Topo

Quem era o policial e ator Óscar Pérez e o que se sabe da operação que o matou na Venezuela

Pérez se definia como piloto de helicóptero, mergulhador de combate e paraquedista, além de "ator, companheiro e pai de família" - Instagram/Óscar Pérez
Pérez se definia como piloto de helicóptero, mergulhador de combate e paraquedista, além de 'ator, companheiro e pai de família' Imagem: Instagram/Óscar Pérez

16/01/2018 13h05

Em meio a uma sequência de estampidos, o policial venezuelano Óscar Pérez pede para que parem de atirar e diz que vai se entregar. Ele tem sangue escorrendo pelo rosto.

As imagens fazem parte de uma sequência de vídeos de um cerco policial aparentemente filmado pelo próprio Pérez, que circulou pelo Instagram na segunda-feira.

Pérez, piloto de unidade de elite das forças de segurança venezuelanas, se tornou conhecido do público no ano passado, quando comandou uma rebelião contra o governo de Nicolás Maduro.

O paradeiro de Pérez, após o cerco de segunda-feira, era desconhecido. Mas, segundo o Ministério do Interior anunciou nesta terça, o policial dissidente foi morto, junto com outras seis pessoas que participaram do enfrentamento.

"Ante uma agressão que colocou em risco a vida dos funcionários (das forças de segurança), se recorreu ao protocolo para neutralizar o grupo agressor, com um saldo de sete terroristas mortos", disse o ministro do Interior, Néstor Reverol.

A operação das Forças Armadas contra o grupo de Pérez teria resultado em troca de tiros e acabou com a morte de dois policiais e dos rebeldes, além de muitos feridos dos dois lados.

Para o governo, Pérez estava foragido desde junho do ano passado, quando foi acusado de ter atacado prédios públicos em Caracas.

Mas, em um dos vídeos publicados na conta de Pérez no Instagram, ele aparece gritando: "Nós vamos nos entregar, parem de atirar".

Na operação de segunda-feira, forças de segurança cercaram, ainda pela manhã, uma casa em um bairro pobre e montanhoso de Caracas, onde estavam os dissidentes.

Foram várias horas de tensão marcadas pela publicação de vídeos de Pérez e comentários em tempo real de ministros e outros funcionários do governo venezuelano no Twitter.

https://www.instagram.com/p/Bd-NJkGhJlY/?taken-by=equilibriogv

'Procura-se'

O rosto de Óscar Pérez em cartaz com os dizeres "Procura-se" havia sido espalhado por paredes do aeroporto de Caracas. Ele havia sido classificado como "terrorista e fascista".

O governo de Maduro o acusava de subversão armada e de perpetrar ataque terrorista, além de manter vínculos com a CIA, o serviço de inteligência dos EUA, e a embaixada americana.

Pérez foi o único a mostrar o rosto em um vídeo gravado em 27 de junho, depois de o grupo dele ter usado um helicóptero para sobrevoar a sede do Ministério do Interior e disparar 15 vezes em uma festa com 80 convidados no local. Em seguida, ele seguiu ao Tribunal Supremo de Justiça onde, além de atirar, lançou quatro granadas.

Acredita-se, contudo, que a munição era de festim, pois não houve mortos nem feridos e os danos materiais foram mínimos. Opositores de Maduro classificaram o ataque de "show".

Antes da investida contra os prédios públicos, Pérez e o grupo de policiais publicaram nas redes sociais sua " proclamação golpista".

Eles gravaram ainda um vídeo no qual Pérez convocava militares, policiais e civis a insurgir contra o governo venezuelano.

Segundo a mídia venezuelana, Pérez era um agente altamente capacitado, parte da Brigada de Ações Especiais e que já tinha sido chefe de operações da Divisão Aérea da polícia.

"Fazemos um chamado a todos os venezuelanos do oriente ao ocidente, de norte a sul (...) para reencontrarmos com nossa força armada e, juntos, recuperarmos nossa amada Venezuela", disse na "proclamação" gravada em junho do ano passado.

Nesse mesmo vídeo ele pedia a renúncia de Nicolás Maduro e de todo os ministros do governo. Comunicava ainda a realização de um ataque aéreo e terrestre com o objetivo de devolver "o poder ao povo".

Depois dessa aparição ele fugiu. Chegou a fazer uma breve aparição em público em uma manifestação contra o governo, mas se manteve ativo mesmo é nas redes sociais.

'Chumbo nos terroristas!'

Em meados de dezembro de 2017, Pérez publicou um vídeo em que era possível ver vários homens fortemente armados atando as mãos do que pareciam ser soldados aquartelados em uma unidade da Guarda Nacional. O local teria sido invadido pelos rebeldes para conseguir armas de fogo.

"Deus e Jesus Cristo nos deram a vitória na operação Gênesis, uma operação tática impecável pela qual continuamos recuperando as armas do povo e para o povo", escreveu Pérez em um texto que acompanhou os vídeos na conta dele no Instagram, que era sua rede social favorita.

A resposta de Maduro foi que "Onde quer que eles apareçam, já ordenei às Forças Armadas: chumbo nos grupos terroristas! Chumbo neles, compadre!"

Maduro pediu ainda aos militares "tolerância zero com os grupos terroristas que ameaçam com armas a paz da República".

Mais vídeos do confronto

No confronto dessa segunda-feira, Pérez teria gravado outros vídeos. Em um deles, ele aparece também com o rosto aparentemente ensanguentado, dizendo: "Venezuela, não querem que nos entregamos, literalmente nos querem assassinar, acabaram de decidir".

Não é possível, contudo, comprovar a autenticidade dos vídeos no quais aparece anunciando que vai se render.

O governo, por outro lado, divulgou numa ota afirmando que "os terroristas abriram fogo contra os funcionários e tentaram detonar um veículo carregado de explosivos, com um lamentável saldo de dois funcionários da Polícia Nacional Bolivariana mortos e cinco gravemente feridos".

O ministro da Informação não havia respondido aos questionamentos da BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, sobre o que aconteceu com Pérez.

Policial e ator

Muito antes do levante, Pérez já tinha ganhado fama na Venezuela por outra faceta: ele se aventurou no cinema.

Em 2015, foi ator de um filme chamado Muerte Suspendida ("Morte Suspensa").

O filme, que diz ser inspirado em um caso real, mostra o sequestro de um empresário e sua posterior libertação por policiais de uma tropa de elite venezuelana.

Na tela, Pérez era Efraín Robles, um policial no comando de operações aéreas da Brigada de Ações Especiais. Ele também aparece pilotando um helicóptero da polícia.

Na divulgação do filme, em 2015, ele deu entrevistas.

"Sou piloto de helicóptero, mergulhador de combate e paraquedista. Também sou pai, companheiro e ator. (...) Sou um homem que sai à rua sem saber se vai voltar para casa porque a morte é parte da evolução."