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Acordo entre Rússia e EUA para tentar trazer paz para Síria é frágil e enfrenta ceticismo

O secretário de Estado John Kerry (à dir.), dos Estados Unidos, ao lado do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov - Sven Hoppe/EFE
O secretário de Estado John Kerry (à dir.), dos Estados Unidos, ao lado do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov Imagem: Sven Hoppe/EFE

10/09/2016 10h53

O acordo entre Estados Unidos e Rússia para um cessar-fogo na Síria, que começa a ser colocado em prática na segunda-feira, pode ser considerado um avanço, mas enfrenta ceticismo já que precisa do consentimento do presidente sírio, Bashar Al-Assad.

Pelo acordo, os dois países vão iniciar ataques aéreos coordenados contra militantes islâmicos e o fim das hostilidades deve começar a partir da noite de segunda-feira. As forças sírias encerrariam as missões de combate em algumas áreas específicas lideradas pela oposição.

A partir de então, Rússia e Estados Unidos estabelecerão um centro conjunto para combater grupos extremistas, inclusive o autodenominado Estado Islâmico.

O anúncio foi feito em Genebra, na Suíça, após uma negociação entre o secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro das relações exteriores russo, Sergei Lavrov.

Os Estados Unidos e a Síria apoiam lados opostos do conflito que começou em 2011: Washington apoia uma coalizão de grupos rebeldes considerados moderados pelos EUA, enquanto Moscou é vista como um importante aliado do presidente Bashar Al- Assad

Chances

Para Kerry, a eficácia do acordo depende que "tanto o regime sírio como a oposição cumpram com suas obrigações".

Mas para o editor da BBC para o Oriente Médio, Jeremy Bowen, que está em Damasco, capital da Síria, é justamente nesse ponto que se encontra a fragilidade do acordo.

Para ele, há muito ceticismo sobre as chances de o plano dar certo, já que é frágil e depende que muitos fatores, entre eles a colaboração do presidente sírio, Bashar Al-Assad.

"Uma semana de cessar-fogo pode até ser possível, mas um acordo político para encerrar o conflito ainda está fora de alcance."

Ele esclarece que "o regime de Assad depende dos russos, então deve ouvir Moscou. Mas com a ajuda da Rússia, o regime parece mais robusto, então é difícil de imaginar porque o presidente, e seus aliados russos, iriam deixa-lo perder força."

"A guerra na Síria é feita de muitas camadas de conflitos, que têm conexão com rivalidades regionais e globais. Isso faz com que ela seja difícil de acalmar, quem dirá de terminar."

Segundo Kerry, a oposição síria teria afirmado que estaria preparada para cumprir com o plano, contanto que o governo sírio "demonstrasse que o acordo é sério".

Lavrov disse que a Rússia informou o governo Sírio sobre os planos e que Damasco teria afirmado "estar pronto para cumprir com o combinado".

Acordo

O acordo para o fim das hostilidades envolve a liberação de entrada de ajuda humanitária em áreas sitiadas, como a cidade de Aleppo.

Pelo plano, sete dias depois do começo desse processo, Rússia e Estados Unidos estabeleceriam um "centro conjunto de implementação" para combater o grupo autodenominado Estado Islâmico e outra milícia importante, a Jabhat Fateh al-Sham, conhecida como Frente Nusra, mas que mudou o nome em junho quando anunciou o rompimento com a Al-Qaeda.

Segundo Lavrov, esse centro permitirá que as forças russas e americanas "separem os terroristas da oposição moderada".

"Nós concordamos sobre as áreas onde essa coordenação deve existir, e, nesses locais, pelo acordo compartilhado com o governo sírio, somente as forças aéreas russas e americanas irão operar."

Apesar disso, o ministro russo destacou que "as forças aéreas sírias serão úteis em outras áreas, fora daquelas que estarão no foco da cooperação militar Rússia-EUA".

Lavrov e Kerry destacaram que o acordo pode abrir caminho para uma transição política na região.

"O plano é o mais normativo e de maior alcance que qualquer outra proposta até agora, e, se implementado por todos os lados, pode permitir negociações políticas na Síria no futuro", disse o secretário americano.

O enviado especial da Organização das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, recebeu bem o acordo e disse que a ONU vai realizar todos os esforços para o envio de ajuda humanitária à região.

A Turquia - país que recebe a maior quantidade de refugiados sírios - também elogiou o acordo e afirmou que ele deve alcançar aqueles que precisam de ajuda "logo no começo".