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'Cego, surdo e com dentes quebrados': pais de estudante americano acusam Coreia do Norte de torturar sistematicamente seu filho

Otto Warmbier morreu pouco depois de ser libertado e repatriado, de maca - a foto acima é de quando foi preso  - Jon Chol Jin/ AP
Otto Warmbier morreu pouco depois de ser libertado e repatriado, de maca - a foto acima é de quando foi preso Imagem: Jon Chol Jin/ AP

27/09/2017 11h55

Os pais de Otto Warmbier, o estudante americano que morreu em junho após passar 15 meses em uma prisão na Coreia do Norte, revelaram detalhes do estado de saúde do filho quando foi libertado e repatriado.

Em entrevista à rede de TV Fox, a primeira desde a morte de Warmbier, Fred e Cindy Warmbier acusaram os norte-coreanos de "sistematicamente torturarem" seu filho. O casal chamou seus captores de "terroristas".

Warmbier foi preso em Pyongyang no início do ano passado após roubar um pôster de um hotel da capital.

Ele foi libertado por razões médicas em junho deste ano, mas chegou aos EUA gravemente doente e morreu dias depois.

O governo norte-coreano afirma jamais ter maltratado Warmbier e alega que ele teve botulismo - uma grave intoxicação bacteriana - e tinha entrado em coma na prisão.

No entanto, médicos que cuidaram de Warmbier nos EUA não encontraram qualquer traço da doença.

'Não foi acidente'

Os pais do estudante disseram que a entrevista foi motivada pelo desejo de "contar a verdade sobre as condições em que Otto se encontrava".

Médicos americanos disseram que Warmbier se encontrava em um estado de "acordado, mas sem responder a estímulos", acrescentando, porém, que estava longe de ser um coma.

Fred Warmbier disse que quando viu o filho, ele estava "perambulando, tendo espasmos violentos e emitindo sons e uivos que não pareciam humanos".

"Sua cabeça tinha sido raspada, ele estava surdo e cego. Suas pernas e braços encontravam-se totalmente deformados e ele tinha uma imensa cicatriz em um dos pés".

"Parecia ainda que alguém tinha usado um alicate para trocar de lugar seus dentes inferiores", acrescentou.

"Otto foi sistematicamente torturado e ferido intencionalmente by Kim (Jong-un, líder da Coreia do Norte) e seu regime. Isso não foi um acidente."

Mas ele também criticou o governo americano e a comunidade internacional por terem "abandonado meu filho".

Um jornal americano, o Cincinnati Enquirer, questionou as alegações do casal, porém. A publicação disse ter conseguido acesso ao atestado de óbito de Warmbier, baseado em observações externas e que revelaram diversas pequenas cicatrizes, mas nada que indicasse tortura.

O Cincinnati Enquirer citou ainda o legista que examinou o estudante para dizer que seus dentes estavam "em bom estado" e que ele pareceu ter morrido por causa de danos cerebrais causados por falta de oxigênio. Os pais de Warmbier não permitiram que ele tivesse autópsia.

Cindy Warmbier disse que a Coreia do Norte apenas mandou o filho para casa porque não gostaria que ele morresse no país.

Ela pediu ainda que as pessoas não visitem a Coreia do Norte, afirmando que o turismo serve à propaganda de Pyongyang. O governo americano proibiu desde setembro que seus cidadãos viajem para o país asiático.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conhecido por sua predileção pela Fox News, tuitou que a entrevista do casal foi "grande" e que "Otto foi torturado de forma inacreditável pela Coreia do Norte".

O comentário de Trump, assim como o "timing" da entrevista dos Warmbiers, poderá acirrar ainda mais as tensões entre Washington e Pyongyang, que há semanas trocam acusações e ameaças.