As italianas que arriscaram suas vidas combatendo os nazistas com a escrita
Eu prendi minha bicicleta vermelha enferrujada e cheguei ao jardim da antiga fábrica de processamento de couros Conceria Fiori. Entrei no prédio e me dirigi ao terraço no qual o Restaurante Piazza dei Mestieri serve massas caseiras e chocolates feitos à mão.
Mas não fui lá para comer, e sim para aprender sobre o trabalho antifascista desempenhado ali e em toda a Turim durante a Segunda Guerra Mundial.
Depois de explicar o motivo de estar ali para a garçonete, ela pegou um conjunto de chaves e me disse para eu segui-la. Ela me levou para fora do restaurante, e atravessamos várias escadas até o porão.
Uma nova porta que cortava a pesada base de tijolos do local nos levou até "a caverna", uma sala de jantar cheia de garrafas de vinho.
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Setenta anos atrás, no entanto, esse porão então escondido atrás de uma passagem secreta tinha uma impressora usada para publicar escritos antifascistas - muitos deles produzidos por mulheres.
Oposição ao fascismo
O fim da Primeira Guerra Mundial deu início ao crescimento do fascismo na Itália. Enquanto ele se espalhava pelo país, tomando negócios locais e oprimindo liberdades sociais, grupos de oposição cresciam lentamente.
A queda do governo de Benito Mussolini em 1943 e a subsequente ocupação do país pela Alemanha nazista intensificou as atividades desse grupo, que então era conhecida formalmente como La Resistenza.
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Quando anoitecia em Turim, as funcionárias da Conceria Fiorio saíam - com suas mãos fedendo a couro - e as prensas escondidas acordavam, imprimindo folders feministas clandestinos e cópias do jornal antifascista La Riscossa Italiana.
O título era uma provocação ao La Riscossa, o jornal controlado pelo governo que publicava matérias elogiando Adolf Hitler. O La Riscossa Italiana, por sua vez, trazia reportagens detalhando as atividades do movimento antifascista e as falsidades nas matérias do jornal fascista.
Publicar um jornal clandestino exigia uma enorme rede de pessoas confiáveis, rede essa que Ada Gobetti, viúva do famoso filósofo e escritor antifascista Piero Gobetti, sustentava meticulosamente.
Já que as mulheres não tinham o direito de votar ou participar do governo até o fim da Segunda Guerra Mundial, elas dificilmente seriam vistas como suspeitas de envolvimento político - o que significa que poderiam se envolver em atividades de resistência e distribuir material de oposição mais facilmente.
Sob a liderança de Gobetti, as mulheres da La Resistenza esconderam e transportaram impressões, escreveram artigos e disseminaram jornais.
Relatos da resistência
O diário de Gobetti, inicialmente escrito em códigos e depois decifrado e publicado com o título Um Diário Guerrilheiro, descreve as várias vezes em que ela e suas companheiras staffettas (mensageiras) se reuniram em volta da lareira de sua casa de número 6 na Via Fabro, em Turim, escrevendo panfletos ou planejando distribuições.
Após minha visita à Conceria Fiori, destravei minha bicicleta e pedalei os 2 km de distância entre a velha fábrica de curtumes até seu antigo endereço no centro de Turim.
A casa Gobetti, que milagrosamente nunca foi descoberta como um ponto de encontro guerrilheiro, agora abriga o Centro de Estudos de Piero Gobetti, um depósito de documentos dos trabalhos deles, incluindo alguns dos únicos panfletos feministas restantes que circularam durante a guerra.
"Uma das coisas mais importantes para Ada era a solidariedade, e ela pensava que a educação era a maneira de criar isso", disse Angela Arceri, uma especialista em Ada Gobetti que trabalha no centro. "Ela fez isso por meio de suas publicações."
Arceri explicou que o governo fascista italiano reiterava que o lugar das mulheres era o lar. O envolvimento de Gobetti e outras companheiras na La Resistenza lhes deu a oportunidade de lutar por seus direitos. "Vejo Ada como uma das primeiras feministas da Itália", afirmou.
Ao sentar à pesada mesa de madeira no meio da biblioteca, manuseando cuidadosamente a coleção das publicações da La Resistenza, pude ver o apoio de janela onde, segundo Arceri me disse, Ada colocava um vaso de flor para indicar às staffettas que era seguro entrar - talvez para planejar algo, transportar publicações ilegais ou apenas comer um prato quente de comida.
Pensei em como ela e sua equipe se arriscaram. Apesar do documento parecer frágil nas minhas mãos, o peso de sua importância não pode ser ignorado.
- Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site da BBC Travel.
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