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Por que Temer está perdendo cada vez mais apoio no Congresso

O presidente Michel Temer (PMDB) - Eraldo Peres - 23.out.2017/AP
O presidente Michel Temer (PMDB) Imagem: Eraldo Peres - 23.out.2017/AP

Fernanda Odilla

Da BBC Brasil em Londres

26/10/2017 17h59

Não é apenas a popularidade do presidente Michel Temer que está em queda. O peemedebista tem, aos poucos, perdido apoio no Congresso e contabilizando cada vez menos votos em sessões que discutem projetos de interesse do governo, ainda que continue tendo apoio relevante entre deputados e senadores.

Nesta quarta-feira, o presidente novamente conseguiu escapar de responder a um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) no exercício do mandato por 251 votos a 233. Na primeira denúncia, tinha vencido por 263 a 227.

Apesar de a diferença relativamente pequena entre a primeira votação, que aconteceu em agosto, e a de quarta, analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que a tendência é que Temer comece a ver sua base encolher à medida que a eleição de 2018 se aproxime.

Tudo indica que o peemedembista começa a enfrentar um fenômeno chamado "lame duck", ou "pato manco". Trata-se de um político em fim de mandato, enfraquecido e com popularidade muito baixa, considerado praticamente "uma carta fora do baralho" do jogo político.

"Ele está entrando nessa fase de 'lame duck' um pouco cedo", observa cientista político David Fleischer, professor da UnB.

Salve-se quem puder

Fleischer observa que a tendência é que deputados e senadores comecem, a partir de agora, a se afastar de Temer, e isso significa que antigos aliados podem começar a votar contra os interesses do governo.

"Os parlamentares ficam apreensivos com a eleição. Acham que estar ao lado de um presidente impopular pode diminuir suas próprias chances de vitória", explica.

"Vão se distanciar do presidente para tentar garantir sua própria salvação", acrescenta o professor. Ainda assim, ele acredita que haverá um elevado índice de renovação na composição da Câmara e do Senado na eleição do ano que vem.

A perda de apoio, contudo, não representa necessariamente uma ameaça à continuidade de Temer no comando do governo.

O professor Francisco Panizza, da universidade britânica London School of Economics (LSE), avalia que uma nova mudança na Presidência neste momento seria ainda mais traumática do que foi o impeachment da presidente Dilma Rousseff, sacramentado em agosto de 2016.

"Apesar de Temer estar enfraquecido, não há interesse do sistema político em tirá-lo do cargo", afirma Panizza, que também vê uma tendência de ver os políticos cada vez mais se afastando do presidente.

"Vão continuar jogando esse jogo de mantê-lo e ao mesmo tempo dando menos apoio, em especial porque a popularidade dele está muito baixa entre os cidadãos", avalia.

Reformas

Esse movimento deve impactar, por exemplo, a votação da Reforma da Previdência, proposta extremamente impopular que exige 308 votos para ser aprovada na Câmara.

No caso das mudanças no sistema de aposentadorias e pensões, David Fleischer acredita que Temer terá condições de fazer passar "apenas uma microrreforma". Se passar, diz, serão mudanças diluídas, apesar de consideradas essenciais pelo governo do peemedebista para reduzir o deficit público a longo prazo.

Mas, ainda que sua base esteja encolhendo aos poucos, o presidente ainda conta com apoio suficiente para fazer passar alguns projetos de interesse do governo, em especial aqueles em que não são necessários votos de uma maioria qualificada.

Os analistas ouvidos pela BBC Brasil apontam para a disparidade entre o que acontece no Congresso e nas ruas - onde apenas 3% dos brasileiros aprovam o governo Temer, segundo pesquisa feita em setembro pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Ibope.

"O jornal britânico Guardian fez recentemente uma pergunta retórica questionando como Temer ainda está no cargo, apesar das denúncias de corrupção e rejeição da população", lembra David Fleischer.

Base aliada

Os deputados mais próximos do presidente, contudo, continuam dizendo que Temer não está fragilizado.

Afirmam ainda que a diferença de votos no placar entre as análises da primeira e a segunda denúncias foi residual.

"Quem resiste a cinco meses de ataques sórdidos, a conspirações e ainda se mantém no cargo sai é fortalecido", diz Carlos Marun (PMDB-RS) à BBC Brasil.

Temer perdeu oito votos, se comparada a análise das denúncias pelo plenário da Câmara.

Na sessão de quarta, os deputados Abel Mesquita Jr (DEM-RR), Cícero Almeida (PODE-AL), Delegado Éder Mauro (PSD-PA), Heuler Cruvinel (PSD-GO), Jaime Martins (PSD-MG), João Campos (PRB-GO), Mauro Mariani (PMDB-SC) e João Paulo Kleinünbing (PSD-SC) votaram pela continuidade da denúncia contra Michel Temer --no mês passado, tinham votado pelo arquivamento.

Já os deputados Carlos Gomes (PRB-RS), César Halum (PRB-TO) e Ronaldo Martins (PRB-CE) foram favoráveis ao Planalto desta vez, apesar de terem apoiado a primeira denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República.

Com as decisões do plenário da Câmara, a Justiça só poderá analisar as acusações da Procuradoria-Geral da República contra Temer --corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa --depois que ele deixe o Palácio do Planalto.