Topo

Jornalista da BBC faz reportagem na Coreia do Norte e é expulso; veja

Rupert Wingfield-Hayes

Da BBC News, na Coreia do Norte

10/05/2016 16h01

O mal-humorado funcionário da imigração usa um quepe um pouco ridículo e grande demais, semelhante aos usados na época da União Soviética, o que faz dele uma figura cômica.

"Abra!", ele ordena, apontando para meu telefone celular.

Eu coloco a senha e ele imediatamente pega o aparelho e abre o aplicativo de fotos. Ele vê fotos dos meus filhos esquiando, cerejeiras japonesas e prédios em Hong Kong.

Aparentemente satisfeito, ele volta sua atenção para a minha mala. “Livros?”, pergunta. Não, não tenho livros. “Filmes?” Não, nada de filmes. Sou então enviado para outra mesa, onde uma senhora um pouco menos rude já olha para meu laptop.

Enquanto assisto, o processo se repete com turistas russos, um empresário tailandês e um grupo de japoneses-coreanos. Tudo parece intimidador, e talvez seja esta a intenção.

Mas penso que esse não é o comportamento de um país seguro de si. É o comportamento de um regime com medo constante do mundo externo. Do que eles têm medo? O que eles acham que vai acontecer se informações externas entrarem no país?

Fora do aeroporto, na capital Pyongyang, um grupo de inspetores nos espera. Um homem de meia-idade se aproxima. Em sua lapela está um broche com as faces de Kim Il-sung, o líder supremo de 1948 até sua morte em 1994, e Kim Jong-il, seu filho e sucessor, que morreu em 2011. Todos os integrantes do grupo usam o mesmo broche. É parte do uniforme nacional.

"Olá, sr. Rupert", diz o homem enquanto pega minha mala. Eu não havia me apresentado, eles memorizaram nossos rostos.

Entramos em um ônibus e eu tento puxar conversa com um dos inspetores. Mas o sr. Kim não gosta de falar.

"Parece haver mais tráfego nas ruas em relação à última vez em que estive aqui".

Nada.

"Vocês têm congestionamentos em Pyongyang atualmente?"

Ele balança a cabeça.

Mas de fato há mais tráfego que da última vez. Veículos SUV chineses aceleram pelas grandes avenidas de Pyongyang. Diversos Mercedes sedans de segunda mão estão sendo usados aqui. Os conjuntos habitacionais de estilo soviético receberam pintura colorida, alguns lilás, outros verde e laranja. Toda a região parece mais brilhante e limpa.

Mas ainda há um grande contraste em relação às outras cidades da Ásia. Não há estruturas de neon extravagantes penduradas nos prédios. Imensos retratos de Kim Il-sung e Kim Jong-il parecem olhar para baixo do alto de prédios governamentais.

Nosso ônibus passa por um portão e entra em um grande complexo. Há grandes casas de estilo ocidental e jardins exuberantes. Eles remetem a uma ideia do que seria uma comunidade norte-americana rica dos anos 1970. Nós desembarcamos no número 24.

Temos pensamentos de fuga, ou ao menos tentativa de fuga. Assim como o cinegrafista Matt, olho para trás em direção ao portão principal. Há gritaria e eles correm. Um dos inspetores nos alcança ofegante e diz:

"Estão esperando por vocês na hospedaria", diz ele. "Por favor, vocês devem vir agora, o jantar está pronto e vocês são os últimos, todos estão esperando."

Expulsão

A equipe da BBC responsável por esta cobertura especial em Pyongyang foi detida por autoridades e expulsa da Coreia do Norte. Na última sexta-feira (6), Rupert Wingfield-Hayes, um cinegrafista e uma produtora se dirigiram ao aeroporto para sua viagem de volta, mas antes de embarcar, eles foram levados para um hotel por autoridades.

Wingfield-Hayes foi interrogado por oito horas e teve que assinar um pedido de desculpas. O secretário-geral do Comitê Nacional de Paz da Coreia do Norte, O Ryong Il, disse que Wingfield-Hayes distorceu fatos e falou mal do sistema e da liderança do país.

A equipe da BBC foi então levada de volta para o aeroporto e deixou a Coreia do Norte.