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Com Brexit, Reino Unido registra alta acentuada nos crimes de ódio

Justin Tallis/AFP
Imagem: Justin Tallis/AFP

08/07/2016 14h12

Mais de 3 mil crimes e incidentes de ódio foram registrados pela polícia britânica de 16 a 30 de junho neste ano, um aumento de 42% em comparação ao mesmo período de 2015, segundo dados do Conselho Nacional da Polícia.

De acordo com o site da polícia que registra casos desse tipo - o True Vision -, o crime de ódio pode ser definido como ofensas feitas a uma pessoa por causa de critérios relacionados a raça, religião, orientação sexual ou deficiência.

O período em que a alta foi verificada inclui o fim da campanha e as primeiras reações ao resultado do plebiscito no qual a maioria da população votou pela saída do Reino Unido da União Europeia, realizado no dia 23 de junho.

Dois dias depois da votação, em 25 de junho, a onda de crimes de ódio atingiu seu auge: foram relatados 289 casos na Inglaterra, no País de Gales e na Irlanda do Norte.

'Inaceitável'

O subcomandante da polícia Mark Hamilton classificou como "inaceitável" essa alta acentuada.

"Isso mina a diversidade e a tolerância, que todos nós deveríamos estar celebrando", disse.

"Todos têm o direito de se sentir seguros e orgulhosos sobre quem são, e ninguém deveria fazê-los se sentir vulneráveis ou sob algum risco."

A polícia britânica foi obrigada a divulgar os números semanalmente depois de o site True Vision evidenciar o aumento nos registros de crime de ódio.

"O serviço policial não vai tolerar esse tipo de abuso. Mas nós precisamos primeiro nos conscientizar de que esses crimes estão acontecendo para que possamos investigar", alertou Hamilton, sobre a necessidade de que as vítimas façam as denúncias.

No total, foram reportados 3.076 crimes e incidentes de ódio na segunda metade de junho. Na mesma época de 2015, foram 2.161 - ou seja, 915 casos a mais.

Segundo o Conselho Nacional da Polícia, a maioria dos crimes denunciados foi de "violência contra a pessoa", o que inclui assédio e agressão comum, além de abusos verbais, cusparadas e xingamentos.

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'Voltem para seus países'

No mês passado, o premiê David Cameron condenou incidentes como abusos verbais destinados a minorias étnicas e chamou de "desprezível" um grafite feito em uma área habitada pela comunidade polonesa em Hammersmith, em Londres.

O caso está sendo investigado como crime de ódio.

Na última quarta-feira, um galpão ao lado da casa de uma família polonesa foi incendiado em Plymouth, no sul do país.

Ninguém ficou ferido, mas o fogo causou muitos estragos na casa - a família recebeu um aviso dizendo que deveria "voltar para a Polônia".

O pai e as duas irmãs mais novas de Ewa Banaszak, de 22 anos, estavam na casa no momento do incêndio.

"Tem sido um período muito turbulento depois do plebiscito. As pessoas ficam nos dizendo que devíamos voltar para nosso país", contou.

"Já tínhamos ouvido outros tipos de xingamento no passado, mas aumentou bastante agora."

A família tem recebido apoio do governo e da polícia, afirmou Ewa.

Pó branco

Enquanto isso, policiais da divisão antiterrorismo estão investigando casos de envio de pó branco a centros muçulmanos, mesquitas e outros prédios do governo em Londres.

Um dos destinatários era o lorde Ahmed, muçulmano que faz parte da Câmara dos Lordes. O pó estava em uma carta com mensagem de ódio e levou a um alerta de segurança no Parlamento.

A polícia londrina disse que três dos pacotes que chegaram na quinta-feira já foram analisados e não são nocivos ou suspeitos.