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Por que milhares de professores não voltaram às escolas após as férias na Turquia

Policiais turcos detêm estudante durante protesto contra a suspensão de professores com supostas ligações com extremistas, em Diyarbakir  - Ilyas Akengin/AFP
Policiais turcos detêm estudante durante protesto contra a suspensão de professores com supostas ligações com extremistas, em Diyarbakir Imagem: Ilyas Akengin/AFP

21/09/2016 14h40

Sindicatos temem caos no ensino em retorno às aulas após fracassada tentativa de golpe em julho, que resultou na prisão, demissão ou suspensão de milhares de simpatizantes de teólogo desafeto de presidente do país.

Escolas na Turquia reabriram suas portas pela primeira vez desde a fracassada tentativa de golpe contra o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan, em julho.

Cerca de 18 milhões de alunos voltaram às salas de aula nesta semana.

Após a revolta, dezenas de milhares de juízes, funcionários públicos, professores e soldados foram suspensos, demitidos ou presos. No sistema educacional, as consequências das punições ficaram evidentes esta semana, com o fim das férias de verão na Turquia.

Huseyin Ozev, presidente do sindicato dos professores Istambul, disse à agência de notícias AFP que teme que o "caos" se instale no sistema por causa da falta de professores. A entidade assegura que 1 milhão de estudantes foram afetados pela falta de professores em todo o país.

O governo turco, por sua vez, tenta minimizar o impacto das punições contra professores.

O vice-primeiro-ministro turco, Nurettin Canikli, informou na segunda-feira que 27.715 professores foram demitidos e outros 9.465 estão suspensos e sob investigação.

As demissões e suspensões são parte da reação do governo contra supostos seguidores do teólogo turco Fethullah Gülen, acusado pelo presidente Erdogan de ser mentor do golpe.

'Limpeza'

Após a tentativa de golpe, Erdogan prometeu "limpar todas as instituições do Estado". O presidente turco tem encarado a reforma do sistema de ensino, em especial, como "missão pessoal".

Era sabido que o movimento liderado por Gülen, que nega as acusações de envolvimento com a tentativa de golpe, tem estreitas ligações com o sistema de ensino e conta com amplo apoio e endosso de professores, diretores e reitores de escolas e universidades do país.

Cerca de 75% dos professores demitidos são acusados de serem seguidores de Gülen. Mais de 1 mil escolas ligadas ao movimento foram fechadas e seus alunos absorvidos por outras instituições de ensino.

A reação do presidente turco não se limitou aos supostos seguidores de Gülen. Outros 11,3 mil professores são acusados de ter ligações com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), banido do sistema partidário por ser, de acordo com a Turquia, uma organização terrorista. Esses professores foram suspensos no início deste mês .

Segundo o governo turco, as punições afetaram menos de 2% da mão de obra no sistema educacional, que conta com 850 mil professores.

Mas, desde o início deste ano, cerca de 15,2 mil funcionários do Ministério da Educação ficaram sem emprego e 21 mil professores de escolas privadas perderam suas licenças.

Panfleto, filme e minuto de silêncio

Conforme a agência de notícias AFP, ao chegarem nas escolas, estudantes receberam livros escolares acompanhados de panfletos do Ministério da Educação nos quais se comemorava o "triunfo da democracia em 15 de julho e em memória dos mártires".

O Ministério da Educação informou que foram exibidos dois vídeos sobre a tentativa de golpe aos estudantes.

Neles, havia imagens de Erdogan lendo a letra do hino nacional e cenas da noite do golpe, como de tanques e aviões na capital, Ancara.

Alunos também fizeram um minuto de silêncio nos pátios escolares para as vítimas do levante, que resultou em 270 mortes.

Líderes do sindicato dos professores acusam o governo de usar leis especiais para situações de emergência para "livrar-se dos seus opositores" em instituições públicas.

O governo insiste que tomou as medidas necessárias uma vez que o país enfrenta uma situação atípica. Assegura ainda que a falta de professores será resolvida em outubro, quando devem ser recrutados 20 mil novos profissionais.