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Conspiração ou espionagem? O que se sabe sobre a acusação de que a Rússia interferiu na eleição de Trump

Getty Images
Imagem: Getty Images

12/12/2016 20h37

Com um tuíte, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, inflamou ainda mais a polêmica sobre as suspeitas de que hackers russos influenciaram a eleição presidencial.

"Você consegue imaginar se o resultado da eleição fosse o oposto e NÓS estivéssemos tentando usar a carta da Rússia/CIA. Isso seria chamado de teoria da conspiração!"

No fim de semana, as duas principais agências de segurança dos EUA - o FBI (Agência Federal de Investigações) e a CIA (Agência Central de Inteligência) - teriam descoberto intervenções da Rússia nas eleições do país para promover a vitória de Trump. As informações foram divulgadas em dois importantes jornais dos EUA com base em relatórios das duas agências.

Em outubro, o governo dos EUA já havia apontado a responsabilidade da Rússia nesses ataques e acusado o país de interferir na campanha do Partido Democrata. Mas, segundo as novas informações divulgadas pela imprensa americana, a Rússia tinha como motivação ajudar Trump.

Mas o que se sabe até o momento sobre a acusação de que Moscou, de fato, agiu para promover a vitória do bilionário?

O que diz Trump

Em entrevista à TV e também em seu Twitter, o republicano criticou e colocou em xeque as informações contidas nos relatórios do FBI e da CIA.

Falando à rede Fox News, Trump disse que os democratas estavam divulgando documentos "ridículos" porque estavam envergonhados com a escala da derrota que sofreram nas eleições.

Ele disse que a Rússia poderia estar por trás dos ataques, mas que era impossível saber. "Eles não fazem ideia se foi a Rússia, a China ou alguém sentado em uma cama em algum outro lugar."

A equipe do presidente eleito também criticou agências de inteligência dos Estados Unidos: "Essas são as mesmas pessoas que disseram que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa".

O presidente eleito usou seu Twitter para questionar o porquê de as acusações não terem sido divulgadas antes da eleição.

"A não ser que você pegue os hackers no ato, é muito difícil determinar quem estava por trás da ação. Por que então isso não veio à tona antes?", tuitou nesta segunda-feira.

O que dizem outros republicanos

Republicanos experientes têm se juntado aos democratas para pedir investigações sobre o caso. O senador republicano John McCain disse, em um comunicado conjunto com líderes democratas, que o relatório da CIA "deveria deixar qualquer americano alarmado".

Ele afirmou que o Congresso deveria abrir uma investigação e que esta deveria ser ainda mais minuciosa do que a que será conduzida pela Casa Branca.

Nesta semana, o presidente Barack Obama, que deixa o cargo em 20 de janeiro, ordenou uma apuração sobre uma série de ataques cibernéticos que teriam sido promovidos pela Rússia durante a campanha eleitoral nos EUA.

De acordo com a Casa Branca, o relatório - que deve ser finalizado até o fim do mandato do democrata - será uma "sondagem profunda sobre um possível padrão de uma crescente atividade maliciosa na internet durante a temporada eleitoral".

As acusações foram negadas por funcionários do governo russo.

O que dizem os relatórios, segundo a imprensa

De acordo com o jornal The New York Times, os dois órgãos concluíram que "seguramente houve uma participação russa para hackear essas informações".

Segundo o jornal, entre os documentos obtidos pelos hackers estariam as contas de e-mails do Comitê Nacional Democrata e do presidente da campanha de Hillary Clinton, John Podesta.

O NYT afirma ainda que as agências de inteligência acreditam que essas informações teriam sido repassadas pelos russos ao WikiLeaks, que vazou o conteúdo.

O Washington Post afirma que um relatório da CIA chegou a informações parecidas. O jornal cita um oficial do governo dos EUA para afirmar que "a análise das agências de inteligência é de que o objetivo da Rússia era favorecer um candidato sobre o outro e ajudar na vitória de Trump".

Os novos detalhes teriam surgido durante a apresentação dos relatórios pelas agências de inteligência aos senadores na semana passada.

A reunião teria ocorrido com portas fechadas, mas, segundo o Washington Post, as informações teriam sido passadas por um funcionário do governo que não quis se identificar.

O que dizem os democratas

Na época da campanha eleitoral, e-mails da candidata democrata Hillary Clinton e de seus assessores foram sido hackeados, e o conteúdo, enviado ao WikiLeaks e postado online.

A divulgação causou problemas à campanha dos democratas. A então candidata passou boa parte dos debates se explicando sobre os e-mails, especialmente a descoberta de que ela quebrou regras oficiais ao trabalhar com informações secretas usando um servidor privado em sua casa em Nova York quando ainda era secretária de Estado.

Hillary e sua equipe não se cansaram de acusar o rival republicano e de que os russos estavam por trás da invasão às contas de e-mail dos democratas.

Um dos críticos mais severos foi John Podesta, chefe de campanha de Hillary, cuja conta também foi invadida. Na época, ele acusou o governo russo de responsabilidade pelo vazamento e disse que a campanha de Trump já sabia a respeito.

O que diz analista da BBC

Para o correspondente da BBC em Washington, Anthony Zurcher, apesar de Trump dizer o contrário, ele entrará na Casa Branca em uma situação complicada - e a derrota na votação popular de 2,8 milhões de votos é apenas um dos fatores que colaboram para isso.

"Esse cenário provavelmente explica o porquê de a equipe de Trump estar respondendo de maneira tão incisiva as acusações de que hackers russos influenciaram a política americana em uma tentativa para favorecer o republicano. Assim como a recontagem dos votos, isso pode ser visto como outra maneira de minar a legitimidade da vitória de Trump", afirmou o correspondente.

Para Zurcher, não importa que seja bem pouco provável que a recontagem altere os resultados das eleições ou que os ataques hackers estejam lá no fim da lista de motivos que causaram a derrota de Hillary.

"Os tuítes raivosos de Trump e a indignação de seus partidários são evidência suficiente de que o presidente eleito se sente ameaçado. No caso da Rússia, no entanto, os comentários raivosos de Trump podem custar um alto preço político."