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Por que a mesquita destruída em Mosul na batalha contra o Estado Islâmico era importante

Joint Operation Command/AFP
Imagem: Joint Operation Command/AFP

22/06/2017 15h17

A Grande Mesquita de al-Nuri, em Mosul, no Iraque, foi destruída durante confronto entre as forças do governo e o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico.

O Exército do Iraque informou que os militantes explodiram a mesquita e a marinete (torre muçulmana) de al-Hadba, um dos marcos mais famosos da cidade. O EI, por sua vez, acusou a coalizão coordenada pelos EUA de destruir o prédio, que tinha enorme importância simbólica para ambos os lados do conflito.

Foi nela que o líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi, fez uma rara aparição pública no início de julho de 2014, na qual proferiu um discurso proclamando a criação de um novo "califado" poucas semanas depois de seus homens tomarem o controle da cidade.

A Grande Mesquita recebeu o nome de Nur al-Din Mahmoud Zangi, um governante turco de Mosul e Aleppo, que ordenou sua construção em 1172, dois anos antes de sua morte.

Durante seus 28 anos de comando, Nur al-Din conquistou Damasco e pavimentou o sucesso de Saladin, que serviu como seu comandante no Egito antes de fundar a dinastia Ayyubid e retomar Jerusalém em 1187.

Nur al-Din também é reverenciado pelos jihadistas por seus esforços para fazer a ortodoxia muçulmana sunita prevalecer sobre o xiismo.

Apesar da sua conexão com uma personagem tão ilustre, tudo o que restava da mesquita original era uma minarete inclinada, algumas colunas e o mirabe, um nicho indicando a direção de Meca.

A torre cilíndrica era coberta de um elaborado trabalho de tijolos inspirado pelo design iraniano e coberto com uma pequena cúpula de gesso branco.

No momento em que foi concluída, a torre tinha 45 metros de altura. Mas quando o explorador Ibn Battuta visitou Mosul, no século 14, a torre já estava bastante inclinada e tinha o apelido de "al-Hadba", ou "jubarte".

24.mai.2017 - Vista do minarete inclinado de Hadba e a mesquita de Al-Nouri na Cidade Velha de Mosul, no Iraque - Ahmad al-Rubaye/AFP - Ahmad al-Rubaye/AFP
24.mai.2017 - Vista do minarete inclinado de Hadba e a mesquita de Al-Nouri na Cidade Velha de Mosul
Imagem: Ahmad al-Rubaye/AFP

Mistério e sangue

A causa da inclinação nunca foi totalmente conhecida. De acordo com a tradição local, a torre se curvou ao profeta Maomé quando ele passou por cima dela ao subir ao céu, ignorando o fato de que ele morreu séculos antes de ela ter sido construída.

Especialistas acreditam que a inclinação foi causada pelos fortes ventos do noroeste, o efeito do sol nos tijolos no lado sul ou o fraco gesso usado para manter os tijolos juntos.

Bombas que atingiram Mosul durante a Guerra entre Irã e Iraque também destruíram canos subterrâneos próximos à base do minarete, permitindo que o esgoto enfraquecesse as fundações.

Em 2012, a Unesco - agência da ONU para educação, ciência e cultura - calculou que a torre ficou inclinada em 2,5 metros do eixo perpendicular e alertou que tinha um grave problema de estrutura, com risco de desmoronar.

Em 2 de junho de 2014, a agência anunciou ter começado conversas com o governo provincial de Nineveh com o objetivo de estabilizar o minarete.

Mas no fim daquela semana, Mossul virou palco de confrontos violentos iniciados quando militantes do que era conhecido como Estado Islâmico no Iraque e do Levante (EIIL) realizaram um ataque surpresa.

Depois de tomarem a cidade, eles se dirigiram ao sul rumo à capital Bagdá, tomando o controle de grande parte das províncias de Nineveh, Salahuddin e Diyala em questão de dias.

Em 12 de junho, militantes mataram sumariamente o imã da Grande Mesquita, Mohammed al-Mansouri, por se recusar a se unir a eles, de acordo com a ONU.

No final de junho, o EI declarou formalmente o "califado", um estado governado, de acordo com a Sharia, pelo substituto de Deus na Terra, o califa.

Abu Bakr al-Baghdadi se nomeou califa Ibrahim e exigiu fidelidade de muçulmanos ao redor do mundo. O grupo se renomeou Estado Islâmico, retirando a menção ao Iraque e do Levante.

Em 4 de julho daquele ano, Baghdadi proferiu um sermão de sexta-feira do púlpito da Grande Mesquita de al-Nuri - sua primeira aparição pública em muitos anos.

Vestido com robe e turbante pretos - um sinal de que ele diz ser descendente da tribo do profeta Maomé Quraysh - Baghdadi disse que aceitou com relutância o título de "comandante dos fiéis".

No final do mês, moradores reclamaram que militantes do EI tentaram explodir o minarete de Hadba como parte do esforço para destruir santuários e túmulos reverenciados por muçulmanos, o que o grupo jihadista condena.

Dois moradores disseram que, quando militantes chegaram na Grande Mesquita carregando explosivos, uma multidão correu para o pátio e deu as mãos para formar uma corrente humana ao redor da torre.

Os militantes supostamente recuaram e saíram após serem advertidos por essas pessoas: "Se vocês explodirem o minarete, terão de nos matar".

Os moradores estavam certos de que os extremistas iriam voltar, mas o minarete ainda estava de pé quando as forças de segurança iraquianas se moviam como parte de uma ofensiva para retomar Mosul, iniciada pelo governo em outubro passado com o apoio aéreo e terrestre da coalizão liderada pelos EUA.

Na quarta-feira à noite, o comando iraquiano responsável pela ofensiva disse que o Serviço de Combate ao Terrorismo avançou a 50 metros da mesquita e do minarete quando os militantes do Estado Islâmico "cometeram outro crime histórico" e explodiram a edificação.