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Como é Panmunjom, o 'lugar mais tenso do mundo', onde as duas Coreias estão conversando

Soldados na Aldeia da Trégua, na cidade de Panmunjom - Ed Jones/AFP
Soldados na Aldeia da Trégua, na cidade de Panmunjom Imagem: Ed Jones/AFP

09/01/2018 12h17

Antes de entrar em Panmunjom os visitantes devem assinar um documento que adverte que a visita "implicará a entrada em uma área hostil e a possibilidade de lesões ou de morte".

O local - para alguns, o mais tenso do mundo - é um dos únicos onde soldados da Coreia do Norte, da Coreia do Sul e dos Estados Unidos se veem cara a cara dia e noite.

Lá, onde foi assinado o armistício que colocou fim à Guerra da Coreia, em 1953, os dois lados da fronteira retomaram nesta terça (9) as conversas após dois anos de ameaças e tensões nucleares.

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Esse novo diálogo, que viabilizou a participação da Coreia do Norte nos Jogos Olímpicos de inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul, em fevereiro, colocou novamente Panmunjom no radar político.

Panmunjom está localizada na chamada "zona desmilitarizada", uma área que abrange um trecho de 248 km de extensão e 4 km de largura, na polêmica fronteira que separa as duas Coreias, e é um dos territórios mais vigiados do mundo.

As conversas

Quando a República Popular Democrática da Coreia e a República da Coreia foram criadas em 1948, a divisão geográfica entre as duas nações se converteu em uma fronteira internacional de fato.

Em 1953, com a tensão da guerra, a zona desmilitarizada foi criada como uma alternativa de contenção militar.

Ali também se encontram soldados dos Estados Unidos, que são os encarregados, segundo acordos de paz, de vigiar o sul da fronteira, com o apoio dos militares da Coreia do Sul.

A única parte em Panmunjom em que os soldados estão permanentemente frente a frente é a chamada Área de Segurança Conjunta.

Foi também nesse local que, até março de 1991, ocorreram as negociações militares entre o Comando das Nações Unidas (ONU) e a Coreia do Norte.

O local que mais chama atenção na Área de Segurança Conjunta é o edifício em que se localiza uma sala de conferências peculiar, que tem um espaço que corta as duas nações. Aqueles que entram nela podem cruzar, na prática, a tensa linha de fronteira, apenas andando de um lado a outro da sala.

"Na sala de conferências há uma linha que divide a parte da Coreia do Norte e a do Sul", diz Isaac Stone Fish, da Asia Society, um think tank com sede em Nova York.

"Eles alternam a possibilidade de que os turistas de ambos os lados entrem e possam se mover dentro da sala. E isso te permite 'cruzar' de alguma maneira a fronteira da Coreia do Norte, mesmo que seja por pouco mais de um metro", diz ele em entrevista ao PRI The World.

Da antiga aldeia que existia ali já não sobrou nada.

Por muitos anos, o local não foi mais do que um ponto de tensão no Paralelo 38, que serve para demarcar a fronteira entre as duas Coreias. Com o passar do tempo, Panmunjom também virou um dos muitos lugares onde centenas de norte-coreanos foram mortos tentando desertar para o sul.

Mas a fascinação causada pela Coreia do Norte, a tensão entre os dois países e os diálogos que ocorreram ali transformaram Panmunjom em um local de visita para locais e forasteiros.

Turismo de risco

O lugar se transformou em um destino turístico, ainda que, segundo pessoas que o visitaram, as experiências sejam diferentes para quem chega do norte e para quem chega do sul.

Na plataforma de viagens TripAdvisor, a visita a Panmunjom tem cotação de 4,5 estrelas, enquanto o tour até a zona desmilitarizada tem 5 e está descrito como uma experiência imperdível.

Segundo Stone Fish, a popularidade de Panmunjom cresceu porque foi utilizada pelas duas partes como motivo de propaganda.

"Após a grande Guerra da Coreia, as duas partes tentaram utilizar o lugar como forma de propaganda para demonstrar o quão melhor uma era sobre a outra", diz.

As diferenças entre os tours de cada um dos lados são significativas, de acordo com o especialista.

Se do lado sul-coreano há diversos alertas de perigo e é preciso assinar vários documentos para isentar o governo de responsabilidade em caso de morte ou acidente, a experiência na parte norte-coreana costuma ser de "festa".

Fish recorda que, quando esteve lá com uma delegação norte-coreana, na "zona desmilitarizada a sensação era quase de festa".

"Era algo como 'Estamos defendendo nosso país, olhamos para o outro lado, sorrimos e desfrutamos de um bom momento'".

O especialista explica que a única coisa que divide o norte e o sul em Panmunjom é uma linha gigante de concreto que se estende por todo o vilarejo.

Do lado da Coreia do Norte, ele diz, há um lugar onde os visitantes podem comprar souvenires, como chaveiros.

Os turistas também podem tomar bebidas alcoólicas da Coreia do Norte, principalmente uma feita de ginseng e outra de bílis de serpente.

Outro passeio é visitar o terminal de Dorasan, uma estação suspensa de trem sul-coreana que pretende unir Pyongyang e Seul.

Ali está a Plataforma da Unificação, o local onde a Coreia do Sul assegura que algum dia as duas nações voltarão a se unir.