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Crise política e zika enfraquecem poder de influência do Brasil no mundo, aponta levantamento

Brasil perdeu ponto no quesito governo devido à crise - Adriano Machado/EFE
Brasil perdeu ponto no quesito governo devido à crise Imagem: Adriano Machado/EFE

16/06/2016 18h26

A crise política e a epidemia de zika fizeram o Brasil perder uma posição no ranking de soft power (poder de influência) organizado pela consultoria britânica Portland.

O Brasil ficou na 24ª posição entre 30 países - no ano passado, quando a lista foi lançada, ocupava o 23º lugar.

No topo do ranking estão os Estados Unidos, seguidos de Reino Unido e Alemanha. Na lanterna está a Argentina, único país latino-americano no grupo além do Brasil.

O país também ficou à frente dos outros Brics (grupo de emergentes) - a Rússia fica em 27º e a China em 28º.

O conceito de soft power costuma ser usado em contraposição ao de hard power, ligado a poderio militar e econômico. O soft power é uma influência que se dá por meios como a cultura e o esporte.

Critérios

O índice da Portland combina alguns critérios objetivos (como taxa de homicídios, nota dos alunos do país em provas internacionais, etc.) com pesquisas de opinião e alguns dados fornecidos pelo Facebook (o número de seguidores dos líderes do país, por exemplo).

A consultoria analisa seis critérios: governo, cultura, educação, participação global, empresas e digital.

O Brasil perdeu pontos no sub-índice de governo, qua avalia valores políticos do país, instituições públicas e efeitos das políticas públicas.

O país tinha 48,08 de nota neste critério em 2015 e, em 2016, passou para 47,58. Mas, como a nota de outros países também caiu, o Brasil acabou subindo da 29ª para a 28ª posição nesse tema.

Segundo a Portland, a queda da nota do Brasilse deve à crise política, que resultou no afastamento tenporário da presidente Dilma Rousseff.

Zika

Mas também houve a influência do que a consultoria vê como demora do governo em tomar providências para combater o vírus Zika.

A doença, ligada um boom nos casos de microcefalia em bebês, também afetou o índice cultura, que costuma ser um ponto alto do Brasil: é aí que entra a imagem simpática que o país tem no exterior com o samba e o futebol, por exemplo.

Às vésperas da Olimpíada do Rio, a consultoria diz que há preocupação com o potencial impacto do vírus nos Jogos.

O quesito educação também afetou a nota geral do Brasil - o país está em último na área, e antes estava na 23ª colocação.

Segundo a consultoria, as notas do exame internacional Pisa, no qual o Brasil não vai bem, foram incluídas neste ano entre os critérios do ranking e, com isso, prejudicaram a classificação do Brasil.

Subida

O Brasil melhorou, porém, no índice de participação global, que avalia os recursos diplomáticos e a contribuição para a comunidade internacional. O país subiu oito posições neste índice.

Apesar de a política externa do governo Dilma ser criticada por analistas e diplomatas, que afirmam que o Brasil perdeu relevância internacional, o índice considera algumas outras medidas: o fato de ter recebido refugiados sírios, por exemplo, contou pontos no modo como o país é visto.

Outra medida considerada, segundo a consultoria, foram acordos que fizeram com que o passaporte brasileiro "valesse" mais - ou seja, o brasileiro pode entrar em mais países agora sem precisar de visto.

Mundo

Os Estados Unidos ultrapassaram o Reino Unido e a Alemanha este ano, passando da terceira para a primeira posição. Eles são fortes em três áreas: educação, produção cultural e inovação tecnológica.


A Porland destaca a aparente contradição de o país melhorar em soft powerexatamente em um momento em que o polêmico Donald Trump pode ser tornar presidente, mas afirma que algumas medidas de Barack Obama - como a reaproximação com Cuba - foram bem recebidas.

Segundo a consultoria, a queda do Reino Unido, que era o campeão no ano passado, reflete uma possível saída da União Europeia - haverá um plebiscito na semana que vem para decidir a questão do chamado "Brexit".

Caso o país saia da UE, ele perde sua vantagem de ser membros de quase todos os grandes grupos e fóruns globais (como a União Europeia, o G7, o Conselho de Segurança da ONU etc.).

A Portland também destaca o Canadá, que subiu no ranking ajudado pelo fenômeno do primeiro-ministro "queridinho" do país, Justin Trudeau.

Ele fez diversas viagens internacionais e usa bem as mídias sociais - no Brasil, por exemplo, viralizou pela resposta dada quando questionado sobre o motivo de metade dos integrantes de seu gabinete serem mulheres ("Porque estamos em 2015", respondeu).