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'Estou sempre de malas prontas para fugir', diz brasileira que mora na Itália

Destruição provocada na Itália por um terremoto nos dias 30 e 31 de outubro  - Vigili del Fuoco/ BBC
Destruição provocada na Itália por um terremoto nos dias 30 e 31 de outubro Imagem: Vigili del Fuoco/ BBC

Luis Barrucho

Em Londres

06/11/2016 19h57

Cinco minutos antes de conversar por telefone com a BBC Brasil, na última segunda-feira (31), a paulista Regina Dutra diz que a terra voltou a tremer onde mora, na comuna italiana de Torricella in Sabina.

Foi um dos muitos abalos secundários registrados após o forte terremoto de magnitude 6.6 que atingiu a região central da Itália no último domingo.

Torricella in Sabina fica a 75 quiômetros do epicentro do tremor. Mesmo assim, Regina diz ter conseguido sentir os efeitos da trepidação.

"Acabei de chegar em casa depois de um longo dia de trabalho, me deitei no sofá e, de repente, tudo começa a balançar. Não foi tão forte e, por isso, decidi ficar em casa. É mais seguro", diz ela. "E aí vocês me ligaram", emenda, aos risos.

Os terremotos não são novidade na vida dessa secretária administrativa de 44 anos, desde 1993 radicada na Itália.

"Já perdi as contas de por quantos terremotos já passei. Desde que cheguei aqui, lembro-me de pelo menos dez muito intensos, isso sem falar nos secundários, mais brandos", diz ela.

"Mas cada tremor traz uma sensação diferente. Não sei por que, mas os mais fortes costumam acontecer à noite, quando todo mundo está dormindo. Para quem não está habituado, é comum entrar em pânico", acrescenta.

Há uma semana, um novo terremoto de magnitude 6.6 voltou a sacudir a região central da Itália. Não houve mortos.

Dois meses antes, no fim de agosto, a mesma localidade já havia sido atingida por um tremor ligeiramente mais brando, mas com efeitos devastadores.

Cidades inteiras foram reduzidas a escombros e cerca de 300 pessoas morreram.

"No terremoto do último domingo, estava dormindo quando tudo aconteceu. Senti a minha cama tremer. Liguei para a minha família para saber se estava tudo bem com eles. Como não foi tão grave, resolvi voltar a dormir", diz.

Regina Dutra, paulista que mora na Itália desde 1993 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Regina Dutra, paulista que mora na Itália desde 1993
Imagem: Arquivo pessoal

Precauções

Desde que decidiu sair do Brasil para morar na Itália, onde se casou com um italiano e teve dois filhos, Regina não só se habituou aos terremotos como passou a adotar precauções importantes.

Lidar com o "elemento surpresa" de um tremor se tornou, assim, parte de sua rotina. Atualmente divorciada, ela mora sozinha no primeiro andar de uma casa a poucos metros da família.

"Adoro tomar banhos longos, mas tenho tempo cronometrado embaixo do chuveiro. Também sempre deixo uma mala pronta com artigos de primeira necessidade, como uma trouxa de roupas, toalha e carregador de bateria. Além disso, meu carro nunca está com o tanque com menos da metade", lista.

"Isso sem falar que minha mesa de jantar quase nunca está com as cadeiras alinhadas. Afinal, dependendo da gravidade da situação, proteger-me ali embaixo pode ser minha única alternativa para sobreviver", explica ela, acrescentando que uma das regras básicas em caso de terremoto é evitar escadas. "A estrutura costuma ser muito frágil e é uma das primeiras a cair". "Não se trata de paranoia, mas cautela", conclui.

Regina diz ainda que recentemente baixou um aplicativo que funciona como um serviço de alerta sobre potenciais tremores.

"É ótimo porque o aplicativo te avisa quando um tremor está para acontecer", acrescenta.

'Primeira vez'

A paulista ainda se lembra de quando enfrentou um terremoto pela primeira vez.

"Ainda era casada. Fiquei em pânico. Meu ex-marido me acalmou e disse que era muito comum", conta.

Bagagem de 'emergência' de Regina Dutra em caso de terremotos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Bagagem de 'emergência' de Regina Dutra em caso de terremotos
Imagem: Arquivo pessoal

"O pior para mim, no entanto, foi em 1997 quando tudo balançou tão forte que meu armário chegou a se deslocar 30 centímetros da parede", acrescenta.

 

Mas foi em 2009 quando um dos mais devastadores terremotos atingiu a região central do país. O tremor, de magnitude 6.3, devastou a comuna de L'Aquila, a 70 qiilômetros de onde Regina morava, deixando 309 mortos e pelo menos 1,5 mil feridos. Outras 65 mil pessoas ficaram desabrigadas.

"Foi muito triste. O país inteiro parou para assistir à tentativa de resgate dos sobreviventes".

Histórico

Embora mais suscetível a terremotos do que outros países, é a primeira vez que a Itália sofre tremores de grande intensidade desde 2012.

Em maio daquele ano, dois abalos ─ de 5.8 e 6.1 de magnitude ─ atingiram o norte do país.

O de maior intensidade de que se tem registro ocorreu no início do século passado, em 1905, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos. Foi quando 557 pessoas morreram após um tremor de 7.9 de magnitude atingir as comunas de Monteleone, Tropea e Nonte Poro.

Mas houve terremotos ainda muito mais fatais. Um deles foi registrado em Nápoles, em 1980, com um saldo de 4.689 mortes.