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Paquistanesa foi torturada e morta pela própria mãe após casar por amor

AFP
Imagem: AFP

10/06/2016 12h58

Zeenat Rafig, de 18 anos, foi torturada, estrangulada e queimada viva, segundo a polícia paquistanesa confirmou à BBC.

Uma necropsia deverá apontar se a jovem estava viva no momento em que foi queimada.

O assassinato ocorreu uma semana após Zeenat se casar sem autorização de sua família, o que é considerado uma desonra no Paquistão.

Crime familiar

O superintendente da policía de Lahore, Ibadat Nisar, afirmou que o irmão de Zeenat é suspeito e está foragido. A mãe foi encontrada em casa com o corpo da jovem.
"A mãe confessou o crime, mas é difícil acreditar que uma mulher de 50 anos tenha cometido um ato desse sozinha, sem ajuda de outros membros da família", disse Nisar.

Vizinhos chamaram a polícia após escutar gritos, mas a mulher já estava morta no momento em que as autoridades chegaram.

Rafiq e Hassan Khan se casaram há uma semana, depois de a jovem ter fugido para morar com a família do marido.

"Quando ela contou a seus pais sobre nós, foi agredida tão fortemente que sangrou pela boca e nariz", disse Khan ao serviço em urdu da BBC.

Naquela ocasião, diz o viúvo, a família de Zeenat a levou "com a promessa de reconciliação e uma recepção adequada pelo casamento".

"Ela tinha medo e disse: 'Não irão me perdoar'. Ela não queria ir, mas minha família a convenceu. Como iríamos saber que a matariam?", afirmou.

Outros casos

O assassinato de Zeenat Rafigé o terceiro do tipo em um mês no Paquistão, país onde ataques contra mulheres que contestam regras conservadoras sobre o amor e o casamento são comuns.

Na semana passada, uma jovem professora, María Sadaqat, foi queimada viva na cidade de Murree, perto de Islamabad, após rejeitar uma proposta de casamento. Morreu em consequência dos graves ferimentos que sofreu.

Um mês antes, veteranos de um povoado perto de Abbottabad ordenaram o assassinato de uma adolescente que foi queimada até à morte porque ajudara uma amiga a fugir, de acordo com a polícia.

Sem mudanças

Cerca de 1.100 mulheres foram mortas por parentes no Paquistão no ano passado nos chamados "crimes de honra", afirma a Comissão de Direitos Humanos do Paquistão (CDHP). Muitos casos não chegam a ser denunciados.

Violência contra mulheres praticada por pessoas de fora da família também é recorrente.

Najam U Din, diretor-adjunto da CDHP, afirma que as atitudes sociais não mudaram no país, a despeito da melhor educação e maior liberdade proporcionadas à mulher.

"Quando as mulheres se tornam mais firmes, mais reativas à submissão dentro da família - quando querem, por exemplo, continuar estudando ou tomar decisões independentes, aía sociedade não permite."

Protestos

A província de Punjab, cenário dos dois últimos ataques, aprovou uma lei em fevereiro penalizando todas as formas de violência contra as mulheres.

No entanto, mais de 30 grupos religiosos, incluindo todos os principais partidos políticos islâmicos, ameaçaram fazer protestos caso a lei não fosse revogada.

Hassan, marido de Zeenat - K.M.Chaudary/AP  - K.M.Chaudary/AP
Hassan Khan mostra a certidão de casamento dele com Zeenat Rafiq
Imagem: K.M.Chaudary/AP

O chamado Conselho de Ideologia Islâmica, que assessora o governo, propôs então que seja legal que todos os maridos "batam levemente" em suas mulheres.

Grupos religiosos compararam as campanhas por direitos da mulher com promoção da obscenidade. Dizem que a nova lei de Punjab aumentará a taxa de divórcios e destruirá o sistema familiar tradicional do país.