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Com indicação praticamente garantida, Hillary tenta reverter maré negativa

2.jun.2016 - Hillary Clinton participa de evento de campanha em San Diego (Califórnia)  - Justin Sullivan/Getty Images/AFP
2.jun.2016 - Hillary Clinton participa de evento de campanha em San Diego (Califórnia) Imagem: Justin Sullivan/Getty Images/AFP

João Fellet

Da BBC Brasil, em Washington (EUA)

07/06/2016 18h32

A disputa está durando mais do que se imaginava, mas a ex-secretária de Estado Hillary Clinton conseguiu os votos para se tornar a candidata do Partido Democrata à próxima eleição presidencial americana, segundo a agência de notícias AP (Associated Press).

Após a primária em Porto Rico no domingo (5), Hillary chegou a 2.383 votos de delegados eleitorais, apontam as projeções, um a mais do que precisava para vencer a disputa pela indicação democrata contra o senador Bernie Sanders, de Vermont.

O anúncio da vitória ocorreu na véspera da penúltima rodada de prévias, realizadas nesta terça-feira (7) em seis Estados, entre os quais o mais populoso do país, a Califórnia.

Hillary reagiu à notícia com moderação e pediu a seus eleitores que votem nesta terça. Ela tenta ampliar a vantagem sobre Sanders e minimizar as chances de que o senador consiga reverter o resultado na convenção democrata, no fim de julho.

Isso porque o cálculo da AP leva em conta os votos dos chamados superdelegados, líderes partidários que podem mudar de voto até a convenção. Do total de 2.383 votos que ela somou até agora, 1.812 estão atrelados aos resultados das prévias e 571 são de superdelegados.

Já Sanders tem 1.569 votos, dos quais só 48 vêm de superdelegados.

O senador tem dito que manterá a campanha até a convenção e que tentará convencer superdelegados a mudarem seus votos, já que pesquisas apontam que ele se sairia melhor que Hillary num duelo com o presumível candidato republicano, o empresário Donald Trump.

Se Sanders levar os planos adiante, Hillary talvez tenha de esperar pela confirmação de sua vitória na convenção para unificar o partido e poder se concentrar no embate com Trump.

Até lá, ela será alvejada pelo empresário republicano, que largou na frente ao garantir a nomeação pelo seu partido no fim de maio e vem tentando atrair líderes conservadores a seu palanque.

Quando a campanha começou, em 2015, poucos achavam que Trump venceria a disputa republicana com relativo conforto e que Hillary levaria tanto tempo para garantir a nomeação democrata.

A ex-senadora por Nova York não contava com a popularidade de Sanders entre eleitores brancos e jovens. Ao defender bandeiras progressistas, como ampliar gastos públicos em saúde e educação e aumentar o controle sobre o sistema financeiro, o senador puxou a disputa democrata para a esquerda e forçou Hillary a contemplar os temas em sua campanha.

A candidata também chega à reta final das prévias desgastada pelas investigações sobre ter usado um servidor privado de e-mail quando era secretária de Estado do governo Obama.

Hillary trocou milhares de mensagens confidenciais por meio de seu servidor pessoal, em vez de usar o do governo americano. Segundo especialistas em segurança, a prática expôs o país a riscos.

Uma investigação em curso pelo FBI (Polícia Federal dos EUA) determinará se Hillary violou alguma lei no episódio. O resultado da apuração deve ser anunciado só depois da convenção democrata e pode causar turbulências adicionais à campanha ou, a depender da gravidade das conclusões, até inviabilizá-la.

A popularidade da candidata está em queda. Segundo um conjunto de pesquisas compiladas pelo site RealClearPolitics, 43,5% dos americanos tinham uma visão desfavorável de Hillary em julho de 2015; hoje, são 55,5%. Trump tem reprovação ligeiramente maior: 58,4%.

Pesquisas sobre um duelo Hillary-Trump em novembro mostram uma vantagem cada vez menor da candidata. Na média dos levantamentos nacionais, ela está hoje dois pontos à frente do empresário.

Analistas afirmam, porém, que ela segue favorita e que o desfecho da disputa democrata deve lhe dar algum fôlego. Eles dizem que, enquanto Sanders permanecer na disputa, alguns eleitores do senador evitarão declarar voto em Hillary. Mas uma pesquisa da Quinnipiac University revelou que três quartos dos eleitores de Sanders votariam em Hillary num duelo contra Trump.

Ela também deve se fortalecer quando o presidente Barack Obama passar a trabalhar por sua candidatura.

Obama ainda não declarou apoio a qualquer candidato democrata, mas poderá defender o voto em Hillary ainda nesta semana. Como ele chega ao fim do governo com popularidade em alta, talvez seja o mais influente cabo eleitoral do país hoje.