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Empresa aponta 'manipulação' em eleições na Venezuela

2.ago.2017 - Logo da Smartmatic, empresa que fornece tecnologia de votação para a Venezuela - Ronald Schemidt/AFP
2.ago.2017 - Logo da Smartmatic, empresa que fornece tecnologia de votação para a Venezuela Imagem: Ronald Schemidt/AFP

02/08/2017 13h45

"As eleições da Assembleia Nacional Constituinte da Venezuela tiveram sua participação manipulada", afirmou nesta quarta-feira (2) a Smartmatic, empresa responsável pelo sistema de votação eletrônica na polêmica votação.

O governo de Nicolás Maduro havia afirmado que 41,5% dos eleitores, cerca de oito milhões de pessoas, foram às urnas. A gestão ainda não se manifestou sobre as acusações da companhia de que o número foi inflado.

No domingo, os votantes elegeram uma Assembleia Constituinte com poderes ilimitados, duração desconhecida e com a missão de redigir uma nova Constituição e reformar o Estado.

Foram escolhidos 545 membros da Constituinte, que darão início a uma nova era no país após 18 anos da aprovação da Carta Magna venezuelana, promulgada em 1999, primeiro ano de governo do então presidente Hugo Chávez (1954-2013), padrinho político de Maduro.

Na segunda, os Estados Unidos impuseram sanções contra o país e a classificaram o governo venezuelano como uma ditadura.

Um milhão

Segundo a Smartmatic, a diferença entre o número anunciado pelo governo e real participação foi de ao menos um milhão de eleitores. A companhia já forneceu tecnologia para votação eletrônica em eleições em vários países, como no Brasil e nos Estados Unidos.

Em conferência em Londres, o diretor-executivo da empresa, Antonio Mugica, afirmou que essa diferença é uma estimativa. Segundo ele, apenas uma auditoria permitirá saber a quantidade exata de eleitores que foram votar no domingo.

O executivo não quis comentar sobre qual seria o impacto da suposta manipulação no resultado das eleições.

De origem venezuelana, a multinacional Smartmatic tem disponibilizado plataforma de votação eletrônica na Venezuela desde 2004. No domingo, ela também foi a responsável por totalizar os votos.

Não houve participação de auditores da oposição que, segundo a empresa, "eram fundamentais para analisar o processo de votação".

A BBC Mundo, o serviço espanhol da BBC, questionou Mugica sobre ter discutido essa suposta discrepância com o governo de Maduro. O diretor da companhia, que é venezuelano, ficou alguns momentos em silêncio. Depois, respondeu negativamente.

"Passamos os últimos dias nos certificando de que estamos falando a verdade", explicou. "Achamos que as autoridades não iriam gostar do que tínhamos a dizer".

Questionado sobre a credibilidade de suas afirmações, o executivo afirmou que os números "estão aí" para quem quiser analisá-los.

"O que podemos afirmar sem nenhuma dúvida é que o número oficial e os dados no sistema não concordam um com o outro", disse.

Controvérsias

Entre 2004 e 2015, a Smartmatic participou de 14 eleições na Venezuela. Foram mais de meio milhão de máquinas de votação e 377 milhões de votos processados, segundo a própria empresa.

A companhia, porém, já foi alvo de controvérsias.

Nascida na Venezuela, a empresa - que hoje tem sede em Londres - já foi acusada de ter ligações estreitas com Hugo Chávez.

Em 2004, a oposição ao então presidente acusou a empresa de não ter conseguido evitar fraudes durante um referendo que confirmou o líder no poder. No entanto, a votação foi referendada por observadores internacionais da União Europeia, da OEA (Organização dos Estados Americanos) e do Centro Carter.

Nas Filipinas, candidatos perdedores também sustentaram que houve fraudes em votações administradas pela companhia.

Mas essa é a primeira vez que a Smartmatic se envolve em polêmicas envolvendo autoridades eleitorais de um país.