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O mistério sobre o filho de Evo Morales que agora 'não existe'

Gabriela Zapata é detida em La Paz - Juan Karita/AP
Gabriela Zapata é detida em La Paz Imagem: Juan Karita/AP

18/05/2016 12h56

Há três meses, um jornalista provocou um escândalo na Bolívia ao mostrar uma certidão de nascimento de um suposto filho do presidente Evo Morales com a empresária Gabriela Zapata.

Carlos Valverde usou o documento da criança para sustentar sua denúncia de que o governo boliviano teria ajudado a empresa chinesa CAMC com contratos milionários porque Zapata era na época gerente comercial da companhia.

No entanto, nesta semana, o próprio jornalista voltou atrás na informação inicial.

"Tive acesso a uma informação séria que confirma que o suposto filho de Gabriela Zapata e do presidente Morales não existe", escreveu ele pelo Twitter.

Polêmica

Antes disso, Morales havia reconhecido que manteve uma relação de dois anos com Zapata, entre 2005 e 2007, mas garantiu que ela havia lhe contado que o filho que tiveram havia morrido pouco depois de nascer.

O presidente boliviano chegou a afirmar ainda que, caso o filho estivesse realmente vivo, ele gostaria de conhecê-lo.

"Tenho direito de conhecer meu filho, cuidar dele, protegê-lo. É minha obrigação. Espero que me tragam essa criança nas próximas horas", declarou Morales em 29 de fevereiro, depois de Valverde lançar a polêmica.

Como Zapata se negou a isso, Morales entrou com uma ação na Justiça para que ela lhe trouxesse a criança em um prazo de cinco dias, em uma audiência privada.

Filho nunca existiu

Nesta quarta-feira, no entanto, o jornalista que denunciou o "escândalo" afirmou que a criança apresentada não era filho de Morales e Zapata, já que este, segundo ele, nunca existiu.

"Tenho a informação de que o filho de Evo Morales e Gabriela Zapata efetivamente não nasceu. Que existe uma criança, existe, de acordo com a informação séria que tenho. Mas essa criança não é filho de Gabriela Zapata, nem de Evo Morales, ou pior, não é de nenhum dos dois", explicou em seu programa de rádio "Antes que seja tarde".

"Gabriela Zapata estava usando essa criança, apresentando a todos como se fosse seu filho", acrescentou.

Segundo Valverde, o menino seria, na verdade, neto de uma mulher chamada Pilar Guzmán, que foi identificada como tia de Zapata.

Na semana passada, a juíza Jacqueline Rada havia decidido que "foi evidenciado que não existem outros registros que provem ou confirmem a existência do sujeito de proteção."

Segundo a juíza, Zapata se recusou a fazer um teste de DNA que pudesse demonstrar que a criança apresentada seria mesmo filho do presidente.

Acusações

Agora, após as declarações de Valverde, o advogado de Morales, Gastón Velásquez, apesentou uma denúncia contra Zapata e seus advogados, Eduardo León e William Sánchez, assim como contra Pilar Guzmán.

O advogado acusa-as de alteração e substituição de estado civil, tráfico de pessoas, rapto de crianças, falsificação de documentos e falsidade ideológica.

Diante disso, o promotor Hector Arce confirmou que os advogados de Zapata e ela própria deverão ser investigados.

"Ouvimos o Sr. (William) Sanchez Peña, que disse que atesta a existência da criança", disse ele.

"Tudo isso precisará ser drasticamente investigado, porque não se pode brincar com a tranquilidade e a saúde emocional de crianças".

Segundo os apoiadores de Evo Morales, a acusação de tráfico de influência contra o presidente influenciou o desastroso resultado do mandatário na consulta pela reforma constitucional feita em fevereiro, pouco após o surgimento do escândalo.

O resultado acabou com as possibilidades de uma nova reeleição de Morales e foi a primeira derrota eleitoral do presidente boliviano em seus 10 anos no cargo.