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Da Argentina à Tunísia: 19 países onde presidentes caíram desde os anos 90

Lula Marques/Folhapress - 23.09.1992
Imagem: Lula Marques/Folhapress - 23.09.1992

João Fellet

Da BBC Brasil em Washington

12/05/2016 10h23

Crises econômicas, conflitos armados e denúncias de corrupção estão entre os principais motivos para a interrupção de mandatos presidenciais mundo afora.

A BBC Brasil listou 19 países cujos presidentes renunciaram ou sofreram impeachment desde a década de 1990:

Guatemala - Otto Pérez Molina (2015) e Jorge Serrano Elías (1993)

Molina governou por três anos e renunciou em meio a protestos, acusado de corrupção. Foi preso e aguarda julgamento. Outro líder guatemalteco a renunciar, Elías deixou o país após fracassar sua tentativa de dissolver o Parlamento e a Corte Constitucional do país.

Ucrânia - Viktor Yanukovych (2014)

Foi destituído pelo Parlamento em meio a protestos contra sua recusa em conduzir o ingresso da Ucrânia na União Europeia. A repressão às manifestações causou pelo menos 88 mortes. Yanukovych está exilado na Rússia.

O ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo após o golpe de Estado que o tirou da presidência - Marcello Casal Jr./Agência Brasil - Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Fernando Lugo
Imagem: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Paraguai - Fernando Lugo (2012) e Raúl Cubas (1999)

Lugo foi destituído pelo Congresso, acusado de mau desempenho de funções após a morte de 11 camponeses e seis policiais numa ação de reintegração de posse. Em 1999, o então presidente Cubas também deixou o posto durante conflitos com o Legislativo e o Judiciário por decidir libertar o general Lino Oviedo (preso por um motim em 1996).

Tunísia - Zine El Abidine Ben Ali (2011); Líbia - Muammar Gaddafi (2011) ; Egito - Hosni Mubarak (2011) e Mohamed Morsi (2013)

Ben Ali, Kaddafi e Mubarak, que assumiram o poder em golpes de Estado e governaram por décadas, foram derrubados por revoltas populares na Primavera Árabe. No Egito, outro golpe de Estado tirou do poder o primeiro presidente egípcio democraticamente eleito, Morsi. Na Líbia, a queda de Khadafi desencadeou uma disputa territorial entre milícias e clãs rivais. Já a Tunísia parece ter realizado uma transição democrática bem sucedida com a eleição de 2014.

Costa do Marfim - Laurent Gbagbo (2011)

Governou o país por dez anos até ser capturado durante um conflito armado por forças opositoras apoiadas pela França. Gbagbo foi extraditado para a Holanda, onde está sendo julgado pelo Tribunal Internacional de Haia.

Manuel Zelaya, ex presidente de Honduras - Orlando Sierra/AFP - Orlando Sierra/AFP
Manuel Zelaya
Imagem: Orlando Sierra/AFP

Honduras - Manuel Zelaya (2009)

Foi destituído pelo Congresso, acusado de tentar mudar a Constituição para ampliar seu mandato. Detido por militares, foi deportado para a Costa Rica. Em 2013, sua esposa, Xiomara Castro de Zelaya, concorreu à Presidência hondurenha, mas perdeu. Zelaya hoje é deputado no Parlamento Centro-Americano.

África do Sul - Thabo Mbeki (2008)

Após se reeleger à Presidência em 2004, Mbeki perdeu a eleição para a chefia de seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC). Ele renunciou a pedido da sigla após denúncias de que havia tentado prejudicar seu principal oponente - o atual presidente sul-africano, Jacob Zuma - na disputa pelo comando do partido.

24.mar.2013 - O ex-presidente paquistanês Pervez Musharraf gesticula para plateia que o recebeu com festa no aeroporto de Karachi, no Paquistão, neste domingo (24). Sua chegada ao país dá fim a quatro anos de exílio e abre espaço para um possível retorno à política do país, mesmo com as ameaças de morte que sofre dos talebãs - Shakil Adil/AP - Shakil Adil/AP
Pervez Musharraf
Imagem: Shakil Adil/AP

Paquistão - Pervez Musharraf (2008)

O general, que assumiu a Presidência após um golpe de Estado em 1999, sofria a ameaça de impeachment ao renunciar e se refugiar em Londres. Em 2013, foi acusado na Justiça paquistanesa pela morte de sua opositora Benazir Bhutto, em 2007.

Equador - Lúcio Gutiérrez (2005), Jamil Mahuad (2000) e Abdalá Bucaram (1997)

Gutiérrez foi deposto em meio a protestos, acusado de interferir para favorecer o ex-presidente Abdalá Bucaram em seu julgamento por corrupção. Bucaram teve o mandato cassado pelo Congresso após adotar medidas impopulares para cortar gastos. Mahuad, que governou entre os dois e hoje mora nos EUA, renunciou pressionado por protestos de indígenas e uma revolta de militares. Em 2014, foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção.

Bolívia - Carlos Mesa (2005) e Gonzalo Sánchez de Lozada (2003)

Lozada enfrentou protestos de sindicatos por, entre outros motivos, querer erradicar a folha de coca e exportar gás natural por um porto no Chile, rival histórico boliviano. Após confrontos que causaram dezenas de mortes, renunciou e se exilou nos EUA. Seu sucessor, Carlos Mesa, foi incapaz de conter as turbulências e também deixou o posto.

Libéria - Charles Taylor (2003)

Taylor teve o governo abalado pela denúncia de que cometera crimes de guerra e contra a humanidade em conflito na vizinha Serra Leoa. A pressão internacional e a eclosão de uma guerra civil na Libéria o fizeram fugir para a Nigéria. Em maio de 2012, foi condenado por uma corte internacional a 50 anos de prisão. Desde então, está preso na Grã Bretanha.

Argentina - Fernando de la Rúa (2001)

Renunciou durante uma revolta popular que deixou 23 mortos, provocada por uma crise econômica. Após a saída, três presidentes assumiram o posto interinamente até a Assembleia Legislativa eleger Eduardo Duhalde, em 2002.

O ex-presidente peruano Alberto Fujimori - AFP - AFP
Alberto Fujimori
Imagem: AFP

Peru - Alberto Fujimori (2000)

Governou por dez anos antes de ser deposto e abandonar o país rumo ao Japão, em meio a protestos por denúncias de corrupção. Em 2005, foi preso em visita ao Chile e extraditado para o Peru. Foi condenado à pena máxima de 25 anos por corrupção e participação em grupos de extermínio, entre outros crimes.

Rússia/União Soviética - Boris Yeltsin (1999) e Mikhail Gorbatchev (1991)

Após promover várias reformas que levariam à dissolução da União Soviética, Gorbatchev sofreu um golpe de Estado. Ele conseguiu retornar ao cargo, mas teve a liderança comprometida e extinguiu seu posto, entregando o poder ao então presidente da Rússia, Boris Yeltsin. Yeltsin governou por oito anos e renunciou desgastado por uma grave crise econômica e tentativas de impeachment.

Ruanda - Juvénal Habyarimana (1994)

Presidiu o país por 20 anos, até ser morto quando o avião em que viajava foi alvejado (o atentado também matou o presidente do Burundi, Cyprien Ntaryamira). O assassinato acirrou as tensões étnicas que desencadearam o Genocídio de Ruanda, em que até 1 milhão de pessoas morreram.

Venezuela - Carlos Andrés Pérez (1993)

Foi destituído pelo Congresso, acusado de desviar dinheiro de um fundo presidencial. Antes do impeachment, sofreu duas tentativas de golpe de Estado em 1992, uma delas liderada pelo então capitão Hugo Chávez. O próprio Chávez sofreria uma tentativa de golpe após se eleger presidente, em 2002.

Brasil - Fernando Collor de Mello (1992)

Governou por dois anos até sofrer um impeachment pelo Congresso, acusado de corrupção. Em 1994, o Supremo Tribunal Federal o inocentou das acusações por falta de provas. Voltou à vida pública em 2007 ao se eleger senador, cargo que ocupa hoje.