Topo

De escudos humanos a carros-bomba: as 4 táticas do EI na disputa por cidade-chave

Ahmad Al-Rubaye
Imagem: Ahmad Al-Rubaye

25/10/2016 17h46

Após mais de uma semana de ofensiva, forças iraquianas e curdas estão se aproximando na periferia ao leste de Mossul, a última grande cidade iraquiana ainda sob controle do grupo autodenominado Estado Islâmico.

Autoridades iraquianas esperam conseguir afastar o EI da cidade - o que seria considerada uma grande vitória e deixaria os extremistas com muito pouco território no Iraque.

Cerca de 30 mil combatentes participam da ofensiva, entre eles forças do Exército iraquiano, combatentes curdos, tribos sunitas e milicianos xiItas. Eles recebem o apoio aéreo de uma coalizão liderada pelos Estados Unidos.

A campanha militar deve durar semanas ou mesmo meses. Isso vai depender de quanta resistência o EI oferecerá - estima-se que os extremistas tenham entre 3 mil e 5 mil combatentes na cidade.

Além disso, o Estado Islâmico está contra-atacando com força em diversas cidades - o que revela um plano de batalha que pode estar sendo elaborado desde que os extremistas conquistaram Mossul, em 2014.

Ataques diversos

Essa é a última estratégia desenvolvida pelos extremistas islâmicos desde que a ofensiva começou. Eles realizaram uma onda de ataques pelo país, iniciados com um levante na cidade de Kirkuk, atualmente controlada pelos curdos.

Ao menos 100 combatentes e homens-bomba, inclusive integrantes de células adormecidas instaladas dentro da cidade, tentaram assumir o controle de prédios importantes do governo e da polícia - além de atacarem uma central elétrica em construção.

Durante o levante, eles conclamaram muçulmanos sunitas a sair de suas casas para lutar. Muitos atenderam ao chamado, segundo uma fonte afirmou à BBC.

Ao menos 98 pessoas foram mortas no ataque, a maioria delas civis.

Fontes no campo de batalha afirmaram que 2 mil combatentes curdos (conhecidos como Peshmerga) foram retirados da linha de frente em Mossul para ajudar a controlar a situação em Kirkuk.

O comandante das forças de segurança de Kirkuk, Halo Najat, disse à BBC acreditar que os extremistas também planejaram tentar controlar as estradas entre Bagdá e Kirkuk e entre Kirkuk e Mossul.

O objetivo era cortar linhas de suprimentos para tropas iraquianas e curdas envolvidas na ofensiva de Mossul.

No entanto, as unidades do Estado Islâmico que fariam isso foram destruídas antes de atingir o objetivo.

Desde os combates em Kirkuk, ocorreram também ataques nas vilas de Rutba, no oeste do Iraque, e Sinjar, situada a oeste de Mossul.

Frotas de carros-bomba suicidas

O avistamento de um grupo de carros ou caminhões acelerando em direção à sua linha de frente deixou alguns dos combatentes iraquianos e curdos em pânico. Isso porque é altamente provável que os veículos estavam cheios de explosivos e eram conduzidos por motoristas suicidas.

Essa é uma nova tática usada pelo Estado Islâmico para tornar mais difícil atingir e parar diversos veículos atacando ao mesmo tempo.

Disparos de armas leves não fazem efeito contra esses veículos, que normalmente são equipados com chapas para blindagem.

Para destruir todos, é preciso disparar rapidamente diversos foguetes antitanque. Outra alternativa é pedir ataques aéreos, mas nem sempre há tempo para isso.

Os extremistas costumam manter esses carros escondidos antes dos ataques.

Túneis

Enquanto forças iraquianas e curdas avançavam em direção a Mosul, reconquistaram vilas e pequenas cidades, descobrindo assim uma rede de túneis característicos de táticas de guerras de guerrilha.

Esses túneis aparentavam ser primariamente defensivos, com o objetivo de proteger combatentes contra ataques aéreos e de artilharia - foram encontrados dentro deles sacos de dormir, suprimentos de comida e cabos elétricos usados para iluminá-los.

Os túneis geralmente são escavados abaixo de construções - inclusive de mesquitas - para que isso não seja detectado.

Mas, além de oferecer proteção, também podem ser usados em ataques-surpresa.

Em um dos momentos mais dramáticos registrados em vídeo desde o início da ofensiva, um militante do Estado Islâmico sai de um túnel em uma área rural e abre fogo contra um grupo de soldados que aparentemente presumiam estar em uma área segura.

O homem então explode a si mesmo antes que os soldados consigam reagir.

Acredita-se que haja uma rede similar de túneis na cidade de Mossul, que poderia servir de esconderijo durante o assalto contra a cidade e ajudar os extremistas islâmicos a escapar.

Mas ao abandonar os túneis, eles costumam miná-los. Os explosivos improvisados são uma tática comum do Estado Islâmico, que os espalha em áreas que é obrigado a deixar.

Escudos humanos

Muita preocupação já foi expressada em relação à possibilidade do EI usar civis como escudos humanos - especialmente em Mossul.

Um alto oficial da inteligência curda disse recentemente à BBC que os extremistas já teriam começado a fazer isso, o que foi classificado por ele como um sinal de fraqueza e desespero.

O oficial não apontou onde isso teria acontecido. Mas se ocorrer em Mossul, tornará o assalto por forças curdas e iraquianas ainda mais complicado.

Generais iraquianos afirmaram que sua principal preocupação na ofensiva é evitar mortes de civis - estima-se que a população de Mossul seja de cerca de um milhão de pessoas.

Segundo as Nações Unidas, um forte indício de que a população pode ser usada como escudo são relatos de atrocidades sendo praticadas ali.

Em um dos casos mais notórios, três mulheres e três crianças teriam sido mortas ao ficarem para trás quando um grupo de civis foi obrigado a se deslocar de uma vila para outra. As vítimas estavam se atrasando porque uma das crianças seria deficiente.

Em outro caso, extremistas teriam matado 15 civis e jogado seus corpos em um rio com o objetivo de espalhar terror em uma comunidade próxima a Mossul.

O porta-voz do Alto Comissariado da ONU de Direitos Humanos, Rupert Colville, disse que o órgão está recebendo diversas denúncias, mas ainda não é possível comprová-las definitivamente.

"É difícil verificar imediatamente todos os relatos que estamos recebendo, então esses exemplos têm que ser tratados como preliminares e não definitivos."