Topo

Eleições nos EUA: os republicanos ainda podem desistir de Trump?

Mike Segar/Reuters
Imagem: Mike Segar/Reuters

12/10/2016 17h18

Há três palavras para todos os republicanos que sonham em tirar Donald Trump da corrida presidencial a esta altura: morte, rejeição ou "outras".

No regulamento do Comitê Nacional Republicano (CNR), a regra nove determina que é possível preencher vagas nas nomeações "em caso de morte, rejeição ou outras".

A discussão voltou à tona após um abalo na campanha do empresário: a divulgação, pelo jornal Washington Post, de uma gravação com comentários obscenos sobre mulheres feitos há 11 anos pelo candidato republicano.

Na gravação, Trump se gaba de usar sua fama para assediar mulheres e descreve seus avanços de maneira grosseira. Ele pediu desculpas após a divulgação, mas o episódio afetou seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto.

E para quem especula sobre sua eventual saída do páreo, morte provavelmente é uma opção descartada, mas e os outros cenários?

Rejeição

Nessa hipótese, Trump deixaria a corrida presidencial voluntariamente.

Caso isso ocorresse, o CNR poderia ou realizar uma nova convenção para que os 2.472 delegados votem de novo - o que seria impossível agora - ou o conselho do comitê, com 160 membros representando todos os Estados e territórios, selecionaria um substituto.

Mike Pence, vice-candidato presidencial, não seria promovido automaticamente à cabeça de chapa, pois o conselho poderia escolher qualquer um para preencher a vaga.

Muitos deputados e senadores republicanos adorariam a ideia de um novo candidato, já que ele ou ela poderia ajudá-los a manter os cargos.

Mas, para azar dos oponentes de Trump, o candidato não demonstrou intenção de deixar a competição - pelo contrário, tem dito que não há chance de sair da disputa.

... ou "outras"

A frase vaga pode trazer algum conforto aos anti-Trump. A regra nove nunca foi usada antes, portanto seus limites também nunca foram testados.

A última vez em que um candidato deixou a corrida tardiamente foi em 1972, quando o vice-candidato presidencial democrata Thomas Eagleton foi forçado a sair quando sua depressão se tornou assunto público.

"Outras" é uma palavra que costuma ser interpretada como expressão para cobrir a brecha entre morte e renúncia - caso de coma, derrame ou outra condição de saúde que torne o candidato incapaz de se retirar voluntariamente da corrida.

Portanto, trata-se de uma norma sobre preencher vagas, e não criá-las. Mas alguns sugeriram uma interpretação mais ampla, incluindo possibilidades como prática de crimes, traição ou mesmo adoção de "princípios fundamentalmente diferentes daqueles do partido", como aponta o comentarista político Thomas Balch.

Trump poderia, contudo, processar o partido se a alternativa "outras" fosse usada. Mesmo se houvesse cometido um crime, isso não o impediria de concorrer à Presidência. E ele provavelmente poderia inocentar a si mesmo em caso de vitória.

Caso houvesse intenção de reescrever regras internas do partido, não haveria tempo hábil até as eleições de 8 de novembro. É possível, por exemplo, fazer uma emenda à regra nove, mas qualquer mudança demoraria 30 dias para entrar em vigor.

Limites da votação

Dezenas de milhares de republicanos já registraram antecipadamente seus votos em trânsito, muitos em Estados importantes no pleito, como Flórida e Carolina do Norte. O que acontece com eles?

Muitos Estados estipulam prazos para registrar os nomes nas cédulas, para que os procedimentos eleitorais ocorram sem problemas. Essas cédulas hoje estampam o nome de Trump, e o prazo-limite para mudanças já se esgotou.

Ou seja, qualquer um votando antecipadamente em um candidato republicano provavelmente teria que optar por Trump.

Escolher outro candidato

Se Trump não deixar a campanha, um substituto republicano não seria possível pelas regras atuais.

Nas eleições de 2012, o ex-republicano Gary Johnson, governador do Novo México de 1995 a 2003, concorreu independentemente e conquistou 1,2 milhão de votos. Neste ano ele lançou candidatura novamente e estará nas urnas em todos os 50 Estados.

Evan McMullin, ex-agente da CIA, também concorre como candidato independente, mas entrou na corrida tarde demais para competir em todos os Estados.

E o candidato do Partido Verde, Jill Stein, provavelmente não atrairia muitos republicanos.

O problema para os conservadores é que votar em um independente poderia ajudar a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton.

Denunciar e aguardar

Muitos republicanos frustrados acham que a melhor opção é denunciar Trump e esperar. Mais e mais republicanos estão escrevendo cartas e colunas com denúncias e críticas contra o candidato.

Somente na semana passada, 30 ex-deputados republicanos assinaram uma carta dizendo que Trump não tem inteligência nem temperamento para ser presidente. Sem propor troca de candidatos, recomendaram apenas aos eleitores que o rejeitem na hora de votar.

Esperar a vitória e juntar os cacos

Trump já foi subestimado antes e acabou superando os obstáculos. Se os republicanos o aguentaram até agora, avaliam alguns, o que seria um mês a mais?

O Poder Executivo nos EUA tem milhares de cargos e não há tantos fiéis a Trump para preenchê-los. Caso vençam, os republicanos, até mesmo aqueles que se opõem a Trump, poderão definir políticas e trabalhar em assuntos importantes nos próximos quatro anos.

Por outro lado, é possível que Trump, por declarações prévias, já tenha causado um dano quase irreversível ao Partido Republicano entre o eleitorado latino, negro, feminino e de origem muçulmana.