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Eleições na França: cinco razões para entender a vitória de Macron

Christian Hartmann/Reuters
Imagem: Christian Hartmann/Reuters

07/05/2017 20h57

Emmanuel Macron desencadeou um terremoto na política francesa.

Há um ano, ele integrava o gabinete de um dos presidentes mais impopulares da história recente do país.

Agora, aos 39 anos, venceu a eleição presidencial, derrotando primeiramente a centro-esquerda e a centro-direita que predominavam no país, e depois a extrema-direita.

Ele teve sorte

Não há dúvida: os ventos da sorte sopraram para Macron e impulsionaram seu triunfo eleitoral.

Um escândalo de nepotismo derrubou as chances do favorito no começo da disputa, o candidato da centro-direita François Fillon. E o candidato do Partido Socialista (centro-esquerda), Benoît Hamon, de ala mais à esquerda dentro do próprio partido, sofreu com o abandono de eleitores mais tradicionais, que buscaram outros nomes.

"Ele foi muito sortudo, porque encontrou uma situação totalmente inesperada", afirmou Marc-Olivier Padis, do centro de estudos Terra Nova, de Paris.

Ele foi esperto

A sorte não explica toda a história.

Macron poderia ter tentado a candidatura dentro do Partido Socialista, mas percebeu, após anos de poder e popularidade baixa da gestão, que seria muito difícil fazer com que o público ouvisse a voz do partido.

"Ele conseguiu ver uma oportunidade onde ninguém viu", afirma Padis.

Macron analisou movimentos políticos que tinham surgido pela Europa - como o Podemos na Espanha e o Cinco Estrelas na Itália - e viu que não havia na França nenhuma força semelhante com possibilidade de embaralhar a luta pelo poder.

Em abril de 2016, ele lançou o seu movimento En Marche! (Em Marcha) e quatro meses depois deixou a gestão do presidente François Hollande.

Ele tentou algo novo na França

Após a fundação do En Marche, Macron seguiu as pistas da campanha de 2008 do ex-presidente americano Barack Obama e apostou na ajuda de voluntários, diz a jornalista freelancer baseada em Paris Emily Schultheis.

A primeira grande ação do movimento foi a Grande Marche (Grande Marcha), quando mobilizou um crescente contingente de ativistas inexperientes mas cheios de energia.

"A campanha usou algoritmos de uma empresa de consultoria política com a qual trabalharam - e que já tinha sido voluntária na campanha de Obama em 2008 - para identificar distritos e setores mais representativos da França como um todo", afirma Schultheis.

"Eles enviaram pessoas para bater em 300 mil portas."

Esses voluntários não só entregaram panfletos - eles conduziram 25 mil entrevistas em profundidade de cerca de 15 minutos com eleitores de todo o país. Essas informações foram incluídas em um amplo banco de dados que subsidiou a definição de prioridades e propostas para a campanha.

"Foi uma enorme pesquisa qualitativa para medir a temperatura do país, mas também possibilitou que as pessoas logo tivessem contato com seu movimento. Foi um treinamento que preparou o terreno para o que ele fez neste ano", diz a jornalista.

Ele tinha uma mensagem positiva

A imagem política de Macron parece cheia de contradições.

O "novato" que era protegido do presidente Hollande e depois seu ministro da Economia, o ex-alto funcionário de banco liderando um movimento popular, o centrista com um programa radical de reforma do setor público.

Era a munição perfeita para sua rival no segundo turno, Marine Le Pen, que afirma que ele foi o candidato da elite, e não o iniciante que dizia ser.

Mas ele se esquivou dos rótulos que o associavam a Hollande, criando um perfil de apelo entre franceses desesperados por algo novo.

"Há um clima pessimista que prevalece na França - até pessimista demais em alguns casos - e ele chegou com essa mensagem muito positiva e otimista", afirma Marc-Olivier Padis.

"Ele é jovem, cheio de energia e não está explicando o que fará pela França, mas como as pessoas terão oportunidades. Ele é o único com essa mensagem."

Ele concorreu contra Marine Le Pen

Confrontada com o tom otimista de Macron, a mensagem de Marine Le Pen assumiu conotação negativa - anti-imigração, anti-União Europeia antissistema.

Os comícios de Macron ocorriam em ginásios iluminados e ao som de música pop, diz Emily Schultheis, enquanto os atos de Marine Le Pen tinham manifestantes lançando garrafas, forte presença policial e um clima mais "nervoso".

O último debate entre os candidatos na TV, em 3 de maio, foi um desses eventos "nervosos", com insultos de ambos os lados.

Ela era uma "grande pastora do medo", uma "vendedora de óleo de serpente" da mesma estirpe extremista do pai. Ele era uma marionete socialista, uma ferramenta perigosa do capitalismo financeiro que faria tudo que a chanceler alemã Angela Merkel mandasse.

Mas muitos franceses se alarmaram diante da possibilidade de uma potencial Presidência de extrema direita desestabilizadora e divisiva, e viram em Macron o último obstáculo nesse caminho.

Marine Le Pen pode ter conduzido uma campanha eficiente, mas suas intenções de voto estavam em queda há meses. Ela liderava as projeções no ano passado, com cerca de 30%, e em duas semanas foi derrotada duas vezes por Emmanuel Macron.