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Amiga diz que jovem morto em universidade do RJ sofria "ameaças veladas"

Diego Vieira Machado, encontrado morto no campus da UFRJ - Pérola Gonçalves
Diego Vieira Machado, encontrado morto no campus da UFRJ Imagem: Pérola Gonçalves

03/07/2016 20h43

Uma amiga do estudante encontrado morto no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro no sábado afirmou que ele tinha medo de ser agredido e já havia sofrido ofensas de caráter homofóbico e racista. Ela disse também que o jovem seria alvo de "ameaças veladas" por parte de supostos alunos da universidade.

A polícia do Rio de Janeiro não confirma que a morte de Diego Vieira Machado tenha sido motivada por homofobia ou racismo - embora não descarte a possibilidade. A instituição divulgou nota afirmando que uma "perícia detalhada foi realizada no local e amplo trabalho de investigação foi iniciado para apurar de forma a dinâmica do fato".

Policiais da Delegacia de Homicídios da Capital afirmaram à imprensa local que já investigam ameaças que o jovem vinha recebendo.

Machado tinha 24 anos, era estudante da faculdade de arquitetura da UFRJ e morava no alojamento estudantil dentro do campus.

Segundo o Departamento de Homicídios da capital, ele foi encontrado morto na noite de sábado às margens da Baía de Guanabara, na Ilha do Fundão - em uma área da universidade.

A estudante de comunicação social Pérola Gonçalves, de 22 anos, afirmou que mora no alojamento estudantil e era amiga de Machado. Ela disse que ele seria alvo frequente de ofensas de caráter homofóbico e racista por parte de supostos estudantes do campus e tinha medo de ser agredido.

"Ele era um homem negro, LGBT, bissexual e tinha trejeitos de homem gay. Era uma pessoa incompreendida e sofreu muito com a homofobia e o racismo", disse ela.

"Era frequente ele ser atacado (com ofensas). Ele dizia que sentia muita raiva do mundo", afirmou ela.

Ela afirmou que Machado "sabia que era um alvo", por isso começou a praticar judô e kung fu, para se defender.

A entidade estudantil Diretório Central dos Estudantes UFRJ publicou mensagem em sua página no Facebook afirmando que o corpo do jovem tinha sinais de espancamento. Policiais afirmaram que ele tinha marcas de agressões na cabeça.

A entidade também fez críticas à suposta falta de segurança no alojamento estudantil - que fica perto de onde o corpo foi encontrado.

"Não podemos deixar de denunciar a falta de segurança, a situação de vulnerabilidade e violações de direitos que os moradores do alojamento estão submetidos diariamente. Precisamos de mais segurança!", afirmou a entidade em nota no Facebook.

Ameaças

Gonçalves afirmou que Machado já havia sofrido ameaças veladas dentro do alojamento. "Uma vez uma pessoa branca entrou no alojamento, que estava cheio de estudantes negros e disse que o ambiente estava 'muito pesado'."

"Um homem disse para o Diego: 'Eu gosto quando você me chama de racista'", afirmou a estudante.

A morte do rapaz causou comoção na internet, mas nem todas eram de pesar. A reprodução de um e-mail com uma ameaça supostamente destinada a Machado circulou nas redes sociais.

Ela teria sido assinada por um suposto grupo chamado Juventude Revolucionária Liberal Brasileira. A mensagem tem conteúdo homofóbico.

Estudante

Segundo sua amiga, Machado era natural do Pará e havia se mudado para o Rio para estudar. Ele cursou inicialmente letras na UFRJ e depois mudou para a Faculdade de Arquitetura.

O estudante estaria com a matrícula trancada e pretendia prestar vestibular paras Publicidade, a fim de mudar novamente de faculdade.

A reitoria da UFRJ divulgou nota afirmando que se "junta aos amigos e familiares do estudante neste momento de dor, e informa que acompanhará de perto as investigações sobre o caso junto às autoridades policiais".

A Polícia Civil não deu detalhes sobre as circunstâncias da morte de Machado para "não atrapalhar as investigações". A instituição disse porém que mais detalhes do caso devem ser divulgados na manhã de segunda-feira.