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A jovem republicana antifeminista e ultraconservadora que está batendo Trump em popularidade no Facebook

Tomi Lahren, a jovem conservadora que é sucesso na internet - BBC News
Tomi Lahren, a jovem conservadora que é sucesso na internet Imagem: BBC News

02/12/2016 12h39

Uma das conservadoras mais populares do Facebook ganhou visibilidade com vídeos ácidos contra os liberais americanos.

Ela é uma defensora da liberdade de expressão. Diz a seus oponentes que devem "sentar-se e parar de fazer escândalos". Uma antifeminista que admira mulheres fortes. Uma fã de rap que antagonizou o movimento Black Lives Matter ("As vidas dos negros importam", em tradução livre).

Tomi Lahren é uma republicana de 24 anos que gosta de provocações e se tornou uma das comentaristas mais seguida no Facebook nos EUA. Diz que tudo o que quer é começar uma conversa.

Apresenta um programa na plataforma multimídia The Blaze, disponível em TV, internet e rádio, mas a sua fama vem de um segmento em particular. É o "Final Thoughts" - três minutos de ideias em alta velocidade, em que ela fala 50% mais rápido do que a média, olhando diretamente para a câmera.

Os comentários são ácidos, cheios de sarcasmo e, dependendo de sua perspectiva política, direto e estimulante ou desagradável e enfurecedor.

Os vídeos de Lahren frequentemente geram mais acessos do que os postados na página oficial do presidente eleito Donald Trump no Facebook.

Talvez o de maior audiência tenha sido o comentário em que ataca o jogador de futebol americano Colin Kaepernick, quando ele declarou que se ajoelharia em vez de ficar de pé quando o hino nacional dos Estados Unidos tocasse antes dos jogos. Kaepernick disse que o gesto é um protesto contra a opressão racial e foi alvo de intenso debate.

Lahren despejou sua ira contra o atleta com sua já característica acidez.

"Colin, eu apoio seu direito à liberdade de expressão. Vai fundo, amigo!"

"Se esse país te enoja tanto, vá embora", ela continua. "Parece-me que culpar os brancos por todos os seus problemas pode fazer com que você seja o racista."

Ela continua e ataca suas origens, dinheiro e aptidões atléticas (uma promessa do esporte, Kaepernick tem tido problemas nas últimas temporadas) até concluir com um último golpe: "Se você quiser se sentar, agora é o momento. No banco de reservas, pois você é péssimo. Mas talvez você deva se levantar para o hino."

O vídeo foi assistido mais de 66 milhões de vezes.

O segmento rendeu a ela um séquito de fãs, críticos e muita reprovação por parte dos liberais. "White Power Barbie" (ou Barbie da Supremacia Branca, em tradução livre) é um dos insultos mais comuns - muitos outros são impublicáveis.

E, em tempos de redes sociais, ela toca num ponto crucial: "Quer você me ame ou odeie, você continua assistindo".

Para aqueles esperando uma ideóloga irada, conhecer Lahren pessoalmente pode te pegar um pouco desprevenido. Nos escuros estúdios da The Blaze nos arredores de Dallas, ela fica relaxada, simpática e fala rápido como sempre.

Lahren cresceu em uma família rural na Dakota do Sul e tem ascendência Norueguesa e Alemã. Mas ela é rápida em enfatizar: "Sou americana, primeiro e antes de tudo".

Ela conta que seus pais não eram exatamente engajados com política mas juntos eles assistiam aos noticiários noturnos e discutiam eventos da atualidade.

"Foi ali que aprimorei minhas habilidades para o debate", diz. "Foi ali que tudo realmente começou, muito muito jovem."

Depois de estudar na Universidade de Nevada, em Las Vegas, ela ganhou um programa no canal conservador One America News até ser contratada pela The Blaze. Jornalismo tradicional, afirma, não é para ela.

"Eu nunca quis ser neutra", conta. "Eu nunca quis informar as notícias, eu queria comentar as notícias, eu queria fazer as notícias."

Justa e equilibrada ela não é.

Lahren egue uma argumentação ao estilo de Trump em temas como imigração e o islamismo. Comparou o movimento Black Lives Matter à Ku Klux Klan e não apenas no vídeo sobre Kaepernick, mas também em outros, ela critica os negros americanos pelo desemprego, uso de drogas e outros problemas sociais.

Em questões relacionadas às mulheres, toca em um ponto que vem se popularizando na direita - o de que o feminismo, no passado uma busca louvável por igualdade, foi levado "longe demais" por radicais acadêmicas.

"Acredito no empoderamento feminino, gosto de elevar as mulheres, gosto de ajudar as mulheres atrás de mim e à minha frente", diz. "Admiro (a apresentadora de TV) Oprah Winfrey, mulheres de esquerda, de direita, em todo lugar."

Lahren diz que seu rápido sucesso no Facebook entre os conservadores causou alguns problemas em sua vida pessoal. "É algo difícil de explicar para as pessoas, que se você for associado a mim, você pode sofrer alguma consequência, pode ser atacado nas redes sociais", afirma. "Sempre tenho que fazer um preâmbulo em meus relacionamentos com esse aviso."

Isso custou a ela um namoro - o término foi tema de um segmento do "Final Thoughts" com um tom bem diferente. Teve quase dois milhões de visualizações.

Durante a eleição americana, Lahren inicialmente apoiou o Senador Marco Rubio, da Flórida, mas depois passou firmemente para o lado de Donald Trump.

"Estou desafiando a maneira como as pessoas observam seu próprio mundo e as pessoas não foram questionadas no passado", afirma. "Eu cutuquei a onça".

Ela é a personagem de mais sucesso da Blaze nas redes sociais, o que é muito interessante considerando a trajetória de seu fundador, Glenn Beck.

Beck, que destilava teorias da conspiração em seu programa na Fox News, tornou-se um opositor de Trump que, recentemente disse à revista "New Yorker" que Obama o tornou um homem melhor.

Lahren nega que as diferenças causem tensão nos estúdio da televisão. "Por sorte temos um ambiente em que podemos discordar".

O presidente Obama é um alvo recorrente. Será que ela vai mudar quando um republicano chegar à Casa Branca?

"Eu sempre vou ser um azarão, sempre vou ter que batalhar para subir", afirma. "Não vou criticar Donald Trump se ele tiver que fazer concessões, porque isso é parte de um bom líder. Contudo, eu vou cobrar de Trump, porque existem americanos demais que contam com ele."