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'O homem mais odiado dos EUA': empresário que aumentou preço de remédio em 5.000% vai para a prisão

O empresário Martin Shkreli, que, em setembro havia aumentado em mais de 5.000% o preço de um remédio usado para o controle de HIV/Aids (e voltado atrás após críticas), foi preso nesta quinta-feira (17/12) em Nova York acusado de fraudes. - Craig Ruttle/AP Photo
O empresário Martin Shkreli, que, em setembro havia aumentado em mais de 5.000% o preço de um remédio usado para o controle de HIV/Aids (e voltado atrás após críticas), foi preso nesta quinta-feira (17/12) em Nova York acusado de fraudes. Imagem: Craig Ruttle/AP Photo

12/03/2018 09h08

Não é habitual ver chorar um homem classificado como "escória" e "sociopata". O americano Martin Shkreli, acusado de explorar os mais pobres, não conseguiu evitar as lágrimas quando teve de ler a sentença que o deixará sete anos na prisão.

Nascido no Brooklyn, em Nova York, Shkreli foi diretor-executivo da empresa farmacêutica Turing. Ele tem 34 anos e desde muito cedo já atuava em fundos de investimentos.

A Justiça o condenou porque, no ano passado, ele mandou informações falsas sobre contas de clientes que sofreram enormes desfalques.

No entanto, Shkreli ficou famoso por outro caso, quando ganhou a alcunha de "o homem mais odiado dos Estados Unidos".

A razão? Em 2015, depois de sua empresa conseguir registrar uma patente, ele aumentou em mais de 5.000% o preço de um remédio para pessoas com sistema imunológico frágil, como pacientes com Aids, grávidas e idosos.

'Uma pessoa irritante'

Durante o julgamento, que terminou na sexta-feira com a leitura da sentença, a defesa de Shkreli pediu uma pena de entre 12 e 18 meses de prisão. A acusação pediu mais: 15 anos.

O advogado do empresário, Benjamín Brafman, reconheceu que seu cliente poderia "ser uma pessoa irritante".

"Há momentos em que quero abraçá-lo, consolá-lo, mas também há ocasiões em que desejo bater na cara dele", disse Brafman.

A atitude de Shkreli foi muito diferente das outras vezes em que compareceu perante um juiz. "Acabei com a figura de Martin Shkreli com minhas ações vergonhosas", disse o empresário sobre sua postura, em sinal de arrependimento.

'O mais odiado dos Estados Unidos'

Entre essas "ações vergonhosas", o jovem pode ter se referido ao fato que lhe valeu o apelido de "o homem mais odiado dos Estados Unidos". Após a fundar a empresa Turing Pharmaceuticals, ele recebeu a patente do remédio Daraprim e elevou o preço do medicamento para US$ 750 (cerca de R$ 2.400), aumento em 5.000% o custo original.

O caso de Shkreli é usado como exemplo de excessos econômicos praticados empresas - sua imagem ficou conhecida como uma das faces mais cruéis do capitalismo.

Porém, o aumento de preços não é ilegal e nem mesmo incomum na indústria farmacêutica americana - por isso, o jovem não enfrentou nenhuma punição pelo escandaloso reajuste.

Na verdade, o fato que o levou aos tribunais foi uma acusação de fraudes e saques de milhões de dólares em dois fundos que ele gerenciou, o MSMB Capital e MSMB Healthcare.

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O juiz o considerou culpado por esses crimes e por inflar o valor das ações da Retrophin, outra empresa farmacêutica fundada por ele em 2011.

Antes da leitura da sentença, seu advogado afirmou que o jovem está falido e sofre de depressão e ansiedade.

Um estranho pedido sobre Hillary Clinton

Antes da condenação, enquanto esperava a sentença em liberdade, Shkreil fez um pedido nas redes sociais que acabaram o levando para a cadeia pela primeira vez.

Shkreil pediu que seus seguidores levassem para ele os cabelos da ex-candidata à Presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, em troca de U$ 5.000 (cerca de R$ 16 mil). Ela o criticou duramente durante sua campanha à Casa Branca, afirmando que ele abusou financeiramente dos mais pobres.

O juiz revogou sua liberdade e Shkreli acabou detido.

Os promotores apreenderam os ativos de mais de US $ 7,4 milhões do jovem, incluindo a cópia do álbum de um grupo americano hip-hop, o Wu-Tang Clan, pelo qual ele teria pago US$ 2 milhões (R$ 6,4 milhões) em um leilão há três anos.