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5 cenas que expõem a violência dos confrontos em protestos na Venezuela

Uma das fotos virais da última quarta-feira: momentos antes do confronto - Twitter/Reprodução
Uma das fotos virais da última quarta-feira: momentos antes do confronto Imagem: Twitter/Reprodução

04/05/2017 20h12

Demonstrações de violência extrema, dezenas de mortes e muita incerteza sobre o futuro. Esse tem sido o cotidiano na Venezuela em meio à nova onda de protestos contra o presidente Nicolás Maduro.

A oposição retomou a mobilização nas ruas na última quarta-feira, em resposta à convocação, pelo governo, de uma Assembleia Constituinte "popular". Apenas neste dia houve ao menos uma morte - e dezenas de feridos - nos protestos.

Em um vídeo que viralizou no país e simboliza a tensão latente nas ruas, é possível ver o presidente Maduro na televisão cantando e dançando enquanto entrega um decreto que formaliza a convocação da Constituinte ao Conselho Nacional Eleitoral, órgão eleitoral do país.

Depois, a câmera mostra, de uma janela, forças de segurança lançando bombas de gás lacrimogêneo na direção de manifestantes que tentavam - em vão - chegar à Assembleia Nacional.

A BBC solicitou ao governo venezuelano dados sobre mortos e feridos nos confrontos, mas não obteve resposta. Segundo informações das prefeituras de Baruta e Chacao, ambas de gestões opositoras, os protestos da quarta-feira, duramente reprimidos pelas forças nacionais de segurança, deixaram cerca de 350 feridos.

O Ministério do Interior e da Justiça confirmou que investiga as circunstâncias da morte de um manifestante em Caracas.

As imagens abaixo buscam resumir o que foram os últimos dias na Venezuela e a escalada da tensão política no país.

1) Morte por 'trauma profundo'

Em meio a um protesto na região de La Mercedes, em Caracas, um confronto entre autoridades e manifestantes deixou uma vítima: Armando Cañizales, de 18 anos.

O jovem morreu em decorrência de um "trauma profundo no pescoço que gerou choque e parada cardiorrespiratória", segundo informou o prefeito opositor do município de Baruta, Gerardo Blyde.

O Ministério Público investiga o caso.

O vídeo em que Cañizales é conduzido a uma ambulância em uma moto teve grande circulação nas redes sociais, principalmente após a notícia da morte do jovem ter se tornado pública.

Jornalista do portal Caraota Digital, Luis Olavarrieta filmou a cena. Ele disse à BBC que, naquele momento, "a repressão já completava quatro horas".

"E esse garoto, muito corajoso, era um dos primeiros da linha opositora", descreveu.

"De repente, ele saltou até mim, tentou tirar a máscara e caiu. Aí pegou seu irmão e outra pessoa e eu comecei a gravar."

O vídeo mostra o trajeto caótico com o rapaz até a ambulância - o jovem morre minutos depois, enquanto recebia assistência.

O ministro do Interior e da Justiça, Nestor Reverol, disse ter designado equipes especiais para conduzir as investigações sobre o caso.

Veículo militar avança sobre manifestantes em ato contra Nicolás Maduro - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Veículo militar avança sobre manifestantes em ato contra Nicolás Maduro
Imagem: Reprodução/Twitter

2) Avanço de blindado sobre manifestantes

Outra imagem que deu a volta ao mundo mostra um veículo blindado passando por cima de manifestantes na avenida Ávila, perto da conhecida praça Altamira.

A BBC reconstituiu o que ocorreu naquele momento a partir de conversas com fotógrafos e testemunhas que presenciaram o ocorrido e concordaram em falar desde que seus nomes não fossem revelados.

O confronto, segundo relataram, começou com bombas de gás lacrimogêneo e água lançados direto dos blindados, enquanto manifestantes respondiam com coquetéis molotov e pedras.

Os blindados, de acordo com essas testemunhas e vídeos publicados na internet, estavam recuando diante das barricadas de fogo montadas pelos manifestantes.

Em um determinado momento, eles se chocaram e o blindado começou a acelerar com a provável intenção de assustar os manifestantes - que, por sua vez, recuaram.

Logo, um blindado arrancou e passou por cima de vários deles, mas principalmente de um - a roda girou sobre seu corpo, entre o pescoço e o peito.

Até a publicação dessa matéria, não se sabia a identidade dessa pessoa nem o estado de saúde dela.

3) Jovem em chamas

Após o atropelamento, a Guarda Nacional recuou novamente, o que foi considerado uma vitória para os manifestantes.

Uma moto das forças de segurança acabou ficando para trás do blindado, e opositores a tomaram como troféu.

Eles começaram a pular sobre o veículo, cantando - mas nesse momento a moto explodiu e as chamas atingiram um manifestante.

De acordo com testemunhas, a pessoa ficou em chamas por cerca de 40 segundos até colegas apagarem o fogo com água.

Até o momento, também não se sabe a identidade e o estado de saúde do rapaz que sofreu as queimaduras.

Policiais atiram em manifestantes à queima-roupa - Reprodução - Reprodução
Policiais atiram em manifestantes à queima-roupa
Imagem: Reprodução

4) Disparos à queima-roupa

Outro vídeo viral do dia foi registrado na região leste da capital, onde se concentra a população de classe média.

Nas imagens é possível ver manifestantes opositores resguardados por um muro. Do outro lado, forças nacionais lançando bombas de gás lacrimogêneo.

Em determinado momento, dois guardas chegam à esquina da divisória e disparam uma bomba à queima-roupa.

"As pessoas não conseguiam ver os guardas", disse Luis Gonzalo Pérez, jornalista do Caraota Digital, que gravou o vídeo.

"À direita da imagem havia cinco ou seis blindados. No momento em que eu estou gravando havia 30 ou 40 policiais contra uns 20 manifestantes", descreveu.

O jornalista, como tantos outros, tem testemunhado situações semelhantes nos últimos meses. Segundo ele, nessas situações de extrema tensão a violência costuma "vir de ambos os lados".

"Mas uma coisa é atacar com pedras, outra é atacar com balas de borracha e gás lacrimogêneo", opinou.

Momento em que policial joga bomba perto de jornalistas - Reprodução - Reprodução
Momento em que policial joga bomba perto de jornalistas
Imagem: Reprodução

5) Bomba contra jornalistas

Em outro vídeo da publicação Caraota Digital, pode-se ver um policial lançando uma bomba de gás lacrimogêneo bem perto de um grupo de jornalistas.

"Ocasionalmente, já lançaram uma perto de mim", disse Pérez, que também registrou esse vídeo.

"Éramos um grupo de 20 jornalistas locais e estrangeiros. O policial ficou nos olhando e a deixou cair. Eu a devolvi e ele voltou a lançá-la em minha direção - aí ela explodiu", disse.

O vídeorrepórter disse ter se ferido com a bomba na terça-feira. Ele afirmou ter tido a perna atingida por um artefato e que também foi derrubado no chão por jatos d'água disparados por blindados da força nacional.