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Em 'dia triste', UE diz que 'Brexit' pode ser oportunidade para recomeço

O representante britânico na União Europeia Tim Barrow (à esq.) entrega carta para início do Brexit a Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu - Yves Herman/Reuters
O representante britânico na União Europeia Tim Barrow (à esq.) entrega carta para início do Brexit a Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu Imagem: Yves Herman/Reuters

29/03/2017 10h45

Depois de receber das mãos do embaixador britânico para a União Europeia, Tim Barrow, a carta que ativa as negociações da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) - o Brexit -, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou que "há algo de positivo" nessa separação, que já foi descrita como "tragédia" pela Comissão Europeia (CE), Jean-Claude Juncker.

"Não há razão para fingir que hoje é um dia feliz, nem em Bruxelas, nem em Londres. Paradoxalmente, há também algo de positivo no Brexit. O Brexit deixou os outros 27 países muito mais determinados e unidos do que antes", disse Tusk.

Desde a decisão britânica de sair do bloco, a UE tem tentado tranquilizar seus cidadãos com declarações de união e apresentando a mudança como uma oportunidade para melhorar seu projeto comum.

"A UE está escolhendo começar de novo", afirmou o primeiro-ministro italiano, Paolo Gentiloni, ao presidir a celebração dos 60 anos do Tratado de Roma, no último final de semana.

Na ocasião, os líderes dos 27 países-membros assinaram uma declaração se comprometendo a estabelecer "fronteiras seguras e uma imigração administrada de forma humana e efetiva" e a "tornar (suas) sociedades mais fortes e resistentes à globalização".

Também aceitaram a possibilidade de levar adiante planos mesmo sem o apoio unânime dos países membros, o que pode destravar o complicado processo de decisão a 27 que atrasa a adoção de medidas muitas vezes urgentes.

A chamada Declaração de Roma reflete uma mudança de atitude na UE frente ao choque inicial do Brexit, observa Shada Islam, diretora do grupo de reflexão Friends of Europe.

"O discurso do ano passado sobre uma 'depressão coletiva' e uma 'crise existencial' já não predomina. Talvez pela primeira vez na história recente, o público em muitas partes da Europa deseja que a UE alce voo. O Brexit, a eleição de (Donald) Trump (à presidência dos Estados Unidos), e simplesmente o sentido comum sobre a necessidade de trabalhar juntos em um mundo difícil têm levado muitos europeus a apoiar a UE", afirma.

"Sentiremos falta do Reino Unido. Mas também podemos garantir que a ruptura causada pelo Brexit seja acompanhada do surgimento de uma UE revigorada", opina Islam.

Prioridades

Tusk assegurou nesta quarta-feira que os 27 países que permanecem na UE "atuarão como um e preservarão seus interesses" nas negociações dos termos da saída do Reino Unido.

Os europeus prometem ser "construtivos" durante a negociação das condições do Brexit, que tem um prazo de dois anos para ser concluída.

"Lamentamos sua partida, mas estamos prontos. Esperamos ter o Reino Unido como um parceiro próximo no futuro", disse em uma breve declaração, sem entrar em detalhes.

A prioridade, segundo Tusk, será "minimizar as incertezas" para os 3,15 milhões de europeus que vivem atualmente no Reino Unido e os cerca de 900 mil britânicos expatriados em diferentes países da UE.

Estão na mesa questões como o direito à residência, à educação, ao acesso ao mercado de trabalho, à aposentadoria e a atendimento médico para pessoas que, em muitos casos, levam décadas vivendo em outro país.

O tema é igualmente importante para os brasileiros que vivem nas fronteiras britânicas graças à dupla cidadania de algum país da UE.

Detalhes

Até o momento, nenhuma das partes revelou como pretende lidar com essa e outras questões que deverão ser solucionadas antes de concluir a separação.

A posição europeia será decidida pelos governantes dos 27 países remanescentes no dia 29 de abril, em Bruxelas, com base em um plano que será apresentado por Tusk nesta sexta-feira.

O negociador da UE para o 'Brexit', o francês Michel Barnier, ainda terá que receber um mandato da Comissão Europeia antes de iniciar as conversas com Londres. Bruxelas estima que isso não acontecerá antes do final de maio.

A UE também deverá decidir se aceita começar a negociar sua futura relação diplomática e comercial com o Reino Unido simultaneamente à negociação do "divórcio", como pretende a primeira-ministra britânica, Theresa May.

A maioria dos líderes europeus se opõe à ideia. A menos de um mês das eleições presidenciais francesas, muitos acreditam ser necessário adotar uma linha dura frente a Londres para enviar um sinal desencorajador aos eleitores do partido antieuropeu Front National, de Marine Le Pen, cotado para chegar ao segundo turno com a promessa de realizar um plebiscito sobre uma possível saída da França da UE.

Se o bloco europeu já manifestou seu interesse em fechar um acordo de livre comércio com os britânicos após a consumação da saída, ele também deixou claro que nenhum país pode ter melhores condições que um de seus membros.

O primeiro sinal de que essa premissa será respeitada foi dado nesta mesma quarta-feira, a poucas horas da entrega do pedido de Brexit a Donald Tusk.

A Comissão Europeia (CE) vetou o projeto de fusão entre as bolsas de Londres (London Stock Exchange) e de Frankfurt (Deutsche Börse), alegando que a operação, avaliada em 26 bilhões de dólares, criaria um "monopólio 'de facto'".