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Como são escolhidas as capitais dos países?

Bandeiras de Israel nos arredores do Domo da Rocha, na mesquita de  Al-Aqsa, em Jerusalém - THOMAS COEX/AFP
Bandeiras de Israel nos arredores do Domo da Rocha, na mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém Imagem: THOMAS COEX/AFP

08/12/2017 19h01

Os olhos do mundo estão voltados para Jerusalém, cidade que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu oficialmente nesta semana como capital de Israel, apesar de alertas de dentro e de fora do mundo árabe sobre os riscos da decisão.

A cidade abriga locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos e é considerada única e simbólica.

Israel a considera sua capital e sede de governo, mas nenhum outro país havia reconhecido isso oficialmente até a última quarta-feira. Seu status é uma das questões fundamentais que dividem Israel e Palestina.

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A discordância em torno da decisão dos Estados Unidos levanta a discussão sobre o que as capitais representam e por que estão onde estão. Aqui estão quatro razões:

1. Uma forma de controle e um símbolo de unidade

A palavra "capital" tem origem na palavra latina capitalis, que significa "relativo à cabeça". Uma cidade considerada a "cabeça de um território" está intimamente vinculada ao Estado existente ali, é sede do governo e, normalmente, também da realeza, em locais em que há monarquia.

A capital precisa ser protegida, mas também ser capaz de exercer controle sobre o restante do país e de projetar um senso de unidade. Por essa razão, muitas capitais são construídas no centro de seus respectivos países - elas precisam ser vistas como representativas e acessíveis.

Brasília, por exemplo, foi construída para ser a capital do Brasil no governo de Juscelino Kubitschek bem no centro do país. Transferir a capital do Rio de Janeiro, na região Sudeste, para uma área do Estado de Goiás, na região Centro-Oeste, era algo planejado desde o século 18, ainda no governo português.

A ideia chegou a ser defendida em outros momentos históricos. No entanto, a proposta só ganhou fôlego em meados do século passado.

Madri, na Espanha, está quase no centro da Península Ibérica. Abuja, que virou capital da Nigéria em 1991, foi construída do zero, assim como Brasília, em uma posição geográfica central para representar a unidade de uma nação dividida tanto por aspectos religiosos quanto geográficos.

2. Compromisso político

A fundação da capital dos Estados Unidos, em 1790, foi baseada em concessões políticas. Alexander Hamilton e os Estados do norte queriam que o governo federal assumissem as dívidas destes Estados e estabelecesse um acordo com Thomas Jefferson e James Madison, que queriam que a capital ficasse no sul.

George Washington escolheu o local exato à margem do rio Potomac, e o resto é história.

Na Austrália, turistas ficam muitas vezes chocados ao descobrir que a capital do país não é sua maior e mais famosa cidade, Sydney, mas Canberra, que fica a meio caminho entre Sydney e sua concorrente ao sul, Melbourne.

Alguns historiadores dizem que o calor escaldante em Sydney e Melbourne no verão é uma das principais razões pelas quais a fria Canberra, localizada a 600 metros acima do nível do mar, foi a escolhida.

"O motivo mais relevante, com o qual todos os políticos concordaram na época, era que brancos só poderiam prosperar e liderar vivendo em um clima frio", disse o historiador David Headon à revista Australian Geographic.

3. História complicada

Berlim ou Bonn? Essa era a questão quando o Muro de Berlim caiu, em 1989, e a Alemanha reunificada teve de decidir qual seria sua capital. Durante a Guerra Fria, Bonn era a capital da Alemanha Ocidental e Berlim Leste, a capital da Alemanha Oriental.

Hoje, poucos dos viajantes que se aglomeram nas casas noturnas de Berlim e tiram fotos com o que restou do muro que dividia a cidade chegarão a conhecer Bonn, mas a decisão sobre qual das duas cidades se tornaria a capital foi definida por apenas alguns votos de diferença no Parlamento alemão, em 20 de junho de 1991. Nessa votação, Berlim triunfou com 337 votos contra 320 a favor de Bonn.

Enquanto os alemães travaram uma disputa em torno de duas capitais potenciais, a África do Sul optou por ter três sedes de poder. Os poderes deste Estado se dividem entre Cidade do Cabo (Legislativo), Pretoria (Executivo) e Bloemfontein (Judiciário), enquanto o Tribunal Constitucional fica em uma quarta cidade, Joanesburgo.

Isso remonta à criação da União da África do Sul, em 1910, depois que quatro colônias britânicas foram fundidas e não foi possível chegar a um acordo sobre onde a capital ficaria.

Em 1994, após o fim do apartheid, o regime de segregação racial que imperava no país, houve uma movimento em prol da criação de uma nova capital, a exemplo do que ocorreu com Canberra ou Brasília, a fim de proporcionar um recomeço à nação, mas isso nunca ocorreu.

4. Caprichos de homens poderosos

Astana, capital do Cazaquistão desde 1997, é uma reluzente cidade futurista e um símbolo das ambições do seu autoritário presidente Nursultan Nazarbayev, que governa o país desde 1991.

Entre seus principais marcos, está o Palácio da Paz e Harmonia, uma pirâmide de concreto e vidro projetada pelo britânico Norman Foster que ostenta uma sala de concertos de 1,5 mil lugares. Esta cidade de ventos fortes em meio à estepe fria foi chamada brevemente de Akmola, que significa "sepultura branca".

Outro país, Mianmar, também tem uma capital remota, que tem quatro vezes o tamanho de Londres, no Reino Unido. Nay Pyi Taw foi construída em 2005 como um refúgio isolado para um governo militar paranoico, em um momento em que o país começou sua atribulada transição para a democracia.

A enorme capital tem estradas enormes, zoológico e campos de golfe, mas poucas pessoas.