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Atentados diminuíram no mundo, mas cresceram na Europa e América do Norte

Soldados e policiais franceses fazem a segurança do local onde dezenas de pessoas foram mortas após um caminhão se chocar com uma multidão que celebrava o feriado da Queda da Bastilha, em Nice (França) - Eric Gaillard - 14.jul.2016/Reuters
Soldados e policiais franceses fazem a segurança do local onde dezenas de pessoas foram mortas após um caminhão se chocar com uma multidão que celebrava o feriado da Queda da Bastilha, em Nice (França) Imagem: Eric Gaillard - 14.jul.2016/Reuters

Fernanda Odilla

De Londres para a BBC Brasil

16/07/2016 16h06

O número de atentados extremistas caiu em todo o mundo, menos na Europa e na América do Norte. Ainda assim, os ataques no Hemisfério Norte correspondem a menos de 3% de todos os 14.806 casos registrados em 2015.

Os dados fazem parte do Global Terrorism Database, banco de dados coordenado por grupo de pesquisadores com sede na Universidade de Maryland, nos EUA.

O Oriente Médio e o Norte da África ainda respondem pela maioria dos registros. Cerca de 40%, ou 6 mil, do total de ataques no mundo no ano passado estavam concentrados nas duas regiões.

Mas o número de atentados e mortes caiu 12% em 2015 em relação ao ano anterior, quando foram contabilizados 16.840 casos. A queda foi impulsionada principalmente por uma redução nas ocorrências no Paquistão, Iraque e Nigéria.

Apesar de terem crescido, os casos na Europa e na América do Norte são, em números absolutos, bem menores que os registrados em outras partes globo.
Na Europa, o número de atentados saltou de 214 para 321 e na América do Norte, de 34 para 62 ataques.

"É muito cedo para concluir que os ataques terroristas estão movendo do Oriente Médio e da África em direção à Europa", avalia o pesquisador Reinoud Leenders, professor de política internacional e estudos do Oriente Médio no King's College, de Londres.

"Tem muito menos cobertura de mídia em relação aos ataques fora do mundo ocidental, o que dá essa impressão. Na verdade, o número de ataques no Oriente Médio é tão grande quanto as fatalidades que eles provocam."

Novos métodos

O professor observa que o ataque realizado na quinta-feira em Nice, na França, revela novos métodos de ação, menos sofisticados e não necessariamente coordenados.

Um franco-tunisiano dirigiu um caminhão em alta velocidade em direção a uma multidão, matando 84 pessoas e ferindo outras dezenas.
O atentado ocorreu à beira-mar, durante a festa da Queda da Bastilha, o mais tradicional feriado francês.

"Ataques como esse não requerem múltiplas pessoas agindo simultaneamente e não dependem de explosivos e armas. Um motorista conduzindo um caminhão em cima de uma multidão requer menos coordenação e em, princípio, não exige armas", diz Leenders.

O professor afirma ainda que polícia e o serviço de inteligência franceses têm tentado sufocar os grupos extremistas controlando potenciais fornecedores de armamento.

Lobo solitário

Para o especialista, o ataque de Nice não parece ser uma ação de um único indivíduo, o chamado "lobo solitário" engajado por motivações exclusivamente individuais.

"Autorradicalização acontece, mas dificilmente se materializa em ataques individuais com armas porque esses exigem um nível maior de coordenação", opina.

No caso francês, o motorista foi identificado como sendo o franco-tunisianoMohamed Lahouaiej Bouhlel. Ele levava armas falsas e não estava registrado como radicalizado pelas forças de segurança do país. Ainda assim, o grupo que se autodenomina Estado Islâmico reivindicou a autoria do ataque neste sábado.

De acordo com números da Global Terrorism Database, os lobos solitários agem em maior número no Hemisfério Norte - eles foram responsáveis por 70% dos ataques nos países ocidentais de 2006 a 2014.

A maioria desses casos não envolveu fundamentalismo islâmico, mas extremismo de direita, nacionalismo e ações políticas antigoverno.

Ainda segundo a compilação de dados coordenada pela Universidade de Maryland, 2014 registrou número recorde de mortes em ataques nos últimos 15 anos.

De 2000 para 2014, o salto foi de 3.329 para 32.685 mortos, um aumento de quase 900%.

Deslocamento

Desde os anos 1970, a concentração dos atentados tem aumentado em número e em nível de violência, mas também se desloca mundo afora.
Naquela década, eram motivados por movimentos separatistas em países como Irlanda do Norte e Espanha, por exemplo.

Nos anos 80, a América Latina concentrou 55% dos casos, em especial por causa dos movimentos guerrilheiros na Colômbia, Peru e El Salvador.

No período seguinte, a década de 1990, houve uma redução significativa no registro anual de ataques. Mas a partir de 2000 os casos passaram a aumentar e a ficar cada vez mais violentos e com número elevado de mortes.

Iraque e Afeganistão lideram número de ocorrências e de vítimas.

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