arrasta há mais de sete décadas.