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Brasileiros aprovam refugiados no país, mas não na própria casa, diz pesquisa

Refugiados como o garoto sírio enfrentam impasse após autoridades da Macedônia anunciarem o fechamento da fronteira com a Grécia - Alexandros Avramidis/Reuters
Refugiados como o garoto sírio enfrentam impasse após autoridades da Macedônia anunciarem o fechamento da fronteira com a Grécia Imagem: Alexandros Avramidis/Reuters

19/05/2016 12h22

Os brasileiros estão dispostos a receber refugiados no país, mas a aceitação cai quando o assunto é acolher esses imigrantes na própria cidade ou em casa. Uma pesquisa encomendada pela ONG Anistia Internacional mediu a receptividade do público a refugiados em 27 países, e o Brasil ficou em 18º lugar no ranking elaborado pela consultoria GlobeScan.

O estudo no Brasil ouviu 804 pessoas em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, numa amostra que representa 23% da população.

Os resultados mostraram que 39% dos entrevistados no Brasil disseram que aceitariam no país pessoas fugindo de guerras ou perseguição em outra nação. O percentual de quem não aceitaria a entrada de refugiados no país ficou em 19%. Outros 20% afirmaram que receberiam refugiados em seu bairro, 16% na cidade e 6% na própria casa.

O chamado "Refugees Welcome Index" (Índice de Receptividade a Refugiados, em tradução livre) listou os países em uma escala de 0 a 100, onde 0 significa que todos os entrevistados recusariam a entrada de refugiados e 100, a aceitação desses imigrantes no próprio bairro ou casa.

O índice do Brasil foi 49, à frente apenas de Argentina (48), África do Sul (44), Nigéria (41), Turquia (39), Quênia (38), Polônia (36), Tailândia (33), Indonésia (32) e Rússia (18). Os países mais receptivos ao acolhimento de refugiados entre os 27 pesquisados foram China (índice 85), Alemanha (84) e Reino Unido (83).

A maioria dos brasileiros nas cidades que participaram da pesquisa também disse concordar com a ideia de que pessoas devem ter o direito de buscar refúgio em outros países para fugir de guerras ou perseguição - 79% concordaram com a afirmação, em maior ou menor grau. Outra opinião predominante (80% dos entrevistados) no Brasil foi a de que o governo deve fazer mais para ajudar imigrantes nessas situações.

Panorama global

Para a ONG Anistia Internacional, os resultados da pesquisa mostram que, em geral, as pessoas estão fortemente dispostas a receber refugiados "com braços abertos" - o índice de aceitação global é de 80%, apontou o estudo, que ouviu 27 mil pessoas.

"Esses números falam por si mesmos. As pessoas estão dispostas a tornar os refugiados bem-vindos, mas respostas desumanas de governos à crise de refugiados estão fora de sintonia com as visões de seus próprios cidadãos", afirmou, em nota, o secretário-geral da ONG, Salil Shetty.

Globalmente, uma pessoa em cada 10 abrigaria refugiados na própria casa. O número chega a 46% na China, 29% no Reino Unido e 20% na Grécia, mas cai para 1% na Rússia e na Indonésia. Apenas 17% do total de entrevistados disseram que recusaria a entrada de refugiados em seus países.

O número de pessoas buscando asilo na União Europeia em 2015 chegou a 1,2 milhão - mais do que o dobro do ano anterior, segundo dados do Eurostat, órgão de estatística da UE. Sírios, iraquianos e afegãos estão no topo da lista desses pedidos, com mais de um terço tendo a Alemanha como destino.

Milhares de migrantes estão chegando à Grécia desde a Turquia diariamente, e muitos estão presos na fronteira norte da Grécia com a Macedônia, após países da UE implementarem controles internos de imigração.