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Nem visitas, nem água: conheça a rotina de 'El Chapo' atrás das grades nos EUA

O mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán desembarca em Nova York após ser extraditado - U.S. officials/Divulgação
O mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán desembarca em Nova York após ser extraditado Imagem: U.S. officials/Divulgação

04/02/2017 11h06

Joaquín "El Chapo" Guzmán não está nada feliz com suas condições de encarceramento em Nova York. Foi o que advogados do notório narcotraficante mexicano, extraditado em janeiro para os EUA, relataram durante a segunda audiência em um tribunal americano, na sexta-feira (3).

Conhecido por suas fugas arrojadas de prisões mexicanas, El Chapo, segundo sua defesa, teve negado direito de visita da esposa e mesmo um pedido por um copo d?água.

Na audiência de sexta-feira, realizada em um tribunal no bairro do Brooklyn, Guzmán, que chegou aos EUA no último dia 19, pôde ao menos trocar olhares com Emma Coronel, que viajou do México especialmente para a ocasião.

O juiz Brian Cogan, porém, negou um pedido para que Emma o veja na prisão de segurança máxima em Manhattan ou que El Chapo tenha mais acesso aos advogados.

Acusado de liderar o temido Cartel de Sinaloa, responsável pela entrada de milhares de toneladas de drogas nos EUA, e de vários outros delitos graves, como sequestros e assassinatos, o mexicano, de 59 anos, declarou ser inocente. No entanto, corre o risco de ser sentenciado a passar o resto da vida na prisão.

Cogan fez referência às duas fugas de Guzmán no México ao decidir que as autoridades carcerárias nos EUA têm poder para decidir sobre suas condições de encarceramento em Nova York. "Há motivos para que medidas extras de segurança sejam tomadas", disse, em seu despacho.

"Muito difícil"

O traficante voltou a aparecer no tribunal em um traje de presidiário azul escuro, mas sem algemas. Durante a audiência, ficou em silêncio, ouvindo o que o tradutor a seu lado lhe dizia.

Emma Coronel, uma ex-modelo 32 anos mais jovem que o marido, sentou-se nas primeiras fileiras da galeria pública, a poucos metros de Guzmán. Segundo uma advogada de Guzmán, Michelle Gelernt, a mulher viveu um "situação muito difícil".

"Foi a primeira vez que ela viu o marido desde que ele foi trazido aos EUA e até agora foi também a única forma que lhe permitiram vê-lo", explicou Gelernt.

A advogada alega que as condições de encarceramento de El Chapo deveriam ser flexibilizadas porque seu cliente tem "mostrado bom comportamento".

"Está preso em uma cela durante 23 horas por dia e somente permitem uma hora de exercício", conta.

A advogada rechaça o argumento de que as fugas de El Chapo no México justificariam o rigor das autoridades carcerárias americanas. Diz ainda que, durante uma reunião de três horas com os advogados, os guardas se negaram a dar água ao prisioneiro. "Não vejo como um copo d'água poderia ajudá-lo a fugir".

Legalidade

A defesa de El Chapo questiona ainda a legalidade de sua extradição. Mais precisamente o fato de que acusações apresentadas no tribunal em Nova York não constavam do pedido de extradição feito junto ao governo mexicano.

A promotoria questionou o uso de dinheiro público para defender um réu com uma fortuna estimada em mais de US$ 1 bilhão. O juiz chegou a nomear um advogado particular para cuidar do caso, mas a defensoria pública alegou, com sucesso, que as condições de reclusão de Guzmán impedem que ele possa ter acesso apropriado a outro defensor.

"Se querem que ele contrate um advogado, acreditamos que seja necessário permitir com que ele encontre-se ou fale com sua família", explica Michael Schneider, outro advogado de Guzmán. A próxima audiência será apenas em maio.