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Quem é Lana Lokteff, a estrela da supremacia branca nos EUA para quem mulheres 'só querem ser bonitas, casar e ter filhos'

Lana Lokteff nasceu em Oregon e tem ascendência russa - Arquivo pessoal
Lana Lokteff nasceu em Oregon e tem ascendência russa Imagem: Arquivo pessoal

14/11/2017 10h13

Em geral, os participantes de protestos supremacistas nos Estados Unidos parecem ter características semelhantes: são geralmente jovens, agressivos e, claro, homens brancos.

Mulheres raramente eram vistas nas reuniões de grupos como o Ku Klux Klan, neonazistas ou representantes da chamada alt-right (uma abreviação de "alternative right", ou direita alternativa) - movimento que se opõe à imigração e ao multiculturalismo, que apoia a supremacia branca e que ganhou grande visibilidade ao apoiar a campanha de Donald Trump à Presidência do país.

Mas isso está mudando - há mais e mais mulheres nessas organizações. Uma das mais famosas dessas ativistas disse que "Trump ganhou a Presidência graças ao voto das mulheres nacionalistas brancas".

A frase é de Lana Lokteff, a chamada "abelha rainha da alt-right" nos Estados Unidos.

Ela é uma das poucas mulheres nos EUA que mostra sem reservas seu apoio às ideologias supremacistas.

"Não tenho medo de falar, nem tenho medo de usar o meu nome real e, portanto, muitas pessoas acabando voltando seus olhos para mim", afirmou Lokteff à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

"Nós somos o equivalente nos Estados Unidos aos nacionalistas europeus, tentando recuperar nossa identidade e nossas raízes europeias", diz ela.

"Queremos ter países brancos para pessoas brancas, em que nós brancos sejamos a maioria."

"Apoiamos valores tradicionais e nos posicionamos contra a globalização, as fronteiras abertas e os valores liberais", acrescenta.

Críticos classificam o movimento como racista e misógino.

Polêmica e atípica

Branca, loira e de olhos claros, Lokteff é o protótipo do ideal que promove.

Para propagar suas ideias nacionalistas, ela apresenta um programa de rádio em uma das estações do Red Ice - um conglomerado de mídia administrado por seu marido, o sueco Henrik Palmgren.

A própria Lokteff justifica porque há poucas mulheres que se destacam entre os figurões da direita nacionalista ou da extrema-direita.

"Você sabe o que acontece ... se você diz abertamente que é nacionalista e defende os valores de sua identidade, automaticamente é chamada de nazista, racista, do KKK... Muitas mulheres não conseguem lidar com essas críticas", diz Lokteff.

"Muitas mulheres querem apenas ter uma vida pacífica e não querem se sentir deixadas de fora por causa de suas opiniões. Eu não sou assim."

Lokteff afirma que mais e mais mulheres apoiam suas ideias, mas que elas não são visíveis porque "operam nos bastidores".

"Elas não se envolvem na política: não resistem à pressão e não querem ser chamadas de racistas."

"Mas elas estão lá, são esposas, mães, irmãs e estão apoiando o movimento. Muitas delas escutam meus programas. Eu sei disso porque recebo muitas mensagens de mulheres nacionalistas deste país."

"Não esqueçamos que Trump ganhou a presidência graças ao voto das mulheres nacionalistas brancas".

Esta "passividade", diz Lokteff, "acontece porque a política sempre foi um domínio dos homens."

Mas há outro problema. Como em muitos outros movimentos de direita nos EUA, a alt-right tem em sua raiz ideias de superioridade branca e masculina.

E as mulheres, tanto as da raça branca que simpatizam com a ideologia quanto as mulheres em geral, são muitas vezes alvo de ataques misóginos, sendo consideradas inferiores e "uma ameaça ao poder dos homens".

Richard Spencer, o supremacista que afirma ter inventado o termo alt-right e um dos principais promotores do movimento, criticou a ex-secretário de Estado - e rival de Trump - Hillary Clinton, dizendo no Twitter que "as mulheres não deveriam ser autorizadas a participar em questões de política externa. Não porque sejam 'fracas'. Pelo contrário, é porque sua sede de vingança não tem limites".

E Andrew Anglin, fundador do site supremacista Daily Stormer, declarou uma vez que os úteros das mulheres brancas "pertencem aos homens da sociedade".

Contra o feminismo

Em uma reportagem na revista Harper sobre mulheres da extrema-direita, a jornalista Seyward Darby descreve Lokteff como "uma guerreira apaixonada pela alt-right, o mais próximo que o movimento pode ter de uma abelha rainha".

De acordo com Darby, muitas mulheres se juntaram ao movimento por serem contra o feminismo.

"Eles sentem que a agenda progressista do feminismo não atende a seus propósitos", diz Darby. "E em alguns casos elas sentem que [o feminismo] está ativamente ignorando-as porque elas querem coisas mais tradicionais: o lar, a família, etc."

A própria Lokteff afirma que "as mulheres modernas são muito infelizes por causa do feminismo e da igualdade que conseguiram em certos aspectos com os homens".

"O que aconteceu é que, com o chamado feminismo e a chamada libertação, o que foi conquistado foi a necessidade de trabalhar e de crescer nas carreiras", diz Lokteff.

"E elas chegam aos 40 anos de idade e percebem: que horror, não tenho família, não tenho filhos, não tenho um homem e me sinto muito sozinha."

"Ouço isso o tempo todo das mulheres que me escrevem e me contam que se arrependem de não ter tido filhos, tendo se deixado levar pela ideia de que não precisavam de um homem e que teriam que competir com eles no trabalho."

"Isso não fez as mulheres felizes, porque não priorizaram seus objetivos. Esqueceram a prioridade, que é ter uma família."

"O feminismo considerou essa ideia como se fosse diabólica, olhando para as mães e as donas de casa com desprezo."

'Três desejos'

Para Lokteff, se a mulher tem ou não a opção de seguir um caminho próprio e independente importa pouco. O principal, de acordo com seus ideais, "deve ser o futuro da sociedade branca".

"Nós mulheres, realmente só queremos três coisas: ser bonita, atrair um homem bem-sucedido para nos proteger e ter uma família."

"Que mulher não quer isso? Essa é a verdade... embora muitas mulheres neguem, todas queremos ser bonitas e protegidas por um homem."

Estes são os valores que, de acordo com Lokteff, estão atraindo muitas mulheres para o movimento nacionalista branco.

E ela se orgulha de espalhar "com sucesso" essa mensagem entre as mulheres americanas brancas com seu programa de rádio e suas palestras.

"Nós, mulheres, atraímos outras mulheres. E eu estou atraindo muitas seguidoras", disse Lokteff à BBC Mundo.

Por ser um movimento difuso, é difícil saber quantos dos membros da alt-right são mulheres. O fato, segundo especialistas, é que a supremacia branca nos EUA está em alta e as mulheres estão desempenhando um papel fundamental nestes grupos.

Como afirma a jornalista Sayward Darby, "são elas as encarregadas em perpetuar a raça branca, nutrindo a família e suas crenças em favor dos brancos".