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Por que Noam Chomsky crê que o Partido Republicano dos EUA é 'a organização mais perigosa da Terra'

Noam Chomsky concedeu entrevista ao programa Newsnight, da BBC - BBC
Noam Chomsky concedeu entrevista ao programa Newsnight, da BBC Imagem: BBC

12/05/2017 15h38

Em entrevista à BBC, o acadêmico e linguista americano Noam Chomsky disse que o Partido Republicano dos Estados Unidos é 'a organização mais perigosa da Terra'.

"É uma declaração que causa indignação e quando eu disse isso eu avisei 'olha, esta é uma declaração que traz indignação, mas é a verdade'", disse Chomsky.

"Você está classificando eles [os republicanos] como piores que Kim Jong-un, da Coreia do Norte, ou que o Estado Islâmico?", perguntou Evan Davis, apresentador do programa Newsnight, da BBC.

"O Estado Islâmico está comprometido em tentar destruir as probabilidades de termos uma existência humana organizada no futuro?", disse Chomsky em resposta.

"O Partido Republicano é tão ruim assim?", pergunta Davis.

"Bem, o que significa dizer 'nós não apenas não estamos fazendo nada em relação à mudança climática, também estamos tentando acelerar a corrida em direção ao precipício?'", afirmou Chomsky.

"Não faz diferença se eles acreditam de verdade ou não, se as consequências são 'vamos usar mais combustíveis fósseis, vamos acabar com as regulações que reduzem os gases do efeito-estufa, vamos nos negar a dar subsídios a países em desenvolvimento', se essa é a consequência, isso é extremamente perigoso'", afirmou o ativista.

Chomsky é um dos principais intelectuais da atualidade. Conhecido como "o pai da linguística moderna" e figura central da filosofia analítica, ele é autor de mais de 30 livros, entre eles "Para Entender o Poder e Quem Governa o Mundo".

A política no mundo

Apesar de criticar duramente o governo Trump e o próprio presidente, Chomsky nega que a ascensão de personagens como ele represente um retorno do fascismo.

"Não concordo que há um fascismo insipiente na sociedade americana. Não há ideologia, a única ideologia do Trump é a do 'eu' - isso é muito diferente do Hitler do Mussolini. Não há uma organização fascista, é um autoritarismo profundo e é muito perigoso, mas não se trata de fascismo".

Sobre o contexto político global, Chomsky também falou sobre a extrema-direita, citando a vitória do centrista Emmanuel Macron nas eleições francesas como uma repulsa ao conservadorismo. Mas ele admite que sua eleição não representa necessariamente uma queda do populismo na Europa.

"Não representa de forma alguma. Macron é um bom exemplo do colapso das instituições tradicionais - ele vem de fora desse espectro. E o voto nele é substancialmente um voto contra a (Marine) Le Pen que é reconhecida, de maneira correta na minha avaliação, como alguém que poderia ser um sério perigo. Na verdade, acho que os eleitores votaram em Macron meio enojados, não era a escolha de muitos deles", disse.

Chomsky não se posicionou sobre o Brasil na entrevista à BBC, mas já havia declarado seu apoio à ex-presidente Dilma Rousseff, em uma conversa com o programa americano de televisão Democracy Now, há cerca de um ano.

Na ocasião, pouco antes do impeachment da então presidente, ele afirmou que Dilma era "uma líder política que não roubou para enriquecer a si mesma sendo acusada por uma gangue de corruptos"

Ele também classificou o processo contra ela como um "golpe brando".

Na conversa com a BBC, o intelectual comentou o momento atual globalização, a "raiva" social e a polarização presentes em vários países do mundo. Para ele, as divisões continuam as mesmas, apesar de algumas transformações.

"Há muitas divisões na sociedade atual - há divisão religiosa, de todo tipo. Mas a divisão fundamental é a divisão de classes, e uma das razões para raiva que a gente vê hoje no mundo se dá porque nenhuma instituição e nenhum partido político está realmente representando os interesses da classe que representa grande parte da força de trabalho. Há outras fontes - mas são derivadas dessa de alguma forma, como a histeria anti-imigração, é em parte o reflexo da perda de oportunidades causada por programas neoliberais".

Posição sobre o clima

Chomsky, um dos acadêmicos mais famosos do mundo e conhecido por apoiar a esquerda, já havia dito anteriormente que os republicanos estão "predominantemente comprometidos a acabar com a vida humana no planeta".

O presidente dos EUA e republicano Donald Trump classificou as pesquisas científicas por trás das políticas sobre mudanças climáticas de "boatos".

Em 2016, durante sua campanha, ele prometeu tirar os EUA do Acordo de Paris, um tratado internacional assinado por vários países que se comprometeram em combater as mudanças climáticas.

Por outro lado, o secretário de Estado Rex Tillerson acabou de assinar a Declaração de Fairbanks, um documento classificando as mudanças climáticas como uma "séria ameaça" à região do Ártico e afirmando que é preciso tomar medidas para reduzir seus efeitos potencialmente prejudiciais.