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Meses após expulsão do EI, sobreviventes ainda procuram corpos de parentes nas ruínas de Mossul

11/01/2018 10h31

Mossul foi o local onde o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico (EI) declarou, em 2014, a instauração do seu califado.

Hoje, meses após o governo iraquiano anunciar sua vitória sobre o EI, resta apenas a devastação deixada pela batalha para libertar a segunda maior cidade do Iraque.

“Essa é a cidade em que eu cresci, e tínhamos orgulho dela. É uma pena. Veja agora, não resta nada, está completamente devastada”, diz Ahmed, um morador de Mossul, enquanto espera pela retirada de corpos sob os escombros.

Não resta muito da casa que ele comprou há cinco anos. Ahmed também perdeu oito pessoas de sua família na guerra.

O conflito já custou a vida de 10 mil civis na cidade, segundo a Anistia Internacional - um número que supera em dez vezes a estimativa oficial.

Mais de 800 mil pessoas tiveram de deixar suas casas, segundo a Organização Internacional para Migração.

“Até onde sabemos, o EI veio ao bairro da minha família, mandou eles saírem e colocou suas próprias famílias no lugar”, diz Ahmed.

O primeiro a morrer foi seu cunhado, enquanto buscava água do rio. Ele foi atingido por uma bomba.

“Então, minha cunhada ficou doente. O EI estava fazendo as pessoas mudarem de casa em casa, então eles não queriam alguém doente por perto. Eles a mataram e jogaram seu corpo no rio.”

Grande batalha

Foi necessária uma grande operação militar para retomar a cidade, que estava sob o controle dos extremistas desde junho de 2014.

Na época, Abu Bak al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico, proclamou na antiga Grande Mesquita da cidade, hoje destruída, a criação de um califado no norte do Iraque e da Síria.

Milhares de soldados iraquianos, combatentes curdos e integrantes de tribos sunitas e de milícias xiitas participaram da coalizão liderada pelos Estados Unidos, que deu início à sua ofensiva em outubro de 2016.

Os militares conseguiram entrar na cidade no mês seguinte. Em janeiro do ano passado, Mossul voltou a estar sob o controle do governo, e, em 10 de julho, foi finalmente declarada a vitória sobre o EI na cidade.

Na ocasião, o premiê iraquiano, Haider al-Abadi, com a bandeira nacional em mãos e tropas ao seu lado, anunciou o “colapso do estado terrorista”.

No entanto, Ahmed não sabe se há algum futuro para ele e seus filhos em Mossul. “Eles já me disseram que não voltarão para cá”, diz.

Imagens de satélite mostram os grandes danos à infraestrutura da cidade, como aeroportos, edifícios e sítios arqueológicos.

“Onde está a escola? Onde estão os serviços públicos? Tem água? Eletricidade?”, questiona Ahmed.

Reconstruir uma Mossul em ruínas é algo que deve levar anos. Para quem vivia e ainda vive ali, reconstruir a vida demandará ainda mais tempo.