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De Serra ao papa: como críticas a Trump puseram autoridades mundiais em 'saia justa'

Nicolás Celaya/Xinhua
Imagem: Nicolás Celaya/Xinhua

10/11/2016 17h42

A surpreendente vitória de Donald Trump na eleição presidencial americana criou uma situação desconfortável para diversas autoridades mundiais que, durante a campanha fizeram duras críticas ao então candidato republicano.

Isso porque, mesmo antes de se mudar para a Casa Branca - a posse será apenas em janeiro -, Trump já forçou uma moderação nos pronunciamentos de quem antes batera pesado nele.

Uma galeria que vai do Papa Francisco ao ministro brasileiro das Relações Exteriores, José Serra. E que se viu de mãos atadas por causa do protocolo.

Confira abaixo algumas das guinadas no discurso:

Papa Francisco

Antes: Em fevereiro, durante uma visita ao México, o pontífice foi taxativo ao comentar a repercussão dos ataques de Trump a imigrantes latinos, sobretudo os mexicanos, o que incluiu a proposta de construir um muro na fronteira com o país.

Francisco questionou a fé de Trump ao dizer que "uma pessoa que pensa apenas em construir muros em vez de pontes não é cristã".

Agora: Pelo Twitter, o papa, por meio de um de seus porta-vozes, felicitou Trump pela vitória e disse desejar que ele faça um governo "verdadeiramente produtivo".

Boris Johnson, ministro britânico das Relações Exteriores

Antes: Há um ano, quando ainda era deputado federal e não tinha se transformado no principal cabo eleitoral do "Brexit" - a saída do Reino Unido da União Europeia - Johnson reagiu com sarcasmo afiado quando o bilionário, dias depois dos ataques que mataram mais de 100 pessoas em Paris, defendeu uma moratória da imigração muçulmana para os EUA.

Até porque, em seu pronunciamento, Trump afirmou que áreas de Londres "tinham se tornado perigosas demais por causa dos muçulmanos" - Johnson foi duas vezes prefeito da capital britânica.

"A única razão pelo qual não vou a algumas partes de Nova York é que posso encontrar Donald Trump."

Agora: Além de uma mensagem de congratulações, o hoje chanceler britânico disse estar "aguardando com expectativas a oportunidade de trabalhar com ele (Trump)".

François Hollande, presidente da França

Antes: Durante uma entrevista coletiva em agosto, em Paris, Hollande disse que a oratória de Trump "fazia até americanos terem vontade de vomitar".

Agora: "Saúdo-o, como é natural que dois chefes de nações democráticas o façam".

Matteo Renzi, primeiro-ministro da Itália

Antes: Renzi foi um dos poucos líderes mundiais que tomaram partido publicamente em relação à corrida presidencial nos EUA - apoiou a candidatura de Hillary Clinton.

"Trump representa a política do medo. A política não é apenas uma questão de gritar e criar divisões", disse o premiê no mês passado, quando visitou Washington.

Agora: "Desejo-lhe sucesso. A amizade entre Itália e Estados Unidos é sólida."

Donald Tusk, presidente do Conselho da União Europeia

Antes: O polonês, que chefia a principal instância de decisão da UE, fez piada com o xará. "Um Donald já é mais do que suficiente."

Depois: "Minhas congratulações sinceras. É mais importante do que nunca fortalecermos as relações transatlânticas (entre a UE e os EUA)."

José Serra, ministro brasileiro das Relações Exteriores

Antes: "Todos os que querem o bem do mundo devem apoiar a Hillary. A vitória de Trump seria um pesadelo." Foi o que chanceler brasileiro disse em junho, em uma entrevista ao jornal Correio Braziliense.

Agora: "A gente só tem pesadelo dormindo. Agora, tendo resultado da eleição, num sistema democrático, vamos olhar os interesses do nosso país. Acreditamos que, de ambos os lados, prevalecerá a determinação de reforçar relações entre Brasil e Estados Unidos."