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Brasil só apoia sanções contra Coreia do Norte se decididas pela ONU, diz chanceler brasileiro

Pedro Ladeira/Folhapress
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Luís Barrucho

Enviado especial da BBC Brasil à China

04/09/2017 08h11

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, afirmou em Xiamen, na China, que o Brasil só "apoia ou aceita" sanções contra a Coreia do Norte se decididas pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU.

"O nosso fluxo comercial com a Coreia do Norte é muito pequeno e eu repito: sanções comerciais ou sanções de qualquer natureza só apoiaremos e aceitamos aquelas que são decididas no Conselho de Segurança", disse ele a jornalistas no hotel onde o presidente Michel Temer está hospedado.

"Acho que o que é importante para resolver esse ponto de tensão é o diálogo direto entre as partes. Qualquer outro tipo de atitude agressiva de uma parte ou de outra, de um lado ou de outro, só pode prejudicar a situação ainda mais", acrescentou.

A declaração foi uma resposta a um comentário do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Twitter. Trump havia dito que o país "considera, além de outras opções, interromper todo o comércio com qualquer país que faça negócios com a Coreia do Norte". O Brasil é um deles.

No domingo, a Coreia do Norte anunciou que realizou com sucesso um teste com uma bomba de hidrogênio que pode ser carregada em seu novo míssil balístico intercontinental. O teste, o mais potente até agora, provocou um terremoto de magnitude 6,3 no país.

Segundo Nunes, a preocupação com a Coreia do Norte será incluída na declaração conjunta da cúpula.

"O presidente Xi Jinping se mostrou preocupado com o agravamento das tensões e reiterou a necessidade de um diálogo entre as partes", afirmou.

Temer está em Xiamen, no sudeste da China, para a cúpula dos Brics, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Mais cedo, durante pronunciamento no segundo dia do encontro, quando se reuniu com os demais líderes, o presidente já havia feito menção à Coreia do Norte.

"Os episódios dos últimos dias dão concretude a temores que parecem ter ficado nos livros de história. Hoje, (precisamos) encontrar saída diplomática para a situação tão grave", disse.

"Em perspectiva mais abrangente e de mais longo prazo, o desarmamento nuclear é a garantia mais eficaz contra a proliferação. O Brasil esteve na origem do Tratado sobre a Proibição das Armas Nucleares, adotado em julho. Assinaremos o instrumento ainda este mês, em Nova York. Trata-se de mais uma conquista real do multilateralismo", acrescentou.

Questionado sobre a Venezuela, que também foi citada durante pronunciamento de Temer, Nunes afirmou que o Brasil não aplica sanções à Venezuela.

"Não aplicamos sanções à Venezuela", disse o chanceler. Seguno ele, a Venezuela foi expulsa do Mercosul em razão do descumprimento da cláusula democrática do bloco.

Sobre o Novo Banco do Desenvolvimento (conhecido popularmente como 'Banco dos Brics'), Nunes explicou que a negociação já está adiantada para a criação de um escritório "em São Paulo ou no Rio de Janeiro".

Comércio e Investimentos

Nesta segunda-feira, todos os líderes se reuniram pela primeira vez. Eles discutiram, principalmente, a ampliação do comércio e dos investimentos.

"A área econômica é espaço privilegiado para a atuação concertada dos Brics. Nela, temos colhido excelentes resultados, que nos dão razão para fundado otimismo", disse Temer.

"Precisamos simplificar procedimentos de exportação e importação. Precisamos, talvez, dar mais agilidade aos trâmites governamentais", acrescentou.

A flexibilização de barreiras econômicas será firmada com a assinatura de um acordo ainda durante a realização da cúpula.

Transporte aéreo

Temer também ressaltou o estabelecimento de cooperação no transporte aéreo.

"O investimento em infraestrutura de transportes é peça-chave para o aumento da competitividade de nossos produtos, para a dinamização de nossas economias", disse o presidente. "A aviação regional é setor crucial para países de dimensão continental como são os Brics", completou.

Já o presidente da China, Xi Jinping, anunciou um fundo de R$ 200 milhões para cooperação econômica nas áreas de comércio e investimento.

Por sua vez, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, propôs a criação de uma universidade e de uma TV dos Brics.