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O 'pesadelo kafkiano' do casal americano sequestrado há 4 anos no Afeganistão e que teve 2 filhos no cativeiro

SITE Intel Group/AP
Imagem: SITE Intel Group/AP

22/12/2016 09h31

"Esperamos desde 2012 que alguém entenda o nosso problema". A queixa é da americana Caitlan Coleman, que está há quatro anos em cativeiro no Afeganistão com o marido. Durante esse tempo em poder de um grupo insurgente, ela teve dois filhos.

O grupo radical sunita conhecido como Rede Haqqani (HQN), que, segundo analistas, teria assumido o comando do movimento Talebã, divulgou no começo da semana um vídeo em que o casal implora aos governos de seus países que façam de tudo para libertá-lo.

Na gravação, Caitlan diz que ela e o marido, o canadense Joshua Boyle, estão vivendo um "pesadelo kafkiano" sem fim.

Apelo de 4 minutos

Caitlan estava grávida quando o casal foi tomado como refém pelo HQN, que exige a libertação de três de seus membros presos no Afeganistão.

O grupo, que surgiu no norte do Paquistão, executa ataques de guerrilha no leste do Afeganistão e na capital, Cabul, de acordo com o site especializado em assuntos militares Global Security.

O HQN é considerado o grupo mais perigoso e sofisticado agindo contra as forças afegãs e da missão internacional de mais de 13 mil homens liderada pela Otan que presta assistência militar e de inteligência ao governo do país.

O porta-voz do Ministério do Interior afegão, Sediq Seddiqi, afirmou ao Global Security que o HQN e a rede Al-Qaeda exercem, juntos, o controle do movimento Talebã.

Os talebãs governaram o Afeganistão de 1996 a 2001 e implantaram um regime fundamentalista islâmico, em que eram proibidos livros, cinema, TV, internet, música e artes.

No vídeo de quatro minutos, o casal aparece com os dois filhos.

Caitlan fez um apelo ao presidente Barack Obama e ao presidente eleito Donald Trump para que resgatem a família.

"Meu filhos viram como a mãe deles foi desonrada", disse a americana, de 31 anos, sem esclarecer a que se referia. Caitlan estava grávida quando o casal foi capturado pelo HQN. 

22.dez.2016 = Caitlan Coleman fala em vídeo do Taliban ao lado do marido Joshua Boyle e seus dois filhos - Taliban/Social media/Reuters - Taliban/Social media/Reuters
Imagem: Taliban/Social media/Reuters

Reações internacionais

Michael O'Shaughnessy, porta-voz do Departamento de Assuntos Mundiais do Canadá, disse que o país está "profundamente preocupado" e pediu a libertação incondicional do casal.

O Departamento de Estado americano limitou-se a informar que está analisando o vídeo.

O governo afegão não se manifestou.

Já um porta-voz do Talebã, Zabullah Mujahid, disse: "Estamos investigando o vídeo e nesta etapa não confirmamos nem negamos a sua divulgação".

Joshua e Caitlan foram capturados no fim de 2012, quando viajavam como mochileiros pela província afegã de Wardak, um reduto dos radicais do HQN próximo a Cabul.

Antes disso, eles haviam passado pela Rússia e pela Ásia Central.

"São mais de quatro anos, por isso peço que se apressem", diz Joshua no vídeo.

O casal já havia aparecido, sem os filhos, em outro vídeo divulgado em agosto.

O governo dos EUA tentou negociar a libertação de Caitlan e Joshua algumas vezes, mas sem sucesso, segundo o jornal The New York Times.

Negociações fracassadas

A última tentativa foi frustrada em maio, depois que militares americanos mataram o líder do Talebã, mulá Akhtar Muhammad Mansour, em um ataque com drone, afirma o jornal.

As autoridades americanas dizem que o HQN vem exigindo a libertação de um dos seus comandantes, Anas Haqqani, capturado pelo serviço secreto afegão há dois anos.

O governo afegão condenou Haqqani à morte e o grupo radical promete matar a família se ele for executado.

Caitlan disse que "eles ameaçam mesmo retaliar contra a nossa família".

"O grupo vai nos punir e machucar. Por isso, pedimos que vocês sejam misericordiosos com a gente deles e, se Deus quiser, eles vão nos libertar".

Ainda de acordo com o New York Times, pelo menos outros dois americanos estariam em poder do HQN: um professor universitário sequestrado em agosto e um homem do estado americano de Massachusetts, refém desde 2014.

Em setembro, um comando militar americano tentou libertar o professor, mas fracassou, informou o jornal.