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As variáveis que poderiam levar Le Pen a uma improvável vitória na França

Miguel Medina/AFP
Imagem: Miguel Medina/AFP

06/05/2017 16h40

Com o encerramento da campanha presidencial francesa, o centrista Emmanuel Macron permanece como grande favorito para o segundo turno do pleito, que será realizado neste domingo.

As últimas pesquisas projetam uma vitória com folga de Macron, que soma 62% a 63% das intenções de voto e disputa contra a rival de extrema-direita Marine Le Pen, da Frente Nacional (FN).

Especialistas descartam a possibilidade da vitória de Le Pen. A vantagem de Macron nas pesquisas cresceu após o debate na TV entre os dois candidatos, na quarta-feira.

"Não é possível que ela ganhe", afirmou à BBC Brasil Pierre Martin, cientista político do Centro de Pesquisas Científicas da França (CNRS). "Nem mesmo Le Pen continuaria acreditando em sua eventual vitória."No entanto, apesar da ampla vantagem de Macron, alguns fatores poderiam alterar o resultado esperado e favorecer Le Pen na véspera da votação.

1. Abalo à imagem de Macron

Durante o agressivo debate de quarta-feira na TV, Marine Le Pen tentou comprometer a imagem de Macron, citando um rumor divulgado em redes sociais de que ele teria uma conta secreta no paraíso fiscal das Bahamas.

O candidato do movimento En Marche! (Em Marcha) alegou difamação e pediu investigação sobre os responsáveis pelo rumor. No dia seguinte ao comentário, Le Pen preferiu evitar o assunto, que ganhou destaque na imprensa.

A candidata também disse que Macron estaria ligado a uma entidade islâmica, a União das Organizações Islâmicas da França (UOIF) - que é próxima à Irmandade Muçulmana -, acusando seu adversário de ser complacente com o fundamentalismo islâmico.

A UOIF chegou a declarar apoio ao centrista "para barrar a extrema direita", mas informou não ter ligação com o candidato. Macron afirmou que jamais se encontrou com qualquer membro da entidade.

Na sexta-feira, antes do encerramento da campanha oficial, representantes da Frente Nacional publicaram mensagens SMS em redes sociais atribuídas a militantes de Macron que teriam lançado apelos para "matar" Le Pen.

As mensagens são falsas, segundo jornais franceses, mas foram compartilhadas milhares de vezes pelo Facebook e pelo Twitter.

Também na noite de sexta-feira, o En Marche!, movimento político de Macron, afirmou ter sido vítima de pirataria digital que resultou na divulgação, nas redes sociais, de e-mails e documentos contábeis do partido, "misturados a falsos documentos para semear dúvida e desinformação".

2. Evento imprevisível

Um atentado com inúmeras vítimas civis, como ocorreu em Nice, no ano passado, ou em Paris, em novembro de 2015, talvez pudesse alterar o voto de eleitores a favor da candidata da extrema direita.

Le Pen defende medidas mais radicais para combater o terrorismo, como fechamento das fronteiras do país, retirada da nacionalidade francesa de pessoas com dupla cidadania ligadas ao islamismo radical e expulsão da França de todas as pessoas investigadas atualmente por esse motivo.

3. Abstenção em massa da esquerda radical

Candidato do partido França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon obteve 7 milhões de votos no primeiro turno (19,6%).

Após a votação, ele não declarou apoio a Macron e apenas recomendou com veemência a necessidade de "barrar a FN", sugerindo que seus eleitores poderiam se abster ou votar em branco ou nulo.

O que farão os eleitores do antiliberal Mélenchon é uma das incógnitas do segundo turno. Pesquisas apontam que 35% a 41% de seus partidários rejeitam os dois candidatos ainda em disputa e pretendem se abster no segundo turno. O debate na TV teria contribuído para reforçar o desejo de abstenção.

Mas diferentes pesquisas indicam que cerca da metade deles (de 46% a 55%) poderiam votar em Macron. Le Pen obteria apenas de 10% a 14% dos votos dos eleitores da esquerda radical.

Dada a diferença de intenções de voto, seria necessário que grande parte desse eleitorado se abstivesse ou anulasse seu voto para que ela tivesse a vantagem.

4. Convencimento de eleitores indecisos

Mesmo que os indecisos resolvam votar em Marine Le Pen, isso não seria suficiente para a sua vitória. Mas suas chances poderiam se ampliar caso se beneficiem de outros fatores, como uma eventual alta abstenção.

Segundo pesquisa do Centro de Pesquisas Políticas da universidade Sciences Po de Paris, 8,5 milhões de eleitores de outros candidatos no primeiro turno devem optar por Macron no segundo turno e 4 milhões, por Le Pen.

Mesmo se a candidata da Frente Nacional conseguir reunir mais 2,5 milhões de votos (menos do que os 15% de indecisos), seria necessário, afirma o jornal Le Monde, que 40% dos eleitores se abstivessem, votassem em branco ou anulassem o voto para que ela ganhe.

A taxa de abstenção estimada para o segundo turno é de 25%, pouco acima do primeiro turno, algo incomum em eleições presidenciais francesas.

5. Sucesso na associação a François Hollande

Durante a campanha, principalmente do segundo turno, Le Pen reforçou a ideia de que Macron seria o candidato "das finanças" e das "elites". Com isso, busca atrair principalmente os eleitores da esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon.

Le Pen também insiste em que Macron - ministro da Economia do presidente François Hollande por dois anos - representa a continuidade do governo atual. Devido à sua forte impopularidade, Hollande desistiu de tentar a reeleição.

A estratégia de Le Pen de associar Macron a Hollande foi utilizada inúmeras vezes durante o debate na TV. A última ação de Le Pen, apesar do evento já estar encerrado, foi dizer a Macron: "Você é François Hollande".