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Entender objetivos dos EUA e pressionar Putin: a estratégia do G7 sobre conflito na Síria

Da esquerda para a direita, Federica Mogerini (representante da UE), Sigmar Gabriel (ministro alemão), Rex Tillerson (secretário americano), Chrystia Freeland (ministra canadense), Angelino Alfano (ministro italiano), Jean-Marc Ayralt (ministro francês), Boris Johnson (secretário britânico) e Fumio Kishida (ministro japonês) se encontram em encontro de representantes de política externa do G7 em Lucca, na Itália - Vicenzo Pinto/AFP
Da esquerda para a direita, Federica Mogerini (representante da UE), Sigmar Gabriel (ministro alemão), Rex Tillerson (secretário americano), Chrystia Freeland (ministra canadense), Angelino Alfano (ministro italiano), Jean-Marc Ayralt (ministro francês), Boris Johnson (secretário britânico) e Fumio Kishida (ministro japonês) se encontram em encontro de representantes de política externa do G7 em Lucca, na Itália Imagem: Vicenzo Pinto/AFP

10/04/2017 16h38

A busca por uma estratégia unificada para lidar com o conflito na Síria após o suposto ataque químico no país na semana passada deve dominar a reunião do G7, o grupo das sete maiores economias do mundo, que ocorre nesta segunda-feira (10) na Itália.

Ministros de Relações Exteriores de Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e dos Estados Unidos estão buscando formas de pressionar a Rússia a distanciar-se do presidente sírio, Bashar al-Assad.

Os aliados também deverão exigir mais clareza sobre a posição dos Estados Unidos em relação à Síria, após o que foi interpretado como "mensagens confusas" da administração Trump.

O secretário de Estado americano Rex Tillerson criticou duramente a Rússia no último domingo, afirmando que o país não impediu o governo sírio de realizar um ataque químico na cidade de Khan Sheikhoun, dominada pelos rebeldes, que deixou 89 mortos.

Mas Tillerson também afirmou que não haveria "nenhuma mudança na postura militar" dos EUA - mesmo após o presidente Donald Trump ter ordenado, em retaliação, um ataque aéreo a uma base do governo sírio.

Ele disse ainda que a "prioridade número um" de Washington na Síria continua sendo derrotar o grupo extremista autodenominado "Estado Islâmico".

Seus comentários ocorreram um dia depois que a embaixadora americana para a ONU disse que seria impossível estabilizar a Síria com o atual governo. "Não conseguimos, de forma alguma, ver paz naquela área tendo Assad como líder do governo sírio", disse Nikki Haly à rede de TV NBC.

Na semana passada, porém, ela havia dito que a remoção de Assad do poder não era prioridade para os EUA.

Antes do encontro do G7 na cidade de Lucca, na Toscana, Tillerson participou de um memorial às vítimas do massacre nazista no vilarejo italiano de Sant'Anna di Stazzema em 1944.

Ele fez um paralelo com o ataque químico na Síria, afirmando que os EUA "nos dedicamos a cobrar responsabilidade todo e qualquer um que cometer crimes contra inocentes em qualquer parte do mundo".

Pouco antes do início do encontro, o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Boris Johnson, disse que seriam discutidas novas sanções contra autoridades militares sírias e russas e afirmou que o presidente Vladimir Putin corria o risco de "toxificar a reputação da Rússia" ao continuar apoiando Assad.

Entenda, a seguir, os desdobramentos do acirramento da crise na Síria:

Como o G7 pretende pressionar a Rússia?

Os dois dias de reunião em Lucca serão dominados por uma busca coletiva por argumentos para persuadir Putin de que ele deve pôr fim ao apoio militar da Rússia a Assad e ajudar a acelerar negociações para uma transição política, segundo o correspondente diplomático da BBC James Robbins.

A Rússia já está sob uma série de sanções impostas pelos EUA e pela União Europeia em resposta à anexação da Crimeia e à crise no leste da Ucrânia. Os alvos das sanções são negócios e indivíduos russos, além de setores-chave da economia ligados à elite política do país.

Tillerson quer ir direto da reunião do G7 para Moscou na terça-feira, com o objetivo de confrontar o governo russo com uma série de demandas apoiadas pelos aliados dos EUA.

Qual é a política atual dos EUA com relação à Síria?

O ataque à base aérea de Shayrat é o tipo de intervenção direta na guerra civil de seis anos da Síria que o antecessor de Trump, Barack Obama, evitava.

Em um artigo recente para a BBC, o analista PJ Crowley disse que Obama escolheu definir especificamente o interesse vital dos EUA na Síria - derrotar o EI, mas sem se envolver mais profundamente em outros conflitos do Oriente Médio.

Até o ataque de sexta-feira, Trump parecia ir pelo mesmo caminho. Ele se opôs a uma ação militar em 2013 e se elegeu presidente com uma plataforma de resolver os problemas dos EUA, não da Síria.

Mas mesmo considerando o ataque aéreo decisivo para o futuro do conflito, a maioria dos analistas não vê uma mudança radical na política americana no país.

Fontes na Casa Branca disseram que qualquer diferença entre a política do governo e os comentários de Nikki Haley sobre a permanência de Assad no poder eram "não intencionais".

Mas um diplomata europeu foi citado pela agência de notícias Reuters dizendo que os EUA estão "tateando sem direção no escuro" na busca por uma transferência de poder na Síria.

Qual foi a resposta da Síria e de seus aliados?

A Síria negou ter usado agentes químicos contra a população e a Rússia afirma que os EUA não conseguiram produzir provas de que o governo Assad possui armas químicas.

Rússia e Irã, os principais apoiadores militares de Assad, também ameaçaram retaliação no caso de novos ataques aéreos americanos, dizendo que a decisão de Trump cruzou "linhas vermelhas".

"De agora em diante, nós responderemos com força a qualquer agressor ou a qualquer violação das linhas vermelhas de quem quer que seja, e a América conhece nossa habilidade de responder bem", disse um comunicado de um centro de comando conjunto representando as forças aliadas de Assad, divulgado no domingo.

O correspondente diplomático da BBC afirma que ainda não está claro se a atitude da Rússia em relação à Síria mudou depois do suposto ataque químico e do bombardeio aéreo americano.

Por que a base aérea de Shayrat foi bombardeada?

A base aérea síria foi o alvo do primeiro ataque direto e deliberado dos EUA nas forças sírias desde o início da guerra civil do país, há seis anos.

Cerca de 59 mísseis de cruzeiro foram lançados ao local em resposta ao suposto ataque químico que deixou mais de 80 mortos na última quarta-feira.

O porta-voz do Pentágono, capitão Jeff Davis, afirmou que a base aérea era usada para armazenar armas químicas, e que a inteligência americana comprovou que um avião saído daquela base soltou bombas preenchidas com um agente químico que afeta o sistema nervoso em Khan Sheikhoun.