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Para vice-líder do governo, Janot acusa Temer para frear reformas

Perondi (de terno cinza e gravata azul, à direita) estava ao lado de Temer em pronunciamento - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Perondi (de terno cinza e gravata azul, à direita) estava ao lado de Temer em pronunciamento Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

João Fellet - @joaofellet

Da BBC Brasil em Brasília

27/06/2017 16h39

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS) diz que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tenta tirar o presidente do posto para "impedir a aprovação da reforma da Previdência".

Segundo Perondi, os procuradores resistem ao aumento da idade mínima para aposentadoria, um dos principais pontos da reforma. "Eles querem continuar se aposentando em torno de 50, 55 anos", diz o deputado.

Em entrevista à BBC Brasil, Perondi diz ainda que o governo usará "todas as armas" para rejeitar na Câmara o pedido de Janot para que Temer seja julgado por corrupção - o que inclui demitir indicados políticos de deputados rebeldes e direcionar recursos para Estados cujas bancadas apoiarem o presidente.

Para que a denúncia não passe pela Câmara, são necessários 172 votos e/ou abstenções, equivalente a um terço do total de cadeiras na Casa.

Médico e natural de Ijuí (RS), Perondi, 70 anos, está no quarto mandato como deputado federal e integrou a comitiva de Temer nas visitas recentes à Alemanha e à Noruega.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

BBC Brasil - Como recebeu a denúncia do procurador-geral?

Darcísio Perondi - Com tristeza. Não há preocupação do procurador Janot com a verdade e com a economia do país, e sim com interesses corporativos e políticos.

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BBC Brasil - O senhor soube como o presidente reagiu?

Perondi -Indignado. Ele já estava preparado, esta denúncia estava precificada. Ela é grave, isso é indiscutível. A denúncia é um fermento para agravar a crise política. Mas o presidente estava sabendo que a denúncia era fraca e vinha fraca. E ela veio fraca.

BBC Brasil - O presidente alegava que a gravação da conversa dele com Joesley Batista foi adulterada, mas uma perícia da Polícia Federal diz que não houve edições. Isso não agrava a situação dele?

Perondi - Não, porque a fita foi gravada de forma irresponsável e bandida por um empresário ladrão, orientado pelo principal procurador da equipe do Janot, o senhor Marcelo Miller. (Miller deixou a PGR em março, quando passou a atuar na defesa da JBS).

A Folha de S.Paulo deu a fita para dois institutos, e os dois disseram que a fita tem dezenas de interrupções, mas também tem edição. Então é uma fita que já vem desmoralizada.

Além do mais, a Polícia Federal tem que fazer relatório. O delegado federal não acusa. Isso é elementar. Então a Polícia Federal passou do limite.

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BBC Brasil - Também houve a acusação sobre a mala de dinheiro recebida pelo deputado Rocha Loures (segundo Janot, o dinheiro se destinava a Temer).

Perondi - Mas a mala tu não pode ligar (a Temer). De repente, o teu chefe, que é um cara acima de qualquer desconfiança, está recebendo propina e tu adoras o teu chefe. Mas tu não está comprometido com ele, ou vice-versa.

Sim, o Rocha Loures está envolvido. Mas dizer que o Michel está envolvido? Só com prova robusta, e não com a imagem (da entrega da mala a Rocha Loures). Se tu leres bem o relatório da PF, eles falam em dedução. "Nós deduzimos", "é provável".

Por isso o (ministro do Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes disse que vai trabalhar pela anulação da fita como prova.

BBC Brasil - Ainda há clima para a votação das reformas?

Perondi - No Senado (a reforma trabalhista) hoje passa pela Comissão de Justiça, e terça que vem, no plenário. O Congresso já está acostumado a votar em crise. Vai continuar votando.

BBC Brasil - Há algum cronograma para a da Previdência?

Perondi - Vamos com uma de cada vez. Estamos reunidos agora com os líderes, e vamos operar diretamente a questão do placar, partido por partido, deputado por deputado. Porque houve uma retração em função da denúncia, é óbvio, e vieram também as festas juninas do Nordeste.

Então agora nós vamos começar a focar de novo no placar. Esse trabalho, corpo a corpo, líder a líder, que será feito por nós, líderes, e pelo Palácio, vai valer para a Previência e também para a denúncia.

O governo está alerta. Só governo fraco não fica alerta. Um governo que é semiparlamentarista, um presidente que dialoga, que recebe, vai ter todo o cuidado, porque vai ser muito ruim para o país se a denúncia afastá-lo e se a reforma da Previdência não passar.

BBC Brasil - O PSDB ameaça há algum tempo sair do governo. Como encara esse movimento?

Perondi - O PSDB decidiu na semana passada permanecer no governo. E permanece no governo. Não conheço outra posição.

BBC Brasil - Como vai ser a postura do PMDB na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (que produzirá um relatório sobre o pedido da PGR)?

Perondi - A posição não só do PMDB, mas de toda a base aliada, será de aprovar o relatório do relator, que vai (decidir) pela rejeição.

BBC Brasil - Os partidos da base vão substituir seus membros que são críticos ao governo e estão na comissão?

Perondi - O PMDB não tem problema nenhum. Todos votarão. Quanto aos outros partidos, essa votação é importante para o país. Se for necessário substituir, a liderança vai pedir a esses partidos para substituir. Isso é normal em qualquer democracia.

BBC Brasil - A base tem maioria folgada para barrar a denúncia?

Perondi - Folgada, a gente não diz porque não podemos caminhar de salto alto. Mas o governo está trabalhando com foco e seriedade. E preocupação.

O governo não está, e não estará de sapato alto e tem responsabilidade com o país - o que falta na PGR, que se politizou. As corporações públicas, o Ministério Público e o Poder Judiciário fecharam com o Janot para derrubar as reformas. Claro, enfraquecendo o Michel, as reformas podem não sair. É o cálculo deles.

Apesar das corporações, da falta de responsabilidade pública e do jogo diabólico do Ministério Público para obstruir a reforma, acho que governo tem de usar todas as suas armas. E vai usar.

BBC Brasil - Que armas?

Perondi - Os deputados que têm cargo (indicados políticos) serão governo, ou não serão. Se não forem, serão chamados. O governo vai direcionar recursos para regiões e Estados (de parlamentares que apoiarem Temer), o que é perfeitamente normal, em programas que já estão no Orçamento da União. Governo focado não perde essas votações.

BBC Brasil - Quais seriam os interesses do Ministério Público em barrar a reforma?

Perondi - A reforma da Previdência vai fazê-los se aposentar com 62 (mulher) e 65 (homem). Aí eles não vão ficar recebendo R$ 40 mil por mês por mais 30 anos, porque a sobrevida das pessoas mais abastadas passa de 84 anos. Eles querem continuar se aposentando em torno de 50, 55 anos.

O governo quer acabar com a maior transferência de renda de um tesouro federal para uma categoria pública. Então eles estão entricheirados. Eles perderam a reforma trabalhista aqui, sentiram que podem perder a reforma da Previdência, e o caminho foi esse: "vamos derrubar o Michel", o que é um tiro do pé, porque, se não sair a reforma, podem não receber seus salários daqui a uns anos.

Por trás disso tudo tem a politização do Janot, que é um petista, a tentativa de trazer de volta o Lula e a defesa das corpororações.

BBC Brasil - Mas Lula não tem sido processado pelo MPF em Curitiba?

Perondi - Em Curitiba, mas não pela corporação pública entrincheirada no Ministério Público em Brasília. O Janot até periga a saúde da Lava Jato com essas medidas. O (juiz federal Sérgio) Moro com certeza não está gostando.

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