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Quem é Milo Yiannopoulos, astro da extrema-direita dos EUA alvo de polêmica por declaração sobre pedofilia

Drew Angerer/Getty Images/AFP
Imagem: Drew Angerer/Getty Images/AFP

22/02/2017 16h10

A força da controvérsia tornou famoso o jornalista britânico Milo Yiannopoulos. Conhecido por suas atitudes e opiniões provocadoras - de teor ultraconservador sobre raça, religião e sexo -, ele se autointitula "o mais famoso supervilão da internet". Mas analistas, meios de comunicação e instituições o definem de maneira bem diferente: como um "defensor do estupro" e da pedofilia.

Até a última terça-feira, ele era editor no site de notícias Breitbart News, de extrema-direita e que era dirigido por Steve Bannon, atual estrategista-chefe da Casa Branca.

Yiannopoulos, de 32 anos, demitiu-se depois da recente polêmica envolvendo a divulgação de um vídeo no qual aparentemente aprova a pedofilia.

Na gravação - feita há um ano e que voltou a ser divulgada agora -, ele diz que as relações entre "garotos mais jovens" e homens mais velhos poderia ser uma "relação de amadurecimento... na qual esses homens mais velhos ajudam os meninos a descobrir quem são".

No mesmo vídeo, esclarece que não defende a pedofilia. "Pedofilia não é atração sexual por alguém de 13 anos que é sexualmente maduro, é atração por crianças que não atingiram a puberdade", disse.

Desconvidado e sem livro

Na gravação o jornalista, abertamente gay, também se manifesta de forma positiva sobre a sua própria relação, quando tinha 17 anos, com um sacerdote católico de 29.

Por causa do vídeo, Yiannopoulos foi desconvidado na última segunda-feira de uma importante conferência anual conservadora americana, a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), em Maryland, na qual deve estar presente o presidente Donald Trump.

Além disso, a editora Simon & Schuster cancelou o lançamento de sua autobiografia, Dangerous (Perigoso, em inglês), prevista para junho.

Yiannopoulos recorreu ao Facebook para se defender, com uma mensagem na qual assegura que não apoia a pedofilia, descrita como "um crime asqueroso e vil, talvez o pior". Disse também que as imagens foram editadas de propósito para prejudicá-lo.

Depois, em outra mensagem, se desculpou e admitiu que, em parte, a culpa é sua porque suas próprias experiências o levaram a pensar que "poderia dizer o que quisesse sobre esse assunto, sem se importar se seria ofensivo".

"Queria reafirmar minha total repugnância aos adultos que abusam sexualmente de menores. A pedofilia me horroriza", acrescentou. "Sou culpado por usar uma linguagem imprecisa, da qual me arrependo."

O presidente da União Conservadora Americana (ACU, na sigla em inglês), Matt Schlapp, que organiza a conferência CPAC, anunciou pelo Twitter o cancelamento do convite a Yiannopoulos, "devido à revelação de um vídeo ofensivo em que aprova a pedofilia".

"Sabemos que o senhor Yiannopoulos respondeu no Facebook, mas isso é insuficiente. Ele deve responder a perguntas difíceis e o instamos a assumir esses comentários perturbadores", diz a mensagem de Schlapp.

Não foi a primeira vez que Yiannopoulos provocou polêmica com suas opiniões.

No início do mês, a Universidade de Berkeley, na Califórnia, cancelou uma conferência dele por causa dos fortes protestos dos estudantes.

Os alunos reagiram ao que consideraram declarações racistas e misóginas feitas pelo jornalista.

Expulso do Twitter

Em julho de 2016, Yiannopoulos - conhecido no Twitter como @Nero - foi notícia ao ser expulso permanentemente do microblog.

Até então, seus tuítes - considerados violações aos termos do serviço - tinham recebido suspensões temporárias.

Mas o assédio moral à atriz negra Leslie Jones, uma das estrelas da refilmagem de Caça-Fantasmas, levou ao cancelamento definitivo da sua conta na rede social.

O Twitter informou a medida a Yiannopoulos, afirmando que ele tinha desrespeitado repetidamente as regras da rede,"especificamente as que proíbem a participação ou o incitamento a abuso contra indivíduos".

Leslie Jones fora alvo de uma série de tuítes racistas e sexistas, incluindo duas mensagens de Yiannopoulos.

As agências internacionais de notícias AP e Reuters informaram que o jornalista estava por trás de ações mais amplas contra a atriz que, consequentemente, decidiu abandonar o Twitter.

Sem mencionar diretamente o caso de Jones, um porta-voz do microblog disse que "no Twitter as pessoas devem poder expressar opiniões diversas e crenças, mas ninguém merece ser submetido a abuso".

O jornalista se defendeu argumentando que o Twitter o estava "responsabilizando pelas ações de fanáticos e trolls", utilizando uma lógica de esquerda.

Alguns dos seus mais de 300 mil seguidores criaram a hashtag #FreeMilo, em protesto contra o que acreditavam ser uma medida que atentava contra a liberdade de expressão.

'Gamergate'

Yiannopoulos começou a ficar famoso na cobertura de um escândalo para o Breitbart News.

Surgido em 2014, o Gamergate é uma controvérsia sobre corrupção e chauvinismo no jornalismo e na comunidade de fãs de jogos.

O escândalo veio à tona com a acusação de que a desenvolvedora de jogos americana Zoe Quinn teria mantido relacionamentos amorosos com jornalistas especializados em troca de críticas positivas na imprensa.

O caso derivou para um movimento na internet em que várias mulheres da indústria de jogos se tornaram alvo de uma campanha de desmoralização, com ameaças de estupro e de morte.

Yiannopoulus tomou o caso para si. "Fanfarronas feministas estão acabando com a indústria dos videogames", disse o título da sua coluna na ocasião.

Para ele, a cultura dos jogos havia sido politizada por "um exército de programadoras feministas, sociopatas e ativistas, apoiadas por blogueiros de tecnologia americanos dolorosamente politicamente corretos".

"Essas mulheres cortejam de propósito - e depois exploram - reações turbulentas e pouco agradáveis dos jogadores homens e depois as usam para atrair atenção para elas mesmas", escreveu à época.

Tomando partido daquele movimento e com sua visão conservadora, Yiannopoulos conquistou espaço próprio no mundo dos chamados influenciadores como um ícone da defesa dos direitos masculinos.

E o antifeminismo não é a única causa que lhe é cara.

Ele se descreve como um "libertário cultural" e um "fundamentalista da liberdade de expressão", que se opõe à ideia de justiça social e do politicamente correto.

Também manifestou-se contra o que chama de "pânico moral" sobre a cultura do estupro nos campus universitários e afirmou que isso não passava de um "mito".

Em 2015, a Universidade de Manchester considerou-o um "apologista do estupro" e proibiu uma palestra que fazia parte de uma série de apresentações batizada por ele próprio como "Dangerous Faggot Tour" ("Tour da Bicha Perigosa", em inglês).

Yiannopoulos é visto como um dos porta-vozes do movimento alt-right ("direita alternativa") nos Estados Unidos.

A alt-right já foi chamada de extrema-direita da era digital e agrega grupos distintos que têm, em comum, uma intensa atuação nas redes sociais, muitas vezes provocadora.

O Breitbart News, considerado uma plataforma do movimento, é o quarto site do mundo em total de comentários, segundo o próprio Steve Bannon.

O Twitter era uma das plataformas em que Yiannopoulos expressava suas opiniões.

Depois de ser banido de vez, ele fez breves declarações em que previa o "começo do fim do Twitter".

"Algumas pessoas vão achar isso perfeitamente aceitável. Mas não qualquer um que acredite na liberdade de expressão", disse.